sexta-feira, fevereiro 19, 2016

deus, se existes, ajuda-me. se não existes, ajuda-me. por favor não me faças passar por tudo outra vez.
- o carteiro -
 
elogio da violência como medida higiénica
 
o título deste post estava para ser "elogio da intolerância", mas, primeiro não é bem disso que o post fala e depois acho que esse é o título de um livro do Slavoj Zizek. Um destes dias passei os olhos pela primeira página desse livro e achei-o muito interessante. A primeira página fala de cócós e de sanitas (analogia entre as sanitas alemãs e a forma de ser dos alemães) e vocês sabem que sou uma pessoa dada a conversas escatológicas. Gosto do Slavoj Zizek, mas ele é um filósofo um bocadinho pop e eu sinto-me parola a ler os livros dele. Não é a mesma coisa que ler Deleuze ou Habermas.
Bom, isto tudo para falar do título. O título - e o post - surgiu-me num destes dias ao sair do trabalho. Vinha tão... f***** da corneta que só me apetecia começar a distribuir pares de estalos pela rua, a pessoas e animais, velhinhos e jovens, senhoras e senhores, meninos e meninas. E em conversa com outra pessoa, descobri que o estalo bem dado, como catarse controlada, devia ser legal. Mais, devia ser prescrito, como medida para manter a sanidade mental.
A verdade é que houve comunidades que praticaram a violência sanitária. O acto chamava-se Amok e era praticado nas ilhas do arquipélago malaio, mas não tinha a conotação negativa que hoje lhe damos. Era aceite que de vez em quando uma pessoa normal, em tensão, se lançasse sobre os outros cidadãos e assassinasse uma ou duas pessoas ou animais. E a comunidade reagia a isso com naturalidade, sem alarido. Foi com a colonização por parte de povos europeus que a coisa começou a ser mal vista. Mas eu acho que faz falta. Não digo matar alguém - dizer uma coisa destas nos dias que correm, em que toda a gente partilha imagens de actos bondosos e generosos que temos dificuldade em acreditar que pudessem existir sem as câmaras por perto, é quase uma heresia. Faz falta de vez em quando a pessoa fazer a sua catarse controlada, dar dois pares de estalos a alguém. Se possível à pessoa certa. Já se sabe no que dá as sociedades muito controladas, principalmente aquelas do Norte da Europa: hooliganismo, violações repetidas, raptos, assassinatos em série. de vez em quando lá se descobre um casal na Baviera que escravizou e violou a filha, um outro em Bergen que raptou o filho do vizinho, enfim, business.
Mas o Amok ficou mal visto e nem o Stefan Zweig hesitou em colocar este nome num dos seus livros, muito influenciado pela psicanálise de Freud, e por isso, sem deixar de lado um juízo, negativo e paternalista acerca de quem o pratica.

é provável que amanhã pense de forma diferente. é também mais provável a impossibilidade de viver numa sociedade assim, ainda mais se tivermos em conta que hoje as sociedades não estão isoladas. mas que às vezes faz falta mandar um estalo bem mandado, daqueles ruidosos e que deixam a palma da mão marcada na bochecha, cinematográficos, em que as moças ficam aterrorizadas e os moços caem redondos, lá isso faz.

quinta-feira, fevereiro 18, 2016

só para tapar o post anterior...

terça-feira, fevereiro 16, 2016

b' day

há uns anos vi uma peça no São João cujo título não recordo. era qualquer coisa como "A Festa" ou "O Aniversário". bom, era sobre alguém que fazia anos. e uma das personagens dizia que todos os dias era o dia de anos de alguém. hoje é o meu. neste dia costumo postar a Marilyn a soprar as velas. e embora a Marilyn não tenha chegado à minha idade, (não é que me esteja a comparar, pelo amor de deus, não é isso!) acho que mereço esta imagem bonita.
 

domingo, fevereiro 14, 2016

- o carteiro -

o amor deve ser isto

quinta-feira, fevereiro 11, 2016

mas o que é que eu estou a fazer neste trabalho?

terça-feira, fevereiro 09, 2016

- original soundtrack -

adoro a forma como ela diz "lagy...



















