quinta-feira, janeiro 04, 2007

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

Um "antes e depois", ou, para ser mais correcto, "dois ao mesmo tempo":
Estes dois quadros são duas Conversões de São Paulo, o gentio que juntamente com São Pedro, o judaico, forma a base da Igreja. O primeiro quadro foi recusado porque o cavalo ocupava o centro da composição e era-lhe dedicado mais espaço do que ao santo. Diz-se que São Paulo, que participou activamente na morte de Santo Estevão, ía um dia a caminho de Damasco quando foi cegado por um raio muito forte e caiu do cavalo. Ouviu em seguida uma voz perguntar: "Saulo*, Saulo, porque me persegues?" Deus mandou-o seguir caminho e deu-lhe instruções. Paulo esteve cego durante três dias após os quais foi curado por Ananias.

Caravaggio
The conversion of Saint Paul
1600-1601
Odescalchi Balbi (colecção privada)


Caravaggio
The conversion of Saint Paul
1600-1601
Cerasi Chapel, Santa Maria del Popolo, Roma

*Paulo era originalmente chamado de Saulo.
- não vai mais vinho para essa mesa -

elogio da idiotice - I
Sair do balneário e entrar no recinto da piscina para nadar e reparar que toda a gente ri porque o soutien estava vestido, esquecido, por baixo do fato de banho.
- não vai mais vinho para essa mesa -

elogio da idiotice - II
Ir a sair do balneário para a rua com a toalha enrolada na cabeça.
- não vai mais vinho para essa mesa -

elogio da idiotice - III
Chorar tanto e tão no meio da rua que uma senhora pára para oferecer um papelinho com as horas das reuniões na Igreja Universal do Reino de Deus.
- original soundtrack -

Porque foste na vida
A última esperança
Encontrar-te me fez criança
Porque já eras meu
Sem eu saber sequer
Porque és o meu homem
E eu tua mulher



Porque tu me chegaste
Sem me dizer que vinhas
E tuas mãos foram minhas com calma
Porque foste em minh'alma
Como um amanhecer
Porque foste o que tinha de ser

(O que tinha de ser, Vinicuis de Moraes)

quarta-feira, janeiro 03, 2007

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

"anteses e depoiseses":

Lucio Fontana
Spatial Concept
Museu de Belas Artes, Buenos Aires


Mila Schön


Mondrian
Composition with large blue plane, red, black yellow and gray
1921
Dallas Museum of Art



Yves Saint Laurent, 1965
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

"As far as twenty pesos can go", The Green Revolution
- não vai mais vinho para essa mesa -

money makes the world go 'round
Já sabíamos que o sexo e a venda de armas eram dos dois negócios mais lucrativos do mundo. A estes junta-se agora a arte: houve um aumento de 20% de lucro bancário relativamente a transações envolvendo arte desde 2002 até ao ano que passou. Em 2006 pensa-se que o valor destas transacções tenha sido de cerca de 30 biliões de euros. E não é necessário ser-se um apreciador de arte, um benemérito, um esteta: a arte é hoje um negócio que faz os seus milionários e que conta, como em todos os negócios, com uma corte de entendidos que opina e investiga o valor de determinada aquisição, o potencial de determinado artista, a via que o mercado vai tomar, as tendências. Como nem toda a gente tem possibilidade de investir em obras de arte, criaram-se em alguns países investimentos em arte que funcionam da seguinte forma: cada aspirante a coleccionador investe uma quantia já definida para esse fundo e torna-se assim proprietário, juntamente com os outros investidores, de uma obra de arte, que por ser de todos (e ninguém no fundo a querer), é vendida. Todos lucram.
A loucura chegou também às salas de cinema (parece um anúncio publicitário): Adrien Brody fez de Capa (a sair este ano), Javier Bardem está em "Goya's Ghosts", John Malkovich em "Klimt", Ed Harris foi Jackson Pollock, Salma Hayek foi Frida Kahlo, Colin Firth foi Vermeer em "A rapariga com o brinco de pérola", até Andy Garcia esteve em Modigliani e Joe Mantegna em "Pontormo", Anthony Hopkins em "Sobreviver a Picasso", Kirk Doglas a fazer de Van Gogh em "Lust for Life". O último foi "Fur", com Nicole Kidman no papel da fotógrafa Diane Arbus. A forma como se filmam os artistas hoje acompanha o crescente interesse pela arte, havendo desta forma uma estetização total, quase higiénica de tudo a que a eles diz respeito. As biografias cinematográficas de artistas têm tendência para tornar as personagens belas e enigmáticas, muito mais interessantes do que aquilo que realmente foram. Há um crescendo na narrativa que faz com que a última pincelada e o último suspiro se manifestem no mesmo momento. O problema é que estes filmes são sucessos parciais; ou seja, são muito divulgados no momento, abarcam uma faixa pequena de espectadores de cinema, mas não ficam muito tempo em exibição; não são sucessos de bilheteiras. Em parte porque os filmes parecem ser filmados como os filmes de suspense - há um auge em que tudo pode acontecer e isso aplicado à obra de arte torna-a uma atracção de feira - em parte porque é muito mais interessante ver capitalizado um investimento em arte do que tomar contacto com ele.
- short stories -

Do casamento, "Do Amor e outros demónios" na Formiga Bargante.



terça-feira, janeiro 02, 2007

- original soundtrack -

All I need is a little time,
To get behind this sun and cast my weight,
All I need is a peace of this mind,
Then I can celebrate.



All in all there's something to give,
All in all there's something to do,
All in all there's something to live,
With you ...



(Air, All I need)
- short stories -

- Que foi?
- Que foi o quê?
- O que é que tens?
- Sinto-me triste.
- Triste como? Muito triste, mais ou menos triste, pouco triste, nada triste...
- "Nada triste"? Se fosse "nada triste" não era "triste".
- Então como é "triste"?
- Assim como se me faltasse qualquer coisa que eu já tive e perdi. É como quando em criança te deixaram entrar pela primeira vez na sala para assistires, por breves momentos, ao serão dos adultos. Quando te despedes das pessoas e voltas para o quarto pensas: "já não consigo viver sem isto, sem ir à sala todos os dias quando eles lá estão". E no entanto consegues porque antes de ires não sabias como era e vivias bem.
- O que é que queres dizer com essa história?
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois, ou "a tua sorte é estares morto", ou "não sei porquê a questão, a gravura foi muitas vezes copiada", ou "sim, mas este era o Manet" ou "ainda acreditas no Pai Natal?" ou "não, mas era o Manet", ou "oh colega, como ele outros" ou "isso não inibe a minha estupefacção" ou "posta lá isso e vamos embora" ou "já está":

Marcantonio Raimondi
The judgement of Páris
1510-1520
Met, Nova Iorque


Manet
Dejeuner sur l'herbe
1863
Musée d'Orsay, Paris
- short stories -



Apresentada pela primeira vez no Metropolitan's Opera em 2004, a ópera a Flauta Mágica foi "adaptada" para cinema. Assim, em salas japonesas, iglesas e norueguesas foi possível assistir a esta ópera. Nada garante que tal iniciativa leva mais público à ópera, mas já é um começo.