sábado, dezembro 31, 2016
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
antes e depois ou como sou "muita" burra, "muita" asna! como é que nunca tinha reparado nisto, como? anos e anos a ver livros de arte, a ir a museus a ler coisas interessantes e só há uns dias, na cama, a ver um livro e à espera do sono é que descobri isto:
Jan van Eyck
The Virgin of Chancellor Rolin
1436
Musée du Louvre, Paris
The Virgin of Chancellor Rolin
1436
Musée du Louvre, Paris
Rogier van der Weyden
St Luke Drawing a Portrait of the Madonna
1450
Museum of Fine Arts, Boston
St Luke Drawing a Portrait of the Madonna
1450
Museum of Fine Arts, Boston
Tomem o quadro do van der Weyden e apliquem-lhe uma rotação sobre um eixo vertical:
Digam lá se não fica parecido com o quadro do Van Eyck. O quadro do Van Eyck foi a fonte para o quadro do van der Weyden, disso não há dúvidas, embora se trate de temáticas diferentes. E isso agrada-me: uma coisa era usar o mesmo modelo para a mesma temática; outra diferente é usar o mesmo modelo para um tema de natureza diferente. Enquanto o Van Eyck coloca a Virgem com o menino ao colo, frente ao Chanceler Rollin (que encomendou a obra), numa loggia ao estilo italiano, aberta para um jardim através de colunata e daí para uma paisagem flamenga na qual se destaca o casario à direita, o rio em frente e as duas personagens de costas, van der Weyden elimina a coroação da Virgem, coloca-a a amamentar o Menino, troca a arcada pelo trílito e substitui o Chanceler Rollin por São Lucas, o retratista da Virgem e protector dos artistas. Na minha muito modesta opinião, o traço do Van Eyck tem uma maturidade e delicadeza que o de van der Weyden não tem embora a pintura de van der Weyden seja posterior à de Van Eyck. Li algures que van der Weyden articula melhor que van Eyck, os planos, mas veja-se o rosto da Virgem ou mesmo o Menino: em Van Eyck ele tem naturalidade, em van der Weyden está hirto, parece um boneco.
Convém lembrar que tanto uma como outra pintura se enquadram numa nova forma de ver a relação do crente com Cristo, denominada devotio moderna e que defendia que a aproximação entre o crente e o divino se devia fazer através da representação desse divino, no ambiente do dia-a-dia. Daí a pormenorização, os traços identificadores das personagens não divinas, algo que é apanágio da pintura flamenga deste período, por oposição aos traços estereotipados, tipificados, da pintura italiana da mesma época. Van Eyck trabalha tudo: brocados, capitéis, vitrais, jóias, ladrilhos... Van der weyden fica-se pelo baldaquino do lado da Virgem e os ladrilhos. Tanto o pequeno jardim que separa a loggia da varanda, como a paisagem para além desta, apresentam-se mais áridos, menos fervilhantes e vívidos, o que é uma pena, mas se compreende. O quadro pintado por van Eyck foi encomendado por um homem poderoso que queria com esta encomenda mostrar o seu poder, mas também "assegurar" o seu lugar junto do Altíssimo aquando do Juízo Final. É um quadro que serve o seu marketing pessoal. Já o quadro de van der Weyden, mais modesto, não tem a quem agradar a não ser ao crente. A mensagem que transmite é religiosa e não política e por isso não necessita de se socorrer dos artifícios da política.
Beijos e portem-se bem.
- não vai mais vinho para essa mesa -
olá Pai Natal. Queria agradecer-te pel' "O Mundo de Ontem" do Stefan Zweig. Usaste o cartão? Devias ter usado: acumula pontos a descontar numa próxima aquisição...
- o carteiro -
Diz-se que um escritor escreve sempre o mesmo livro; ou seja, o seu universo, por maior que seja, engloba um número limitado de assuntos acerca dos quais ele tem interesse em escrever. Acho que se passa o mesmo com os realizadores. Em conversa com um amigo falou-se do último filme do Woody Allen. "Não gostei", disse eu. "Eu gostei", disse ele. "Achei que era uma colagem de vários elementos de outros filmes dele", disse eu. "Não se pode esperar que aos 80 anos e a fazer um filme por ano o homem continue tão fresco como no início. Além disso, gostei da mensagem do filme. Fala sobre as coisas que mudam. Tudo muda...", disse ele. Não respondi, mas na minha cabeça o filme era exactamente sobre o oposto, sobre aquilo que nunca muda, sobre os sentimentos que temos e que, por mais mundo que percorramos, nos acompanham. Há até uma frase que diz que podemos mudar tudo o que quisermos à nossa volta, mas nem mesmo isso vai mudar o que quer que seja, dentro de nós. Não me lembro bem... tenho isso anotado num livro... tenho de ver.*
Obviamente nada é para sempre, nem imutável, mas nos filmes do Woody Allen, há coisas que parecem denominadores comuns, coisas que nunca mudam. Ora vamos lá:
passeio de charrete em Nova Iorque:
Woody Allen
Manhattan
1979
Woody Allen
Café Society
2016
Reflexões sobre o Judaísmo
Woody Allen
Hannah and her sisters
1986
Woody Allen
Hannah and her sisters
1986
Woody Allen
Café Society
2016
Final do Ano enquanto cena final do filme (o final de ano deixa tudo em aberto. ou "em fechado", dependendo do ponto de vista)
Woody Allen
Os dias da Rádio
1987
Woody Allen
Café Society
2016
E "assim acontece". Um bom ano!