- Hello?
(here we go!)
- No, sorry, not tonight
(that was quick!)
- Shhh! Yes?
(Jim?Jack?Jeffrey?)
- No,it's just that I'm languid.
(Well,how do you do? It's nice to know ya)
- Physically I'm in pretty good shape
(brother, you could say that again!)
- It's my attitude that's passive. You know you're the only one I love.
(that's all, he's hooked).
- Bye now
(bye now)

- Hello?
(where are we again?)
- No, sorry, not tonight
(she's languid).
- Shhh!Quiet!
(Bill, Bobby, Bruce?)
- No, it's just that I'm supine
(that's avoided. I know).
- Physically I'm in pretty good shape
(see? she did say it again)
- But mentally I'm comatose
(quick boy, the dictionary!)
- You know you're the only one I love!
(new fish, same hook)
- Bye now
(bye now)
(She won't get up, she won't go out, baby! what's it all about? Why, why, why, why, why?!)
Well, in simple english
I'm lazy, I wanna be, lazy,
I long to be out in the sun, with no work to be done.
under that awning, they call the sky,
stretching and yawning, and let the world go drifting by,
I wouldn't peep through the deep tangled wildwood,counting sheep,
'till I sleep like a child would,
with a great big valise full of books to read, where it's peaceful.
While I'm killin' time, being lazy.

- Wrong number
- Wrong number..
- Oh Sam,you're sweet!

With a great big valise full of books to read,where it's peaceful.
While I'm killin' time, being lazy!

(Lazy, Marilyn Monroe)
- não vai mais vinho para essa mesa -

- confias em mim?
- não confio em nenhum homem.
- a sério? nenhum?
- bem, confio no Eça.
- não vai mais vinho para essa mesa -

[no psiquiatra]
- sabe, há uma coisa que as mulheres dizem dos homens... desculpe o que vou dizer... é horrível...
- as mulheres são horríveis!
- são, não são? também acho. Por isso é que gosto de homens!
- eu não gosto de homens, mas vou ter isso em consideração...
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

(riscas - cont.)

Vocês bem sabem que "quem pode, pode". Ou seja, quem tem dinheiro e poder pode ditar modas que nada lhe é aponte. Por isso, quando a risca passou dos aios para os amos, o pessoal estranhou, mas entranhou. Diz-se que isto era algo que já estava em ebulição desde finais da Idade Média, que se acentuou após a Grande Peste e culminou com um vestir exagerado, excêntrico, por parte dos mais jovens que tinham sobrevivido a muitas provações. Não sei se a Missa de Bolsena do Rafael retrata estes jovens. Ora vejam lá:



















Rafael
The Mass at Bolsena (pormenor)
1512
Palácio do Vaticano, Vaticano

Passou-se daí para o excesso que se traduzia no uso de riscas principalmente nas mangas e nos calções das vestes de mulheres e homens. Mas a moda durou pouco, até porque a Corte de Borgonha impunha códigos de vestuário muito restritos. Voltou por volta de 1500 e impôs-se na Alemanha, França, Itália e Inglaterra. Deixo aqui alguns exemplos. Penso porém que não devemos confundir as riscas a sério, com os efeitos no vestuário através de cortes que simulam riscas, daí não deixar aqui alguns exemplos que me parecem exagerados.



















Jean Clouet
Retrato de Francisco I,
c. 1525
96 x 74 cm
Museu do Louvre, Paris





















Barthel Bruyn, o Velho
Ana de Cléves
c. 1540


















Beatrice D' Este
1496-1497
Palácio Sforzesco, Milão

Com a Reforma Protestante, esta febre das riscas voltou a sossegar e só regressou na segunda metade do século XVII em Espanha, curiosamente (herdeira da corte de Borgonha) principalmente em pequenos apontamentos nos calções e mangas dos membros masculinos da classe aristocrática. A moda volta a desaparecer para ser recuperada após 1775 após a Revolução Americana e com laivos românticos vindos do Novo Mundo. Usar riscas passou a ser sinónimo de "ser progressista", avançado, moderno. Apresento aqui mais exemplos de senhoras do que de senhores, mas lembro que nesta época a risca foi de tal modo querida que os homens também as usavam em coletes, calças e as casas eram decoradas com a vivacidade desta solução. É curioso, em todos estes exemplos, que se tratam dos retratos de pessoas da aristocracia, do Antigo Regime, que a Revolução Francesa derrubou. Não obstante a risca ter algo de revolucionário, muitos são os aristocratas - que abominando a novidade e a mudança das revoluções - a adoptam como símbolo do seu espírito. Não encontrei exemplos da risca na decoração, principalmente no estilo directório, mas encontrei-as mais tarde, no século XIX. Com a campanha de Napoleão no Egipto, os gosto oriental pelas riscas foi transportado até ao Ocidente onde se brincava de exotismo com a colocação, em casa, de toldos listrados. Fartei-me de procurar isso nos trabalhos do Delacroix. Tenho a certeza que há qualquer coisa assim.




















