- não vai mais vinho para essa mesa -
money makes the world go 'round
Já sabíamos que o sexo e a venda de armas eram dos dois negócios mais lucrativos do mundo. A estes junta-se agora a arte: houve um aumento de 20% de lucro bancário relativamente a transações envolvendo arte desde 2002 até ao ano que passou. Em 2006 pensa-se que o valor destas transacções tenha sido de cerca de 30 biliões de euros. E não é necessário ser-se um apreciador de arte, um benemérito, um esteta: a arte é hoje um negócio que faz os seus milionários e que conta, como em todos os negócios, com uma corte de entendidos que opina e investiga o valor de determinada aquisição, o potencial de determinado artista, a via que o mercado vai tomar, as tendências. Como nem toda a gente tem possibilidade de investir em obras de arte, criaram-se em alguns países investimentos em arte que funcionam da seguinte forma: cada aspirante a coleccionador investe uma quantia já definida para esse fundo e torna-se assim proprietário, juntamente com os outros investidores, de uma obra de arte, que por ser de todos (e ninguém no fundo a querer), é vendida. Todos lucram.
A loucura chegou também às salas de cinema (parece um anúncio publicitário): Adrien Brody fez de Capa (a sair este ano), Javier Bardem está em "Goya's Ghosts", John Malkovich em "Klimt", Ed Harris foi Jackson Pollock, Salma Hayek foi Frida Kahlo, Colin Firth foi Vermeer em "A rapariga com o brinco de pérola", até Andy Garcia esteve em Modigliani e Joe Mantegna em "Pontormo", Anthony Hopkins em "Sobreviver a Picasso", Kirk Doglas a fazer de Van Gogh em "Lust for Life". O último foi "Fur", com Nicole Kidman no papel da fotógrafa Diane Arbus. A forma como se filmam os artistas hoje acompanha o crescente interesse pela arte, havendo desta forma uma estetização total, quase higiénica de tudo a que a eles diz respeito. As biografias cinematográficas de artistas têm tendência para tornar as personagens belas e enigmáticas, muito mais interessantes do que aquilo que realmente foram. Há um crescendo na narrativa que faz com que a última pincelada e o último suspiro se manifestem no mesmo momento. O problema é que estes filmes são sucessos parciais; ou seja, são muito divulgados no momento, abarcam uma faixa pequena de espectadores de cinema, mas não ficam muito tempo em exibição; não são sucessos de bilheteiras. Em parte porque os filmes parecem ser filmados como os filmes de suspense - há um auge em que tudo pode acontecer e isso aplicado à obra de arte torna-a uma atracção de feira - em parte porque é muito mais interessante ver capitalizado um investimento em arte do que tomar contacto com ele.
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