*Não concordo, mas aqui fica a tal citação: "Pode o deus que em mim vive mover profundamente todo o meu ser; mas nem mesmo ele, que comanda todas as minhas forças, pode mudar o que quer que seja à minha volta". (Nerval - Fausto/Goethe. Editorial Estampa)
- o carteiro -
o próximo ano anuncia-se bonzinho para as exposições de arte por esse mundo fora. não será uma maravilha: mesmo as exposições que anunciam os grandes nomes, parecem-me feitas com a "prata da casa". É a crise! Ficam as sugestões (que valem o que valem, ou seja, nada):
- Rineke Dijkstra na National Gallery of Art (EUA) de 10 de Dezembro de 2016 a 16 de Julho de 2017 [link]
- Robert Doisneau no Martin-Gropius-Bauem Berlim, de 09 de Dezembro de 2016 a 05 de Março de 2017 [link]
- Basquiat ("The Unknown Notebooks") no Clevenland Museum (EUA), de 22 de Janeiro a 23 de Abril de 2017 [link]
- "A Revolutionary Impulse: The Rise of the Russian Avant-Garde" no MoMA (EUA), de 03 de Dezembro de 2016 a 12 de Março de 2017 [link]
- "Henri Matisse, le laboratoire intérieur" no Musée des Beaux-Arts, Lyon de 02 de Dezembro de 2016 a 06 de Março de 2017 [link]
- Robert Rauschenberg na Tate Modern (Londres), de 01 de Dezembro de 2016 a 02 de Abril de 2017 [link]
- Robert Rauschenberg no MoMA (EUA) de 21 de Maio a 17 de Setembro de 2017 [link]
- Chagall ("Color and Music") no Musée des Beaux-Arts de Montréal (Canadá), de 28 de Janeiro a 11 de Junho de 2017 [link]
- Cy Twombly no Centro Pompidou (Paris), de 30 de Novembro de 2016 a 24 de Abril de 2017 [link]
- Frédéric Bazille ("(1841-1870). The Youth of Impressionism.") no Musée d'Orsay (Paris) de 15 de Novembro de 2016 a 05 de Março de 2017 [link]
- Alexei Jawlensky na Neue Galerie (Nova Iorque), de 16 de Fevereiro a 29 de Maio de 2017 [link]
- Max Beckmann no Met (Nova Iorque) de 19 de Outubro de 2016 a 20 de Fevereiro de 2017 [link]
- Yves Klein na Tate Liverpool de 21 de Outubro de 2016 a 05 de Março de 2017
- "L'esprit du Bauhaus" no Musée des Arts décoratifs (Paris), de 19 de Outubro a 26 de Fevereiro [link]
- Carl Andre no Musée d'Art Moderne (Paris), de 18 de Outubro de 2016 a 12 de Fevereiro de 2017 [link]
- "The Figurative Pollock" no Kunstmuseum Basel (Suíça), de 15 de Outubro de 2016 a 26 de Fevereiro de 2017 [link]
- Francis Bacon ("Invisible Rooms") na Staatsgalerie Stuttgart (Alemanha), de 07 de Outubro de 2016 a 01 de Agosto de 2017 [link]
- David Hockney na Tate Britain de 09 de Fevereiro a 29 de Maio de 2017 [link]
- Anne Teresa De Keersmaeker ("Work/Travail/Arbeid") no MoMA, de 29 de Março a 02 de Abril de 2017 [link]
- "Rodin, The Centenary Exhibition" no Grand Palais (Paris), de 22 de Março a 31 de Julho de 2017 [link]
- Wolfgang Tillmans na Tate Modern (Londres), de 15 de Fevereiro a 11 de Junho de 2017 [link]
- Grayson Perry na Serpentine Gallery de 08 de Junho a 07 de Setembro de 2017
- Rachel Whiteread na Tate Britain de 12 de Setembro de 2017 a 04 de Fevereiro de 2018
- Basquiat na Barbican Gallery (Londres) de 23 de Setembro de 2017 a 28 de Janeiro de 2018
- Jasper Johns na Royal Academy, de 29 de Setembro a 10 de Dezembro de 2018
- "Reflections: Van Eyck and the Pre-Raphaelites" na National Gallery de 04 de Outubro de 2017 a 02 de Abril de 2018
- "Cézanne Portraits" na National Portrait Gallery (Londres), de 26 de Outubro de 2017 a 28 de Fevereiro de 2018
- Modigliani na Tate Modern, de 23 de Novembro de 2017 a 02 de Abril de 2018 [link]
- Alberto Giacometti na Tate Modern de 10 de Maio a 10 de Setembro de 2017 [link]
quinta-feira, dezembro 29, 2016
terça-feira, dezembro 27, 2016
- o carteiro -
Van Gogh
Fifteen Sunflowers in a Vase
1888
National Gallery, Londres
uma amiga explicava-me a saída com um tipo quando disse: "entrei no carro do X e soube de imediato que não queria sair com ele: o tipo ouvia George Michael." Eu calei-me, mas não me devia ter calado, porque, tenho de ser sincera, eu gostava do George Michael. assim como nunca reneguei a minha paixão pelas músicas da Madonna, nem mesmo naquela fase do Erótica, dos soutiens em cone e das mamocas à mostra, não devia ter renegado o meu apreço pelo George Michael. É que de facto, devo-lhe muito.
