quinta-feira, dezembro 31, 2020
terça-feira, dezembro 22, 2020
para o Duarte (work in progress...)
Foi num Domingo de Verão
Que ao ver sopa de grão
O Duarte fez uma birra
E disse que lhe doía a barriga
Para ver se era verdade
Ou se era da idade
Á'vó prometeu uma surpresa
Na hora da sobremesa
O Duarte muito contente
Excitado e insistente
Perguntou logo "que é?"
"Come a sopa", disse o pai Zé
O avô disse que era gelatina
Do tamanho de uma piscina
Com sabor a nuvem branca
Foi num Domingo de Verão
Que ao ver sopa de grão
O Duarte fez uma birra
E disse que lhe doía a barriga
Para ver se era verdade
Ou se era da idade
Á'vó prometeu uma surpresa
Na hora da sobremesa
O Duarte muito contente
Excitado e insistente
Perguntou logo "que é?"
"Come a sopa", disse o pai Zé
O avô disse que era gelatina
Do tamanho de uma piscina
Com sabor a nuvem branca
...
terça-feira, dezembro 08, 2020
- o carteiro -
si tacuisses, philosophus mansisses- o carteiro -
é tão discreto que ninguém sabe onde mora"
mora numa jarra. sim senhor! tudo o que é pequenino mora numa jarra. à excepção do meu peito, que mora no soutien. bom, quem é que é pequenino? uma senhora chamada sibila de Cumas. A sibila de Cumas presidia ao oráculo de Cumas onde profetizava para o Deus Apolo. Cumas, Nápoles, era a morada da sibila que, dentro da sua gruta (gruta essa que ainda hoje existe), levava a cabo as suas artes divinatórias, sendo que previa o futuro escrevendo em folhas de carvalho. Se o vento as levava, a sibila recuperava as folhas de carvalho e as profecias, mas não pela mesma ordem. Cumas era também o nome da cidade onde Eneias desembarcou, vindo de Cartago, onde havia deixado em desespero a rainha Dido com quem se envolvera numa paixão tórrida. A importância da Sibila de Cumas prende-se com a história de Dido e Eneias - mais do que com as profecias feitas para Apolo - que inspirou alguns escritores clássicos (Virgílio, Ovídio) e outros um bocadinho menos clássicos como Isidoro de Sevilha. Na Eneida de Virgílio a Sibila de Cumas aparece como um veículo para Eneias visitar o pai no outro mundo. Ela estabelece a ponte entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos (os campos elísios, para os romanos). Já Varro e Lactâncio referem a história dos livros que a Sibila de Cumas tentou vender a Tarquínio, o Soberbo, último rei de Roma. Segundo os mesmos, a Sibila chegou a Roma (note-se que a descrevem como uma mulher velha) e tentou vender ao rei Tarquínio 9 livros das sua profecias, por um determinado preço. O monarca declinou a proposta e a sibila fez nova proposta: queimou três livros e ofereceu a Tarquínio seis pelo mesmo preço. Este voltou a recusar e troçou dela: ele não quis seis pelo preço mais alto, ia querer três pelo mesmo preço? A sibila queimou mais três livros e voltou para oferecê-los ao rei pelo preço de sempre. Tarquínio intrigado sondou os seus conselheiros que consideraram que o rei estava a subestimar alguns sinais divinos dados pela sibila e por isso aconselharam-no a comprar os três livros restantes pelo valor pedido pela mulher.
Ovídio, no livro 14 das Metamorfoses, entre o verso 100 e 152 apresenta-nos a Sibila de Cumas, também enquanto ponte entre Eneias e o seu pai. Quando a Sibila ajuda Eneias e encontrar-se com o pai no mundo dos mortos, Eneias agradece-lhe dizendo que irá erigir-lhe um templo e pagar-lhe tributo em incenso. A sibila suspira e conta-lhe a sua história (tradução muuuuuito livre): "nunca fui deusa e a minha condição de criatura mortal não está de acordo com o tributo em incenso sagrado. Mas para que a ignorância não te impeça de seguir o caminho correcto, digo-te que já tive a possibilidade de obter a vida eterna, se oferecesse a minha virgindade a Apolo. Mas como ele esperava que eu pedisse presentes em troca da virgindade disse-me 'Virgem de Cumas, escolhe o que desejas que seja teu e o teu desejo será satisfeito'. Eu agarrei num punhado de areia e disse-lhe que desejava ter tantos anos de vida quantos os grãos de areia existentes naquele punhado, esquecendo-me de dizer que desejava que aqueles anos fossem também de juventude". Apolo satisfez o seu pedido, mas a Sibila negou-se a ceder a virgindade ao Deus. Uma vez que sibila pediu os anos de vida, mas não a juventude, foi envelhecendo. Nas Metamorfoses diz a Eneias que tem já 700 anos e que ainda lhe faltam mais 300 para completar o número de grãos de areia que um dia teve na mão. Cada vez mais pequena, acabou por ser mantida numa jarra (ampulla), algo que não é Ovídio nem Virgílio que nos conta, mas Petrónio (e mais tarde T.S. Elliot que utiliza esta citação em Waste Land). No Satíricon encontramos o seguinte: "Nam Sibyllam quidem Cumis ego ipse oculis meis vidi in ampulla pendere, et cum illi pueri dicerent: Sibylla ti theleis; respondebat illa: apothanein thelo." ("Vi com os meus olhos a Sibila numa jarra, e quando as crianças lhe perguntaram 'O que desejas?', ela respondeu 'Desejo morrer'") (Petrónio, Satíricon, Capítulo 48)
Miguel Ângelo
Sibila de Cumas
1508-1512
Capela Sistina, Vaticano
quinta-feira, dezembro 03, 2020
não percebo este blogger.com: não consigo ver os posts de Novembro! desapareceu tudo o que postei nesse mês, até dia 27.
