- o carteiro -
Eppur si muove[antes de tudo tenho uma declaração de desinteresses a fazer: não tenho qualquer interesse em acusar quem seja do que seja.]
Howard's folly é o nome do vinho que Howard Bilton está a produzir em Estremoz, no Alentejo. Em português será qualquer coisa como "A loucura de Howard". Howard Bilton é um financeiro inglês fundador da Sovereign Art Foundation (2003) que organiza o Sovereign Art Prize em países como o Vietname ou o Cambodja. O Sovereign Art Prize tem como objectivo dar a conhecer a arte contemporânea dos países onde se realiza o prémio, mas também - e este é o ponto - ajudar crianças desfavorecidas e artistas através da venda em leilão das obras seleccionadas. Este ano o prémio realizou-se em Portugal com um júri composto por membros conhecidos do mercado de arte nacional e internacional: Philippe Vergne (director de Serralves), Joana Vasconcelos (artista plástica) e os suspeitos do costume. Nada a apontar. Fui ver os parceiros desta iniciativa: Eon Reality (empresa onde o próprio Howard Bilton tem um cargo), Howard's Folly (restaurante, bar e galeria de arte de Howard Bilton) and so on... A página da Sovereign Art Foundation tem um ar igualmente respeitável. Poderá haver muito mais a dizer sobre isto, mas tanto quanto é dado a conhecer ao leitor comum, está tudo muito bem.
Vamos então falar do prémio. Na edição portuguesa do prémio vários artistas foram convidados a apresentar obras, obras essas que seriam sujeitas a uma avaliação do júri. Foram seleccionadas 30 das quais uma seria escolhida pelo júri como a vencedora (sendo que o seu autor receberia o prémio de 25.000 euros) e outra escolhida pelo público (o artista recebe um prémio de 2.000 euros). As restantes seriam licitadas num leilão cujas vendas reverteriam para o artista e para uma ou várias associações de caridade em Portugal, com o objectivo de ajudar crianças desfavorecidas através do ensino e da prática artística. Não há qualquer informação adicional no site do Sovereign Art Prize acerca das associações a serem apoiadas e de que forma. Se virmos os projectos caritativos do prémio também não percebemos de que forma as crianças são apoiadas. Deixo este vídeo que mostra a suposta acção da Sovereign Art Foundation no Cambodja através da organização M'Lop Tapang. Convenhamos que fornecer papel e lápis de cera não é propriamente ajudar as crianças mais desfavorecidas.
O leilão levanta outra dúvida. Serão leiloadas 29 obras de arte em Agosto, depois da exposição do Sovereign Portuguese Art Prize se apresentar no Porto (Palácio das Artes), Lisboa (Sociedade Nacional de Belas-Artes) e em Estremoz (Museu Berardo). O valor destas obras, segundo o Público, oscila entre os 1.700 euros e os 24.000 euros, mas o site do prémio é bem claro: o valor mais baixo é de 1.740 euros e o mais elevado é de 15.000 euros. Foi garantido aos artistas que as obras seriam licitadas sempre a partir do seu PVP o que quer dizer que o Sovereign Portuguese Art Prize vai arrecadar, no mínimo, 188.510 euros (basta ver no site o valor de cada obra de arte e licitar, se estiverem interessados). Mas vamos supor que a disputa entre colecionadores faz com que as licitações ultrapassem o valor base e assim, que a organização do prémio arrecade 190.000 euros. Destes, metade serão para pagar aos artistas e a outra metade para apoiar as tais crianças desfavorecidas. São 95.000 euros. (parto do princípio que o apoio dos patrocínios pagam os 25.000 euros do prémio do júri e as despesas com a organização. para além disso há as doações à Sovereign Art Foundation). Eu... duvido muito que este dinheiro seja canalizado para promover de facto a melhoria de condições de vida de crianças desfavorecidas através da arte.
4 Comments:
Olá Beluga.
Só dois dos links estão a funcionar
É muito provável que já tenha lido isto
https://expresso.pt/cultura/2022-05-02-Uma-historiadora-despejada-um-diretor-em-silencio.-A-nova-realidade-do-Museu-do-Neo-Realismo-711d0f43
Já corrigi os links. Espero que tenha mais sorte do que eu: bloquearam o meu ip. Vou ler o que enviou.
Eppur si muove
Obrigada...
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