A minha primeira vez com o George Michael foi através do caderno da escola da Bárbara. Era um caderno para treinarmos a caligrafia e na capa (ou no verso, não sei bem. agora que penso nisso, talvez fosse no verso) tinha uma fotografia dele no tempo dos Wham!. Eu e a Bábara - que éramos companheiras de carteira - lambuzávamos a fotografia com beijos de tulicreme e leite com chocolate, daquele que distribuíam à hora do lanche. Nessa altura já ouvíamos duas coisas dos Wham!: o Wake Me Up Before You Go-Go (com o George Michael em calções de lycra e meia branca e que depois teve uma versão dos Ministars ou dos OndaChoc) cujo refrão era:
Quero dançar na discoteca
Como eu danço no meu quarto
Quero curtir na discoteca
Cá em casa já estou farto
Tem que se dizer que nessa altura eu achava que dançar na discoteca devia ser o máximo. Agora abomino discotecas e a música sem letra (sem letra, só clássica e pouco mais) e os seus nomes como Discoteca Kafka, Zigurate Disco, YDisco. Tem mesmo ar de local onde os wanna-be's vão fazer presença para ganharem tostão para as plásticas.
A outra música dos Wham! era o Careless Whisper que eu e a Bárbara ouvíamos no quarto dela enquanto sonhávamos com namorados, beijinhos nas bochechas e mãos dadas.
Devo ao George Michael o meu primeiro slow, dançado na festa de anos da Bárbara, no jardim de casa dela, com o Miguel que tinha uma perna com parafusos e não a dobrava. Estávamos ali os dois abraçados, sem olhar um para o outro, a baloiçar como copos teimosos. Era o One More Try. Não fazíamos ideia do que a música queria dizer e que era mais apropriada para chorar males del corázon do que para o engate. Mas o que a gente dançava ao som daquilo...
As músicas do George Michael não acompanharam tanto a minha adolescência quanto a minha infância, mas lembro-me de gravar em VHS os dois vídeos dele de que mais gostava: Freedom e o Too Funky. Aquilo era sofisticado, tinha bom som, mulheres bonitas, libertação sexual (já desde o Father Figure) com traços de sado-maso, fantasias sexuais, mas sempre com bom gosto... E vinha na senda de uma aproximação da música à moda, ou vice-versa, notória no uso de modelos, nas colecções de Outono de 1991 e 1992 da casa Versace, da ligação INXS - Helena Christensen, Axel Rose - Stephanie Seymour... Nessa cassete VHS havia também Cream e Get Off do Prince que eu adorava, Something Got me Started dos Simply Red e Suicide Blond dos INXS... Só coisas boas. Não me levem a mal: tenho uma costela kinky, pirosa, confesso. Gosto de ovos de Fabergé, famílias reais em decadência, salas âmbar. E gostava muito destas coisas todas que embora pops e mainstream, me faziam dançar. E ainda hoje fazem. Quando chego a casa, coloco o Freedom e ouço essa música enquanto me preparo para o banho, onde acabo por dançar e cantar a mesma.
E mesmo quando já se achava que ele não conseguia fazer mais nada, que estava perdido após o escândalo sexual, o homem levantou-se com um vídeo provocador que fala tanto de sexo em locais públicos como dos voyeurs e falsos moralistas, isto sem deixar de piscar o olho ao YMCA, hino gay dos Village People.
Posso arrepender-me deste post (nem é apanágio do belogue fazer elogios fúnebres e além disso é fácil sublimar alguém depois da morte), de ter revelado o meu lado mais piroso, mas as alegrias, danças e lip-sync que estas músicas me deram, merecem que eu saia do armário.
E mesmo quando já se achava que ele não conseguia fazer mais nada, que estava perdido após o escândalo sexual, o homem levantou-se com um vídeo provocador que fala tanto de sexo em locais públicos como dos voyeurs e falsos moralistas, isto sem deixar de piscar o olho ao YMCA, hino gay dos Village People.
Posso arrepender-me deste post (nem é apanágio do belogue fazer elogios fúnebres e além disso é fácil sublimar alguém depois da morte), de ter revelado o meu lado mais piroso, mas as alegrias, danças e lip-sync que estas músicas me deram, merecem que eu saia do armário.
segunda-feira, dezembro 26, 2016
- não vai mais vinho para essa mesa -
psiquiatra - mas a outra pessoa pode estar a pensar exactamente a mesma a coisa, do outro lado...
eu - isso não existe. isso existe nos maus filmes e tanto eu como o senhor gostamos de bom cinema.
psiquiatra - mas o bom cinema é a excepção e vida não é feita das excepções, é feita das regras.
eu - vou-lhe dar outra analogia.
psiquiatra - sim...
eu - imagine uma marca de calças de ganga. imagine a Salsa.
psiquiatra - tinha de começar a falar em comida...
eu - já sabe que eu puxo sempre a brasa à minha sardinha.