Rose Adelaide Ducreux
Self-portrait
1790
Metropolitan Museum of Art























Marie Gabrielle Capet
Portrait of Mademoiselle JL Germain


 

















François Hubert Drouais                                                 
Portrait of a lady (Yvonette Moulin de la Racinière?)
1772




















Escola Inglesa do Século XVIII
Richard Gwynne of Taliaris and Tregib
National Museum of Wales, País de Gales

 A risca do Romantismo existe, mas não a encontrei, nem no vestuário, nem na decoração. É somente no Impressionismo, no final do século XIX que consegui obter imagens de riscas talvez porque os impressionistas pintassem muito o quotidiano e é nos objectos do quotidiano que podemos encontrar a risca. Neste âmbito os quadros da Mary Cassatt foram muito importantes, uma vez que apesar de impressionista, a artista não se limitava a cenas de exterior, pintando muitos interiores onde a risca podia ser vista em sofás ou papel de parede.















Mary Cassatt
The Tea
c. 1880
Museum of Fine Arts, Boston



















Mary Cassatt
Woman on a Striped Sofa with Dog
1876
Harvard Art Museum




















Mary Cassatt
The Child's Bath (The Bath)
1893
Art Institute of Chicago





















Cezanne
Hortense Fiquet in a Striped Skirt
1877-78
Museum of Fine Arts, Boston




















Cézanne
Woman in a Red-Striped Dress
1892-96
The Barnes Foundation, Merion, Pensilvânia

 Mas assim como as riscas chegam aos estofos, cortinados e papel de parede, também chegaram à roupa interior. Durante muito tempo isto era impensável: a roupa que tocava no corpo não podia ser conspurcada pela risca que era acima de tudo para os menos puros: as prostitutas, réprobos, saltimbancos... Além disso, como sabemos, a cor é aplicada através do tingimento e o tingimento é a aplicação de substâncias de origem animal. Por outro lado, e até meados do século XIX, a cor não era usada na roupa interior devido "à moral protestante, à ética capitalista, e aos valores burgueses". É talvez com a escassez de produtos básicos verificada com a Primeira Guerra Mundial que o uso da risca na roupa interior se normalizou.



















Meias de criança
Século XIX



















Camisa interior feminina
Século XVIII

Deixo também aqui três situações em que a risca é utilizada no vestuário já em tempos mais próximos de nós:
















Banhista
Anos 20




















Prisioneiros Americanos
1902




















Marinheiro Francês

Vou embora.
 
- ars longa, vita brevis -
Hipócrates

olá. estou um bocadinho doente. desculpem se isto não é grande coisa. dói-me muito o corpo, mesmo muito.
vamos aqui a um antes e depois ou "como eu não percebo muito bem qual é o antes e o depois. não gosto do Chirico, confesso. as imagens que hoje deixo aqui não são um antes e depois declarado, mas vemos numas qualquer coisa das outras. ora bem: vocês sabem que muita da arquitectura fascista usa como modelo o grande período da antiguidade romana, em que Roma era império. A arquitectura alemã usava os modelos romanos (colunatas, grandes cenografias, edifícios com frontão...), a arquitectura do período de Mussolini, mais ainda pois afinal tratava-se de recuperar a grandeza de Roma,... em Roma. Mas, no fundo, tanto a Alemanha como a Itália procuravam recuperar, reavivar igualmente um outro período da história, aquele em que o Homem começou a questionar as imposições da Igreja através dos factos da ciência. Falo do Renascimento, claro está. A cidade ideal do Renascimento tem praças largas, edifícios no estilo romano, efeitos de perspectiva. Usa a decoração do pavimento para orientar o nosso olhar para o que é importante: uma estátuas equestre, um edifício ao fundo, o estatuto do lugar... Vejamos esta imagem de cidade ideal do renascimento de Fra Carneval










Fra Carneval
Cidade ideal
1480-1484

E agora, vejam se as paisagens assombradas do Chirico não têm semelhanças com a cidade ideal de Fra Carneval e com o Palazzo della Civiltà Italiana, iniciado em 1935 por Mussolini, construído em 1937 e com o propósito de receber a representação italiana na Exposição Mundial de 1942:

 De Chirico
Turin Spring
1914
Colecção Privada
 
  
De Chirico
Italian plaza with equestrian statue
 

Palazzo della Civiltà Italiana
1936
Roma
 
 Muita da melhor arquitectura fascista italiana deve algo a De Chirico. Este edifício, por exemplo, é apenas um exemplo no conjunto chamado EUR idealizado por Mussolini. Esta área, deveria ser quase como uma nova cidade, capaz de estar a par da grandeza da Roma dos antecessores de Mussolini. O nome EUR é o acrónimo de Exposição Universal de Roma, a tal que já referi. A exposição nunca chegou a realizar-se: primeiro foi atrasada devido à eclosão da II Guerra Mundial; depois abandonada devido à queda de Mussolini. Por isso, o projecto do Duce também acabou por não ser concluído, pelo menos não nos moldes programados. Hoje funcionam naqueles quarteirões de edifícios brancos, instituições de crédito, empresas conhecidas como a Fendi (que ocupa agora este Palazzo della Civiltà Italiana). À volta, os empresários acabaram por construir moradias esta parte da cidade de Roma tem a sua vida. Mas esta é, como os quadros de De Chirico, uma realidade assombrada, onde praticamente não se vê gente na rua; as ruas são inóspitas, sem alívios arquitectónicos para o estio, com a sobre tirada a régua e esquadro. 
 
Penso que não existe nenhuma relação entre o De Chirico e o regime de Mussolini. Mas é curiosa como a sua cidade pintada anos antes do projecto para o EUR resultou tão bem: temos a mesma sensação de mal-estar, de sinistro, de antagónico, de fantasmagórico.
 
beijos, vou ver se estas dores passam. 
- o carteiro -
cenas





































 

sexta-feira, fevereiro 05, 2016

é isto. e não diria melhor:


Já estou tranquilo. Já não espero nada.
Já sobre meu vazio coração
Desceu a inconsciência abençoada
De nem querer uma ilusão.

(Fernando Pessoa)

quinta-feira, fevereiro 04, 2016

a europa falhou. a cada barco que chega, a europa falha um bocadinho mais. e pior. um dia, quando não houver mais nada para destruir ou a indústria bélica estiver de barriga cheia, um qualquer líder ocidental, preocupado com uma reeleição ou com a História, vai encetar "conversações de paz" que culminarão, está bom de ver, num tratado em que as partes farão as pazes num cenário idílico e neutro que se tornará entrada de enciclopédia. depois entrarão as máquinas de uma grande empresa americana ou europeia, paga pelo governo sírio, líbio... as máquinas arrasarão o sobrou, poluirão os solos, contaminarão as águas. as populações serão obrigadas a nada fazer para não ofender nenhuma das partes e alimentar-se-ão de rações que o novo governo comprará a marcas ocidentais. e tudo isto, "no melhor dos mundos".

segunda-feira, fevereiro 01, 2016

- original soundtrack -

calmo e suave...

Moon river, wider than a mile
I'm crossing you in style some day
Oh, dream maker, you heart breaker
Wherever you're goin', I'm goin' your way
 
Two drifters, off to see the world
There's such a lot of world to see
We're after the same rainbow's end, waitin' 'round the bend
My huckleberry friend, moon river, and me
 
(Moon River, interpretado por Audrey Hepburn)
- não vai mais vinho para essa mesa -

pedro Abrunhosa - está aqui?
eu - ...estou...
pedro Abrunhosa - e sabe falar?
eu pensei - [melhor do que tu sabes cantar]
mas disse - depende. se for de física quântica...
- o carteiro -

às vezes fico entalada. isto porque no social - e o meu social contempla por vezes gente de inteligência e cultura (se bem, que isto não é sinónimo de potabilidade) - tenho conversas sobre coisas que não domino. não sei tudo de arte, literatura, cinema... porque não quero que vocês fiquem assim, sem saber sobre o que é o filme, trago-vos a minha sinopse que, já sabem, é uma coisa parva. se vos falarem de:

Saló ou os 120 dias de Sodoma, Pasolini




















Mamocas, pipis, cócó, fascismo, cócó, homossexualidade, xixi, cócó, masoquismo, sadismo, pirilaus, cócó, lágrimas, "botão de rosa", "frango de churrasco", cócó... já disse cócó? enfim, parafilias várias

La Strada, Fellini
 


















Um dos filmes mais bonitos que já vi. Um mulher pobre, inocente e frágil é vendida pela família a um saltimbanco que faz números de terra em terra. Na verdade, ele - como ela - é muito limitado e faz sempre o mesmo número. Ele despreza-a, humilha-a, é bruto. Ela procura nele a salvação dela, mas ele não tem essa capacidade. Seguem ambos uma estrada que parece não ter fim, inadaptados. Ele despreza-a. Ela morre.

