sexta-feira, junho 15, 2018

- original soundtrack -

de mim para mim

(...)
If you're so funny
Then why are you on your own tonight ?
And if you're so clever
Then why are you on your own tonight ?
If you're so very entertaining
Then why are you on your own tonight ?
If you're so very good-looking
Why do you sleep alone tonight ?
(...)

(I know its over, The Smiths)

quarta-feira, junho 13, 2018

não me apetece comer

segunda-feira, junho 11, 2018

- original soundtrack -

Isto, só isto: simples, belo, profundo. 

'tá difícil. cada vez mais difícil
- não vai mais vinho para essa mesa -


[numa repartição de finanças, atende-me uma senhora que parece uma coelha com a moléstia, a amachucar o seu lencinho de papel, sempre lacrimejante e de nariz a pingar. depois de explicar ao que vinha a senhora começa a frase com um:]
- não sei... sabe, estamos aqui poucos...
[e eu ouço]
- "não sei... sabe, estamos aqui poucos... o meu colega perdeu um clip e... teve de ir lá abaixo ver se achava o clip... eu fiquei aqui e tenho de contar estes clips todos para ver se encontro o clip dele... não é um clip qualquer. o dele é vermelho. Os meus são vermelhos também, mas eu tenho 48. Ele tem 47 clips, agora que perdeu o clip dele. Pode ser que esteja aqui entre os meus. Cada um de nós tem 48 clips. Para sempre... Nem sei se podia dizer isto, por causa do RGPD que protege os dados do clip! Oops!... Mas sabe como é, temos de nos ajudar... e tenho de fazer isto antes das 16:30h pois a essa hora desligo mesmo o computador e vou embora. O clip tem é de aparecer até às 16:30h... Foi por isso que não pude ver o seu email. Mas se quiser aparecer amanhã... Pode ser que entretanto o clip apareça e o meu colega esteja aqui e ajude a colocar a password... É que me magoei num agrafo..."- enquanto olha para mim por cima dos óculos.
[e esta imagem e monólogo passa na minha cabeça enquanto ela fala. Quando acaba, percebo que não prestei atenção a nada.]
- não vai mais vinho para essa mesa -

a descer a rua, mesmo a chegar à esquina, um tipo novo que estava por ali a cuspir fogo com os cães sentados à volta dele com gamelas para água e comida, pede-me uma moeda. Enquanto procuro pelo porta-moedas na carteira, ele diz-me
- nunca me cumprimentas. passas aqui todos os dias e nunca me cumprimentas. tens alguma coisa contra mim?
- .... ahhh... não... nunca te tinha visto...
- mas eu vejo-te todos os dias.
- desculpa... a partir de agora vou cumprimentar...
com ar ameaçador: - mas vê lá se dizes essas merdas e depois não cumpres!
- ... não me esquecerei...
aproximando-se mais: - e a moeda?

- o carteiro -















Van Gogh
Fifteen Sunflowers in a Vase
1888
National Gallery, Londres

quando a minha idade era outra que não esta (Eu era feliz e ninguém estava morto), as idas ao campo, a casa dos avós eram uma aprendizagem: de factos, e mitos. Aprendia-se como se fazia farinha, o quanto custava ordenhar uma vaca, a quantidade de lenha necessária para uma refeição... mas havia igualmente a ficção.

"vai buscar água para acender o lume"- uma expressão que ouvia a minha avó dizer várias vezes à minha tia e que me parecia uma antítese. e a minha tia lá ia. Havia um poço, é verdade, mas até o poço chegar a água para cozinhar, para lavar alimentos e pessoas era água do rio que a minha tia trazia numa espécie de ânfora de plástico, em cima da cabeça, sobre um pano enrodilhado que lhe dava para coroa, mas também para abanico.

"bicarbonato de sódio" - um dia, abeirei-me da panela em tripé que borbulhava nas brasas da cozinha velha (sim, porque os meus avós viviam claudicantes entre a vergonha de mostrarem alguma prosperidade fruto do trabalho no campo, da venda de pão caseiro porta-a-porta e da emigração e o orgulho na sua pobreza honesta, que eles acentuavam saindo à rua com os piores andrajos. tinham por isso uma cozinha velha e uma cozinha nova que nunca utilizavam). mas lá estava junto à panela quando vi a caldeirada de natal a ser cozinhada e vi igualmente a minha avó a deitar para a panela um pó branco. "estou tramada", pensei eu. "queres ver que a minha avó é bruxa e isto é uma poção mágica?". mas não... infelizmente a resposta foi mais simples, mas nem por isso menos surpreendente: "bicarbonato de sódio", respondeu a minha avó à pergunta: "o que é isso?". "para quê?", voltei à carga. "para as pencas ficarem mais verdinhas", respondeu-me ela. Eu ri-me fortemente. Para mim bicarbonato de sódio era o que a Vera usava para lavar os dentes. Para estes ficarem mais... branquinhos. A minha avó levou a mal e passou o Natal amuada.

canja de galinha e porco - nunca comi, em casa da minha avó, outra coisa que não fosse caldeirada de Natal, no Natal; e rojões de porco aquando da matança. curiosamente o almoço da matança era sempre precedido por uma canja de galinha o que me parecia uma estranha mistura. Os rojões eram acompanhados por arroz de fressura (não queiram saber o que era), sangue de porco e alface. Bebia-se gasosa Uprel ou vinho caseiro. Terminava-se com pão-de-ló ou rolo de chocolate. dormia-se até casa na parte de trás de uma Morris Marina branca.

deus te acrescente - a minha avó fazia pão. dobrada sobre si mesma e sobre a masseira, batia no pão e deixava a massa descansar junto ao fogão e aos gatos de olhos melados, com um fino pano branco por cima. às vezes dava-nos um bocadinho de massa crua. aquilo era bom. ou pelo menos, diferente. colava-se ao céu da boca como a hóstia, mas sem a obrigatoriedade de assistir a uma missa inteira. Antes de meter o pão no forno - pão que ela moldava redondo com as mãos e a parte interior dos antebraços - desenhava-lhe uma cruz e dizia "São Mamede te levede, São Vicente te acrescente, São João te faça pão e Deus te deite a sua divina bênção.". Depois de tirar o pão do forno a lenha, e com as mãos insensíveis ao frio e ao calor, calejadas e grossas, partia um pouco, dava-nos não sem antes vaticinar: "pão quente, muito na mão, pouco no ventre!" A minha avó tinha uma série de dizeres que provavam a sua superstição: não se podia abrir um guarda-chuva dentro de casa, nem cantar à noite, nem mesmo partir uma garrafa de azeite. Dava azar. No caso da garrafa de azeite compreendo o azar que dava: limpar aquela porcaria era um grande azar... Havia outros rituais proibidos como deitar fora a água do banho já depois das vésperas. Era deixar a água suja dentro da bacia (em casa da minha avó não havia casa de banho. Tomava-se banho completo uma vez por semana, na adega, dentro de uma bacia de plástico. nos restantes dias, lavava-se as partes pudibundas) e atirá-la para junto da casota do King (cão arraçado) na manhã seguinte. Também não se podia beber água durante a noite, pois a água, tal como as pessoas, também dormia. Beber água durante podia matar. Não beber... também não lá muito boa ideia...
- não vai mais vinho para essa mesa -
































sexta-feira, junho 08, 2018

trabalhar ao almoço
trabalhar ao jantar
trabalhar nos feriados.

mais horas houvesse,
mais trabalhava

segunda-feira, junho 04, 2018

- original soundtrack -




sábado, junho 02, 2018


- não vai mais vinho para essa mesa -