psiquiatra - outra vez!
eu - raios! apanha-me sempre!
psiquiatra - ahahahahahahah... mas conte lá. estou curioso.
eu - imagine a Salsa. imagine que numa colecção a Salsa cria umas calças e prevê que aquele modelo e número seja comprado por mil mulheres. no fim percebem que as calças não ficam bem a 250 mulheres. de quem é a culpa?
psiquiatra - das calças!
eu - não! das mulheres! isto é o ocidente: as maiorias ganham. ainda que por vezes as maiorias sejam idiotas...
psiquiatra - mas as pessoas não são calças.
eu - pois não são calças, mas não pode negar que se aquelas 250 mulheres não vestem as calças é porque há alguma coisa nelas - errado ou não. não estou a dizer que é errado - que faz com que elas não consigam vestir aquelas calças. por isso eu vou pela maioria e se com a maioria correu tudo bem e comigo não, então eu sou como uma dessas 250 mulheres. tenho portanto (tenho ou fiz, ou disse...) alguma coisa que não me permite mais.
psiquiatra - ... vamos voltar ao cinema...
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
"antes e depois" ou como "nunca pensei que o Manet fosse a Margarida Rebelo Pinto da pintura". bem, esta frase é um pouco sensacionalista e foge à verdade. Não se pode comparar um artista como o Manet com uma wanna-be como a Margarida Rebelo Pinto. Mas há uns tempos começou a circular na blogosfera uma notícia acerca do auto-plágio da Margarida Rebelo Pinto. Ao que parece, a Guida tinha repetido ideias ou frases em diferentes livros da sua autoria. O Manet levou a gracinha mais longe: introduziu a personagem de um dos seus quadros, numa outra obra, mudando o contexto. No primeiro caso, temos o homem de chapéu alto e capa castanha, sentado e com uma garrafa vazia aos seus pés. O título: o bebedor de absinto. Uns anos mais tarde, Manet pega neste homem, retira-lhe a garrafa que lhe confere individualidade e coloca-o, como anónimo, no quadro "O velho músico" que é também um trabalho de referências intrincado. Veja-se o caso das crianças à esquerda, muito semelhantes ao grupo de crianças, também à esquerda da composição nos quadros de Le Nain: La Halte du Cavalier e La Charrette (neste caso as crianças estão em cima, à direita). E esta paráfrase, este uso dos grandes mestres (Le Nain talvez não fosse um grande mestre, mas Rubens era e Manet parafraseou-o, bem como parafraseou, para este quadro, Velazquez), não é feito como se Manet procurasse neles inspiração. Ele percebe a importância dos grandes mestres, mas o que ele diz é que é como eles. Eles servem, com as suas obras, propósitos muito específicos do pintor francês, mas não são essenciais, nem as obras sugadas, já que em alguns casos Manet é mais literal do que em outros. O Déjeuner sur L'herbe, por exemplo: tem Ticiano, tem Giorgione e tem Marcantoni Raimondi. À excepção deste último, quase não notamos os outros dois: a paráfrase foi pensada; muito bem pensada. Manet chegou mesmo a brincar com estas referências aos grandes mestres dizendo, em relação ao bebedor de absinto, que havia tentado fazer um tipo parisiense, desta representação de Velazquez, mas as pessoas aparentemente não perceberam. Remata dizendo "talvez fosse melhor ter feito um tipo espanhol". Manet reconhece que o "tipo espanhol" já existe e esse tipo não é um bebedor de absinto. Será um bebedor de outra coisa, mas não de absinto. Ou seja: os grandes mestres existem, têm o seu lugar e o seu universo, por melhor que seja, não deve ser aplicado sem critério à pintura moderna.
Edouard Manet
The absinthe drinker
1858-1859
Edouard Manet
The old musician
1862
National Gallery of Art, Washington
Edouard Manet
The old musician
1862
National Gallery of Art, Washington
sexta-feira, dezembro 23, 2016
Pessoas que falam por acrónimos... Passo-me com isso. Principalmente aqueles novos
como LOL (Laughing Out Loud - Rir alto,), BFF (Best Friend Forever - Melhor amigo/a para sempre), WTF (What The
Fuck - Mas que m****), YOLO (You Only Live Once - Só vives uma vez), OMG (Oh My God - Oh Meu Deus). Para mim só fazem sentido assim:
Edvard Munch
The Scream (pormenor)
1893
Fra Angelico
Noli Me Tangere (Pormenor)
1440-42
Convento di San Marco, Florença
Rembrandt
The Raising of Lazarus (pormenor)
c. 1630
Los Angeles County Museum of Art, Los Angeles
quarta-feira, dezembro 21, 2016
- o carteiro -
resoluções de ano novo (praticamente as mesmas do ano passado, o que é bem paradigmático...)
1 - link
2 - dizer mais vezes "não".