quarta-feira, dezembro 02, 2020
- original soundtrack -
Rows and flows of angel hair
And ice cream castles in the air
And feather canyons every where
Looked at clouds that way
But now they only block the sun
They rain and snow on everyone
So many things I would have done
But clouds got in my way
I've looked at clouds from both sides now
From up and down and still somehow
It's cloud's illusions I recall
I really don't know clouds at all
Moons and Junes and ferries wheels
The dizzy dancing way that you feel
As every fairy tale comes real
I've looked at love that way
But now it's just another show
And you leave 'em laughing when you go
And if you care, don't let them know
Don't give yourself away
I've looked at love from both sides now
From give and take and still somehow
It's love's illusions that I recall
I really don't know love
Really don't know love at all
Tears and fears and feeling proud
To say, "I love you" right out loud
Dreams and schemes and circus crowds
I've looked at life that way
Oh, but now old friends they're acting strange
And they shake their heads, they say I've changed
Well something's lost, but something's gained
In living every day
I've looked at life from both sides now
From win and lose and still somehow
It's life's illusions I recall
I really don't know life at all
It's life's illusions that I recall
I really don't know life
I really don't know life at all
(Both sides now, Joni Mitchell)
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
olá alminhas da encruzilhada, como estais? por aqui vai-se andando. bom, meus meninos e minhas meninas... hoje trago-vos Madame X. Sim, a Madame X do Sargent. Quer dizer, o post começa com o Sargent, mas o que interessa é o Caillebotte. Vocês podem conhecer a Madame X do retrato do Sargent. A história é simples: Madame Gautreau era uma mulher deslumbrante, americana a viver em Paris, e casada com um banqueiro francês. Vários artistas queriam pintá-la, mas o retrato que John Singer Sargent fez de Madame Gautreau é talvez o mais conhecido. Apresentou-o no Salão de 1884, não com a configuração que tem hoje (na apresentação Sargent colocou a alça do vestido de Madame Gautreau a deslizar pelo ombro), mas muito semelhante. O contraste entre o tom de pele e o negro do fundo, a sua pele branca, o seu perfil, as referências clássicas, a sugestão de um encontro sexual com aquela alça a deslizar... tudo isso fez com que o retrato fosse recebido com escândalo. Toda a gente a reconheceu, não obstante Sargent ter dado à pintura o nome "Portrait de Mme ***". Sargent tentou controlar os danos, repintando a alça do vestido no ombro e renomeando o quadro "Madame X". Mas como se sabe não se pode "desver" o que já se viu...
Caillebotte utilizou a mesma "técnica": deu ao quadro abaixo o título de "Madame X." Quem é esta Madame X? Não sabemos, tal como Sargent não queria que soubéssemos quem era a Madame X dele. Sabemos que Caillebotte fez um "três em um" ou seja, Caillebotte deu ao quadro o título de "Madame X", pois é ela que ocupa o primeiro plano (severa, nada sensual como a Madame X de Sargent), mas deu-lhe um contexto muito especial, colocando em segundo plano o retrato do marido, Monsieur R., cujo nome sabemos pois o quadro em si já existia. Caillebotte pintou um quadro do quadro. Isto tudo, dentro de outro quadro.
E é assim, alminhas da encruzilhada. ide para dentro pedir pelos vossos pecados, aqueles que não cometesteis (não sei se esta forma verbal existe...), mas podeis sempre cometer.
Gustave Caillebotte
Madame Gautreau