sexta-feira, fevereiro 19, 2016

- o carteiro -
 
elogio da violência como medida higiénica
 
o título deste post estava para ser "elogio da intolerância", mas, primeiro não é bem disso que o post fala e depois acho que esse é o título de um livro do Slavoj Zizek. Um destes dias passei os olhos pela primeira página desse livro e achei-o muito interessante. A primeira página fala de cócós e de sanitas (analogia entre as sanitas alemãs e a forma de ser dos alemães) e vocês sabem que sou uma pessoa dada a conversas escatológicas. Gosto do Slavoj Zizek, mas ele é um filósofo um bocadinho pop e eu sinto-me parola a ler os livros dele. Não é a mesma coisa que ler Deleuze ou Habermas.
Bom, isto tudo para falar do título. O título - e o post - surgiu-me num destes dias ao sair do trabalho. Vinha tão... f***** da corneta que só me apetecia começar a distribuir pares de estalos pela rua, a pessoas e animais, velhinhos e jovens, senhoras e senhores, meninos e meninas. E em conversa com outra pessoa, descobri que o estalo bem dado, como catarse controlada, devia ser legal. Mais, devia ser prescrito, como medida para manter a sanidade mental.
A verdade é que houve comunidades que praticaram a violência sanitária. O acto chamava-se Amok e era praticado nas ilhas do arquipélago malaio, mas não tinha a conotação negativa que hoje lhe damos. Era aceite que de vez em quando uma pessoa normal, em tensão, se lançasse sobre os outros cidadãos e assassinasse uma ou duas pessoas ou animais. E a comunidade reagia a isso com naturalidade, sem alarido. Foi com a colonização por parte de povos europeus que a coisa começou a ser mal vista. Mas eu acho que faz falta. Não digo matar alguém - dizer uma coisa destas nos dias que correm, em que toda a gente partilha imagens de actos bondosos e generosos que temos dificuldade em acreditar que pudessem existir sem as câmaras por perto, é quase uma heresia. Faz falta de vez em quando a pessoa fazer a sua catarse controlada, dar dois pares de estalos a alguém. Se possível à pessoa certa. Já se sabe no que dá as sociedades muito controladas, principalmente aquelas do Norte da Europa: hooliganismo, violações repetidas, raptos, assassinatos em série. de vez em quando lá se descobre um casal na Baviera que escravizou e violou a filha, um outro em Bergen que raptou o filho do vizinho, enfim, business.
Mas o Amok ficou mal visto e nem o Stefan Zweig hesitou em colocar este nome num dos seus livros, muito influenciado pela psicanálise de Freud, e por isso, sem deixar de lado um juízo, negativo e paternalista acerca de quem o pratica.

é provável que amanhã pense de forma diferente. é também mais provável a impossibilidade de viver numa sociedade assim, ainda mais se tivermos em conta que hoje as sociedades não estão isoladas. mas que às vezes faz falta mandar um estalo bem mandado, daqueles ruidosos e que deixam a palma da mão marcada na bochecha, cinematográficos, em que as moças ficam aterrorizadas e os moços caem redondos, lá isso faz.