3 - ler mais, ir mais vezes ao cinema e ao teatro, escrever mais.
segunda-feira, dezembro 19, 2016
- o carteiro -
quando o ano acaba as pessoas vestem-se de festa e celebram a entrada no novo ano. nunca percebi bem o que celebravam uma vez que o ano, estando a começar, é um incógnita. de qualquer forma é bom saber que há gente optimista. para mim a passagem de ano é "um dia a seguir a outro com uma noite pelo meio". durante o ano há dias - e noites, principalmente - que me deixam mais recordações que a da passagem de ano. claro que entre isto há que distinguir o "fim de ano" do "ano novo": quem celebra o primeiro é porque pensa que o ano foi tão mau que o melhor é mesmo terminar; quem prefere o segundo está focado no que ainda vem e por isso, optimista. ou pelo menos, expectante. Uma das coisas que as pessoas pedem no início do ano - como se a passagem do tempo fosse complacente para com os nossos desejos ou sensível a alterações de calendário na secretaria (para os muçulmanos ainda estamos em 1438) - é amor. Não me vou pronunciar sobre isso. A outra é sorte, dinheiro e muitas vezes por último vem a saúde. O que é uma pena... Este ano que passou, em que a saúde não abundou para estes lados, não podia terminar sem um post a ela dedicado. Nunca pensei dizer isto, mas sem saúde, nada feito. eu que a tenho para dar e vender (prefiro dar que vender) comecei a dar-me conta que muitos dos que me rodeavam, não a têm. Poderemos viver mais anos, mas nunca viveremos para sempre - isto é como os recordes no desporto: tem de existir um limite... - e quase de certeza morreremos com um problema de saúde. Poderemos viver melhor e estamos a caminhar para que a vida seja prolongada em qualidade. Como Ícaro, queremos que o nosso corpo finito viva infintamente, o que não é possível. Acreditamos ainda, e devido à herança e educação judaico-cristã, que Deus manifesta-se nos fenómenos do corpo: ele dá vida, ele tira; ele cura os doentes, ressuscita Lázaro, faz andar os paralíticos. Se Deus tem a possibilidade de contrariar a lei da Natureza quer dizer que só sofre dos males do corpo quem não vive em comunhão com Deus e que Ele faz disso um castigo. Imagino há muitos séculos atrás as doenças que por aí havia, algumas delas perfeitamente evitáveis. Nesse mundo sem higiene, salobro, uma ferida podia transformar-se na senhora morte. Doenças como a lepra, o escorbuto, a peste bubónica... eram de tal forma fatais que havia registo delas na arte (que sim, tinha um lado prático).
A lepra, ou Hanseníase, por exemplo, era uma das doenças que mais se associava com pecado, com a condenação divina exactamente por causa das deformações que provocava. Desfigurava de tal forma quem dela padecia que de facto só podia ser um castigo divino por algum pecado cometido pelo doente ou pelos que lhe deram vida. Ficou retratada em algumas obras de arte (não muitas) e sempre da mesma forma: como se o doente tivesse sarampo. O primeiro deverá ter sido Job cuja doença Deus permitiu através de Satanás. Em algumas representações Job encontra-se a raspar as feridas e Satanás a respirara sobre ele, deixando assim a perceber a importância da teoria miasmática que defendia que os maus ares eram responsáveis pela propagação da doença e que vinha directamente das fontes médicas do Cristianismo primitivo: Hipócrates e Galeno. Este tipo de medicina era baseada na teoria dos humores do corpo humano, dos elementos, bem como dos mapas astrológicos. As doenças, esta e outras, eram curadas com ervas, cuja adequação dependia também dos elementos da própria; ou seja, era tudo pouco científico. Um dos episódios mais conhecidos é o do Imperador Constantino que padecia desta doença. Consultando os sábios, este disseram-lhe que o remédio estaria no banho em sangue de três mil inocentes, mil crianças. O Imperador não aceitou esse tipo de cura e acabou por ser curado por São Silvestre que lhe apareceu em sonhos. Esta terá sido uma das razões para a conversão de Constantino ao Cristianismo. A outra, digo eu, deverá ter sido os benefícios políticos que isso lhe trazia. De qualquer forma, com o avançar da Idade Média e a noção de caritas cristã, a doença - fosse ela a lepra ou não - passou a ser mais alargada e estabeleceu-se a separação entre doença e pobreza. Surgem os primeiros hospitais, os banhos tornam-se mais comuns. E com o avançar do tempo e as Descobertas, a doença também se expandiu tendo sido por isso criados milhares de leprosários.