A Grande Ilusão, Jean Renoir



















Este Renoir era filho do Renoir pintor. E eu gosto muito dos filmes dele. Gosto de "A Regra do Jogo" e gostei deste "A Grande Ilusão". Há uma coisa nele que me faz lembrar "O Leopardo" do Visconti, e que é quando os dois oficiais, o alemão e o francês, seu prisioneiro, falam sobre os novos tempos em que a classe social mais elevada, a que ambos pertencem, já não tem uma palavra a dizer nos destinos do espaço a que pertencem. é também uma história de anti-heróis, de homens de diferentes proveniências que só querem ser livres.
 
L'amour fou, Jacques Rivette



















4 horas sofridas. o período do pré e pós maio de 68 não é o meu período preferido, confesso. um casal, ele encenador, ela actriz, enfrentam o final do casamento. ela empreende uma viagem estranha que passa pela tentiva de suicídio, a traição (ele também. aliás, as relações amorosas deste tempo são muito voláteis. veja-se o ménage à trois de Os Sonhadores) e a destruição da casa. ele mantém-se a encenar a Andrómaca do Racine e fala de forma muito, mas mesmo muito vaga sobre tudo. Era um dos filmes da Susan Sontag. E com esta a Ana já está a ganhar!  
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

ou como eu volto sempre ao Van Gogh, não é? mas não se preocupem pois este ainda não postei. estibe a inbestigar e certifiquei-me que ainda não postei. Vocês sabem que pintores como Van Gogh e alguns impressionistas foram influenciados pelas gravuras japonesas. Sempre me interroguei porquê. Porque é que de repente, os pintores impressionistas e pós-impressionstas começam a interessar-se por isso? Descobri agora. Durante muito tempo os portos japoneses estiveram fechados às trocas comerciais com o Ocidente. Quando abriram em 1853, houve essa troca comercial de produtos, mas também de ideias e imagens. Até à Europa chegaram muitas gravuras que surpreendiam a arte europeia pela simplicidade dos traços e pela temática do dia-a-dia, transitória porém apelativa. Para os franceses, o contacto com esta arte deu-se em 1867 quando o Japão se fez representar na Feira Mundial desse ano, embora já antes uma miríade de leques, quimonos, lacas e sedas tivessem sido  importadas pelos franceses. Foi justamente em Paris que Van Gogh teve contacto com a arte japonesa da qual admirava a simplicidade e elegância, bem como as áreas de cor plana, a cor intensa e o desenho marcante. Da admiração à aplicação foi um passo pequeno já que não só o seu irmão Theo tinha uma galeria de arte em Montmartre como o seu apartamento era próximo de uma outra galeria que vendia muitas gravuras japonesas. Vai daí, o Van Gogh fez-se à coisa. Isto é o mesmo que dizer: "fez-se à gueixa". Pegou nesta gravura de Keisai Eisen, um artista japonês. para falar a verdade, não percebo nada de cultura japonesa. nada. mas sei duas coisas relativamente à arte japonesa: por um lado os japoneses representam a realidade de cima, de uma perspectiva aérea, enquanto os ocidentais quase sempre usam um ponto de vista mais próximo do solo; por outro, na arte japonesa, cada elemento tem de ter uma relação com outro, influenciando-o (arte dos jardins).
 
O Van Gogh olhou para a gravura do Eisan, rodou-a, colocou mãos e pé à mostra e suavizou aquele voltar de tronco. A figura feminina do Eisan parece estar toda torcida (parece O Exorcista) enquanto a do Van Gogh olha apenas por cima do ombro. Acho que para isso também contribui o uso de uma paleta mais vasta em Van Gogh e que de resto contribui para uma maior e melhor distinção entre as partes do corpo da Cortesã.
 