Gregório, o Grande
Morals on the Book of Job
Século XII
Gospel Book of Otto III
Constantin Prepares to Kill the Innocents
1246
Santi Quattro Coronati, Chapel of Saint Sylvester
Gospel Book of Otto III
Constantin Prepares to Kill the Innocents (pormenor)
1246
Santi Quattro Coronati, Chapel of Saint Sylvester
Matthias Grunewald
The Temptation of Saint Anthony
1512-1516
Musée d'Underlinden, Colmar
Matthias Grunewald
The Temptation of Saint Anthony (pormenor)
1512-1516
Musée d'Underlinden, Colmar
A peste bubónica foi talvez a doença mais representada na arte, uma vez que teve efeitos nefastos na Europa matando, em três anos, cerca de 43 milhões de pessoas (mais de 25% da população da Europa) e diminuindo a idade média dos 35 para os 20 anos. O tempo em que falo é o dos meados do século XIV, quando a Igreja já estava mais próxima dos doentes e prestava auxílio mesmo em caso de doenças contagiosas. Estima-se que nessa altura a taxa de mortalidade entre padres tenha atingido os 90%. O termo Peste era aplicado genericamente, a este tipo de doenças que matava um grande número de pessoas em pouco tempo, e que parecia difícil de controlar. Acreditava-se que era transmitida pelo ar, mas a verdade é que não era uma doença oriunda da Europa - antes da China - e transmitia-se através de roedores e moscas. Como a China era um país muito movimentado, já com trocas comerciais com a Itália, foi uma questão de tempo (pouco tempo) até a doença chegar de barco aos portos da Sicília e daí para o resto da Europa. Chegou mesmo a Inglaterra. Chama-se a Peste Negra, devido aos bubões negros deixados no corpo dos doentes, como o prova a imagem abaixo. No Inverno a doença parecia fazer menos vítimas, uma vez que havia menos moscas, mas na Primavera começava tudo outra vez e assim foi durante pelo menos os três anos entre 1347 e 1350. Só por volta de 1600 a doença foi dirimida da Europa. Mais uma vez a Medicina falhou, o que era natural. Em 1348 o Rei Filipe VI de França ordenou o estudo para as causas da Peste: acreditava-se que sabendo as causas seria mais fácil eliminar a doença. Mas as causas eram muito... etéreas: um equinócio, um alinhamento de Saturno, Júpiter e Marte em Aquário e um eclipse lunar!
Tintoretto
St Roch in the Hospital
1549
San Rocco, Veneza
Tintoretto
St Roch in the Hospital (pormenor)
1549
San Rocco, Veneza
A sífilis, doença venérea, era também conhecida por "morbus gallicus" ou "doença francesa", já que o primeiro surto na
Europa, mais precisamente em Itália, surge durante a invasão francesa do final
do século XV. Como se acreditava que tinham sido os franceses a espalhar a doença, deu-se o nome de "morbus gallicus". Mais tarde um físico e astrónomo chamado Girolamo Fracastoro que escreveu um poema épico sobre um rapaz chamado Syphillus. Esta doença já existia na América antes de Colombo lá chegar. Mas também não se pode dizer que foi o intercâmbio com a América que trouxe a doença para a Europa já que ela pode ter sempre existido, mas ter experienciado uma mutação que a tornou activa. No Renascimento, com a difusão da imprensa, havia uma consciencialização para a doença, ainda que do ponto de vista moral. Veja-se a gravura de Sebastien Brandt " Saint Mary and the Holy Child punishing the sufferers of syphilis" que ilustrava um tratado de Joseph Grunpeck sobre sífilis, astronomia e, pelos vistos, religião. No século XVII a doença começou a ser vista não só como um mal contagioso, mas também como uma fatalidade, como um fenómeno social. Também passou de um problema epidémico para um problema endémico. Sendo uma doença venérea, foi alvo do interesse dos artistas pois servia vários propósitos: podia ser um tema moralizante, podia ser jocoso para com os hábitos privados, podia ser usado para fazer crítica política. No entanto, este interesse é limitado pelas ideias ainda em vigor e que defendiam que a mulher era a principal interveniente na sedução, como se por existir já estivesse a pecar. Faz-me lembrar que aquele que corrompe é tão culpado como aquele que é corrompido. Mas,... quem sou eu... No século XVIII as coisas mudam um pouco, com artistas como Hogarth a expôr, através das caricaturas, uma sociedade sem moral ou valores, onde dinheiro e sexo vinham antes de amor. Hogarth coloca as "culpas" onde elas devem estar: nos dois lados. Através de quadros aparentemente inocentes, Hogarth conta a história de casais que se traem, que se infectam, que vivem sem decoro, contenção ou moral. Mas este aparente avanço, não surte o efeito desejado, já que o século XIX viu surgir novamente uma certa culpabilização da mulher no aparecimento e propagação da doença. Os cabarés, a vida boémia de bairro... tudo isso potenciou o aparecimento de mais prostíbulos, levou mais mulheres à prostituição e por isso, o número de pessoas contagiadas aumentou. Identificar a sífilis nos quadros é fácil: procurem pintas negras.
Sebastien Brandt
Saint Mary and the Holy Child punishing the sufferers of syphilis
1496
William Hogarth
Marriage à la Mode
1743
National Gallery, Londres
William Hogarth
Marriage à la Mode (pormenor)
1743
National Gallery, Londres
William Hogarth
The Orgy
c. 1735
Sir John Soane's Museum, Londres
William Hogarth
The Orgy (pormenor)
c. 1735
Sir John Soane's Museum, Londres
Varíola
No que diz respeito à varíola, vocês vão dizer que nem sequer é perigoso, que já ninguém tem... Agora já ninguém tem, mas houve uma altura em que qualquer pessoa podia ter e morrer de varíola. Não era necessário ser rico para escapar. Veja-se o retrato de Ferdinando II, um retrato raro não só por se tratar do retrato de um homem doente, mas também por esse homem ser membro da família Medicis e por fim, por estar quase desfigurado. É de facto um achado:
Justus Sustermans
Portrait of Ferdinando II de' Medici
1626
Galleria Palatina (Palazzo Pitti), Florença
Há evidências da existência de varíola no Antigo Egipto: marcas em múmias, como a do faraó Ramses V, mostraram ser semelhantes às da varíola. A doença foi contraída por mercadores que depois acabaram por espalhá-la pelos locais por onde passavam, principalmente a zona do Mediterrâneo e a China. Na Europa chegou ao Império Romano matando cerca de 7 milhões de pessoas, o que era muito para a época (cerca de 180 A.C.). [Todos os dias havia cerca de 10.000 pessoas contaminadas!] Pode mesmo dizer-se que o Império deve parte da sua queda à varíola: o exército sucumbiu à doença e o Imperador Marco Aurélio (também ele uma vítima da varíola) decretou o recurso a mercenários que exploraram Roma até ao tutano e levaram à ruína do Império. Mais tarde, e na Europa, a varíola alterou o curso das linhas de sucessão: o rei Luís I de Espanha, o imperador austríaco José I, o Czar Pedro II da Rússia, a rainha Ulrika Eleanora da Suécia, o príncipe William, herdeiro dos Stuart... enfim... todos eles mortos devido à varíola. Até a Pocahontas, vejam lá! A varíola foi levada depois para o Novo Mundo, graças à acção dos navegadores, mas foi no outro lado do Oceano que a grande transformação se deu. Lembram-se de Mitríades, o rei que tomam pequenas doses de veneno para ficar imune ao mesmo. Pois é, foi na Ásia que essa técnica foi adaptada à varíola: os doentes eram inoculados com o vírus e acabavam por contrair uma variação mais suave da doença. Não me perguntem muito bem como era isto possível. Li sobre pústulas e coisas assim, mas mesmo assim não percebi. Sei que há pouco tempo esta polémica andava no ar e que alguns pais preferiam expôr os filhos aos riscos "controlados" da doença tornando-as imunes, do que deixar que as mesmas fossem vacinadas.
Giulio Monteverde
Edward Jenner inoculating his son with the smallpox vaccine,
Palazzo Bianco, Génova
A história da Cólera começa nas águas do Ganges, fundamental para o hinduísmo, local de partilha e fonte de água para os indianos. As águas do Ganges serviam para beber, para tomar banho, lavar a roupa e levar a cabo rituais religiosos. Talvez por isso esse tenha sido o berço da bactéria que dá origem à cólera. De facto, as primeiras epidemias de cólera tiveram lugar nas povoações das margens do Ganges, antes de 1817. Já em 400 A.C. havia registos de uma doença cujos sintomas eram muito semelhantes aos da cólera: lábios azulados, face encovada, olhos pisados, negros, diarreia... Enquanto a cólera fazia as suas vítimas ao longo das margens do Ganges, os médicos europeus permaneciam na ignorância quanto à existência da doença. Só que a partir de 1817 a Inglaterra começou a colonizar a Índia, o que implicou a deslocação, para território indiano, de soldados, mercadores, etc. No final do século XIX os médicos europeus começaram a ver os primeiros casos da doença. Da Europa a cólera viajou até à América do Norte e entre 1833 e 1834 atacou as principais cidades americanas. Em 1839 e através dos soldados britânicos, a cólera chegou até ao Afeganistão e um ano depois, à China.
Mulher vienense de 23 anos representada antes e depois de contrair cólera em 1831. A segunda imagem mostra a mulher uma hora após ter contraído a doença. A jovem morreu quatro horas após ter ficado infectada.
Para quem acredita na vida além da morte, nada disto assusta e pode mesmo ser encarado como um meio e não o princípio do fim. Para quem não acredita aconselho a leitura destes dois livros:
e este poema.(o cancro, sempre o cancro...)
- o carteiro -
Olá Pai Natal, como estás do teu reumático? Este ano, não estou com muita vontade desta coisa toda do Natal. O que até é contraditório, face a este post... Não é nada pessoal, mas eu fico a pensar, a pensar... enfim... No Natal lembro-me sempre onde estava no Natal anterior e penso como as coisas mudaram... Este ano sinto-me cansada. E mais não digo.