 

















Keisai Eisen
Mirror of the age: la courtisane
1820




















Van Gogh
The Courtesan
1887
Van Gogh Museum, Amesterdão
- o carteiro -

e o Homem criou Deus... (XI)

Ora bem, continuamos com Carlos Magno. Como vimos, Carlos Magno não poupava na violência quando se tratava de "evangelizar" os homens. Na verdade, se estes não seguissem o cristianismo pela crença em Deus, seguiam-no pela lança de Carlos Magno. O imperador não se coibia de emitir opiniões acerca dos sermões dos clérigos e chegou mesmo a mudar uma parte do Credo de Niceia bem como a estabelecer um centro educativo para o clero em Aachen. A sua acção no âmbito educativo permitiu que se apelidasse esta época de Renascimento Carolíngio, antes mesmo do Renascimento italiano. A escola para monges fundada por Carlos Magno, gerida por Alcino de Iorque, possuía um importante scriptorium. Foi lá que 90% dos manuscritos da Antiguidade foram copiados e foi graças a eles que hoje estão os nosso dispôr.
Mas o reinado de Carlos Magno tem um fim. Prevendo isso o imperador nomeia o seu filho Luis I, o Piedoso. Este, obviamente, não tem o carisma nem a visão do pai. Entretanto as fronteiras do império continuam a ser testadas por povos bárbaros, desta vez, pelos vikings vindos da Escandinávia. A sua forma de combater era diferente e pode dizer-se, implacável, já que para além de matarem as pessoas e destruírem as suas casas, também arrasavam as culturas, o que tornava o alimento escasso num espaço de tempo relativamente longo. O primeiro território que os vikings atacam é a Escócia, bem como o seu primeiro mosteiro cristão. Aliás, os vikings procuravam instituições relativamente remotas, isoladas e com alguns bens, pois assim não só eram mais fáceis de atacar como os frutos dos saques eram maiores. Graças ao facto de Luís I não ter o mesmo carácter do pai e de o império estar dividido pelos seus irmãos, os vikings ousam e alcançam Paris em 845. A matança foi terrível! Em seguida passam por Espanha, Portugal, Pisa e Milão. Apesar de tudo isto, que poderia colocar em causa da fé dos cristãos (onde está Deus face a esta matança?), a comunidade cristã permanece unida, acreditando no poder das relíquias que possui e na doçura da Virgem Maria para aplacar a maldade dos homens.

O Papa em Roma tem pouco poder e em Bizâncio o imperador é uma figura simplesmente decorativa. O Império que outrora era de Cralos Magno e que agora era defendido por Luís I corre o risco de ser desmantelado. Em 955, Otão I, juntamente com um exército cristão, derrota os Magiares (tribo húngara), embora estes estivessem na proporção de 2 para 1. Os Magiares acreditavam na sua invencibilidade e que iriam derrotar o exército cristão. Para Otão, vencer significava unificar o império e para tal contava com o poder da sua lança (também ela uma relíquia; talvez a lança de Longino...). Esta vitória coloca fim a 50 anos de domínio dos magiares e permite a Otão entrar triunfante em Roma, tal como havia feito Carlos Magno duas gerações antes dele. Perante o altar de São Pedro Otão é coroado pelo Papa, Sacro Imperador romano. Mas logo se desilude com ele. Este Papa, era João XII, instalado no trono papal pela família quando tinha apenas 18 anos. Era no fundo um devasso, que gostava de mulheres e segundo consta, não as deixava em paz nem mesmo quando estas iam a São Pedro rezar. Para além disso tirou dinheiro de São Pedro e deu-o aos seus filhos ilegítimos, deixando as igrejas de Roma entrar em declínio. O seu sucessor não foi muito melhor. Morre Otão I que deixa o trono ao filho Otão II. Segue-se também no trono papal Silvestre II que juntamente com Otão III pretende estabelecer a dignidade do Papado e reviver a ideia de Império Romano unificado. Pela primeira vez desde Carlos Magno esta ideia pode ganhar forma. Na entrada para o ano 1000 parece que toda a Europa é cristã.
Aproximávamo-nos então do ano 1000 e do fim do mundo. Seria mesmo o fim do mundo? E as pessoas pensavam que era o fim do mundo? Existe a ideia de que muitas pessoas entraram em pânico e que, perante a aproximação do ano mil se deram suicídios em larga escala. Mas esta visão não pode ser homogénea, não só porque os calendários eram diferentes, mas também porque milhares de pessoas viviam em localidades remotas, isoladas e nem sequer tinham acesso a esse tipo de informação.
- não vai mais vinho para essa mesa -

coisas que são necessárias a Assembleia alterar para o bom exercício da presidência