Ora bem: sabes que o que preciso não são livros, mas estantes. De qualquer forma prefiro pedir-te livros: não tem que enganar. Já as estantes... não sei se conheces em profundidade o mundo IKEA. Sabes que também não sou mulher para pulseiras Pandora. Por isso vê lá o que os duendes podem fazer por mim. beijos e abraços, beluga (P.S. quando estiveres a ler isto, endireita as costas)
[só na amazon ou na book depository]
- The Byzantine Rite;
- Masterpieces in Detail: Early Netherlandish Art from van Eyck to Bosch;
- Noah Charney, The Art of Forgery
- Ornament and Illusion: Carlo Crivelli of Venice
- Inventing Beauty: A History of the Innovations that made us beautiful
- Risque Beauty - Beauty Secrets of History Most Notorious Courtesans
- Early Christian and Byzantine Art
- Image on the Edge: The Margins of Medieval Art
- Jay Parini, Every time a friend succeeds something inside me dies (biografia de Gore Vidal) [ainda por ler e ter]
- Salman Rushdie, Uma Memória
- Thomas Mann, Tonio Kroger
- Stefan Zweig, Amok
- Stefan Zweig, O Mundo de Ontem
- Gustave Flaubert, Bouvard e Pécuchet
- Christopher Hitchens, Deus não é Grande
- Bernardino Sá Gomes, Carlucci vs Kissinger: Os EUA e a Revolução Portuguesa
- Thomas Mann, As três últimas novelas;- Robert Musil, O homem sem qualidades (dois volumes);
- Thomas Bernhard, Autobiografia;
- Nikolaus Wachsmann, KL;
- Jacques Le Goff, A História deve ser dividida em pedaços?;
- Dostoievsky, Os irmãos Karamazov;
- Balzac, A comédia humana;
- Hans Küng, O Cristianismo;
- Eça de Queirós, O conde de Abranhos;
- Slajov Zizek, qualquer um, excepto "Violência"
- Paul Celan, Não sabemos mesmo o que importa;
- Antonin Artaud, Van Gogh, o suicidado da sociedade;
- História Universal da Música 1 e 2;
- Daniel Faria, Poesia;
[desejos de natal do ano passado, não concretizados, mas lidos]
- Celine, Viagem ao fim da noite;
- Robert Graves, Conde Belisário;
- Thomas Mann, Dr. Fausto;
[desejos de natal do ano passado, concretizados e lidos]
- Gustave Flaubert, A educação sentimental;
- Dostoievsky, Os demónios;
- Albert Camus, O mito de Sísifo;
- Eça de Queirós e Ramalho Ortigão, O mistério da estrada de Sintra;
- Edmund de Waal, The hare with amber eyes;
- Alberto Caeiro, Poesia;
- Susan Sontag, Olhando o sofrimento dos outros;
- Hannah Arendt, As Origens do Totalitarismo;
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
[1]
A canção mais antiga do mundo
é síria, terá cerca de 3.400 anos e é um hino religioso. Soa mais ou menos a isto:
[2]
A ópera do Café
Cantata de Bach, uma das poucas composições seculares do compositor, em louvor do café:
[3]
A música do rabiosque
No Jardim das Delícias de Bosch existe um pequeno apontamento que embora não tenha passado despercebido aos historiadores, nunca foi desenvolvido. Trata-se da pauta escrita no rabiosque de uma das personagens:
Hieronymus Bosch
Triptych of Garden of Earthly Delights
c. 1500
Museo del Prado, Madrid
Hieronymus Bosch
Triptych of Garden of Earthly Delights (pormenor)
c. 1500
Museo del Prado, Madrid
Uma estudante de Oklahoma colocou essa pauta em música e o resultado é este
sábado, dezembro 10, 2016
- o carteiro -
esta altura é de festas, de presentes e de
jantares/almoços de Natal, com aqueles tipos lá do trabalho... pufff que
seca. lombo de porco, bacalhau com natas... tudo o que tem lascas ou é
fibroso e se mete entre os dentes é o que o pessoal come nesta altura.
parece um jantar comício antes das autárquicas!
e claro, uma
pessoa está ali a falar com a Da. Laura do PBX quando percebe que tem
qualquer coisa entre dois molares e perde o fio à meada. às tantas,
quando a Da. Laura começa a contar como o filho se mudou para Munique em
busca de trabalho, o nosso atençómetro desliga-se e apenas conseguimos
pensar: "como é que vou tirar isto daqui?". Há várias hipóteses:
- ir à casa de banho e fazer como a Julia Roberts
- continuar ali com a língua a fazer movimentos perceptíveis pela Da. Laura.
- fazer como esta moça que também estava num convívio:
The Marriage at Cana
1563
Musée du Louvre, Paris
Veronese
The Marriage at Cana (pormenor)
1563
Musée du Louvre, Paris
The Marriage at Cana (pormenor)
1563
Musée du Louvre, Paris
Podemos mesmo andar com um ao peito, para retirar lascas de faisão, O
alimento do Renascimento. Não se preocupem: se esta gente andou e era
das melhores famílias, vestia brocados e dormia em camas debruadas a
ouro, nós também podemos andar. Ou então, deixamos crescer a unha do
dedo "mindinho"...
Portrait of Lucina Brembati
1521
Accademia Carrara, Bérgamo
sexta-feira, dezembro 09, 2016
quando vejo o anúncio de natal da intimissimi com a irina abraçada ao urso de peluche, até me dá vontade de chorar
terça-feira, dezembro 06, 2016
- original soundtrack -
há quem goste mais da Ella Fitzgerald ou da Aretha Franklin, mas para mim não há ninguém que bata o sentimento da Etta James. Ela canta coisas - mesmo coisas que já não se usam - como se estivesse a senti-las.
às vezes ouço esta música à noite, à janela, quando tudo está suspenso e silencioso.
Something told me it was over
When I saw you and her talkin'
Something deep down in my soul said, 'Cry, girl'
When I saw you and that girl walkin' around
Whoo, I would rather, I would rather go blind, boy
Then to see you walk away from me, child, no
Whoo, so you see, I love you so much
That I don't wanna watch you leave me, baby
Most of all, I just don't, I just don't wanna be free, no
Whoo, whoo, I was just, I was just, I was just
Sittin here thinkin', of your kiss and your warm embrace, yeah
When the reflection in the glass that I held to my lips now, baby
Revealed the tears that was on my face, yeah
Whoo and baby, baby, I'd rather, I'd rather be blind, boy
Then to see you walk away, see you walk away from me, yeah
Whoo, baby, baby, baby, I'd rather be blind...
(I'd rather go blind, Etta James)