quinta-feira, novembro 30, 2006

(...)
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou só sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!
(...)

(Lisbon Revisited, Álvaro de Campos)
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

Católicos – 1 Protestantes – 1
Caro am, a isto é que se chama um empate técnico. Rubens foi o pintor da Contra-Reforma católica e dos príncipes absolutistas. Pintou para tantas cortes que teve de criar uma espécie de manufactura onde os aprendizes é que faziam todo o trabalho ficando a cargo do artista o esboço e a pincelada final. Rembrandt por seu lado, destoa dos seus colegas de barroco por ter preferido ficar nos países baixos, não foi para Itália. Foi o pintor mais representativo do protestantismo burguês. Rubens é um sensualista, Rembrandt um intelectual, Rubens influenciou ou classicistas franceses, Rembrandt os românticos ingleses.


Peter Paul Rubens
The Descent from the cross
1611-1614
Catedral da Antuérpia




Rembrandt
Descent from the cross
1634
Hermitage, S. Petersburgo

quarta-feira, novembro 29, 2006

- original soudtrack -

(Eu tenho uma "License to Kill", cantada pela Gladys Knight e passada pela DGV):

Hey baby, thought you were the one who tried to run away.
Ohh, baby, wasn't I the one who made you want to you?
Please don't bet that you'll ever escape me
Once I get my sights on you.

Got a license to kill (to kill)
And you know I'm going straight for your heart.
(Got a license to kill)
Got a license to kill (to kill)
Anyone who tries to tear us apart.
(Got a license to kill)
License to kill.

Hey baby, think you need a friend to stand here by your side?
Yes you do (your side)
Ohh, baby, now you can depend on me to make things right (things right)
Please don't bet that you'll ever escape me
Once I get my sights on you

Got a license to kill (to kill)
And you know I'm going straight for your heart.
(Got a license to kill)
Got a license to kill (to kill)
Anyone who tries to tear us apart.
(Got a license to kill)

Say that somebody tries to make a move on you
In the blink of an eye, I will be there too
And they better know why I'm gonna make them 'em pay
Till their dying day
Till their dying day
Till their dying day
(...)

(License to Kill, Gladys Knight)
vídeo
- não vai mais vinho para essa mesa -


- Estou sim boa tarde, Stand Desvalorauto. Em que posso ser-lhe útil?
- Humm… Eu estive a ver o vosso catálogo na Internet e queria encomendar um 35C45 e um 67V887.
- Está a encomendar dois carros pela Internet? Não vem ao stand ver os carros? Não per…
- Eu sei, devia ver a cor, não é? Olhe, o primeiro é em preto e o segundo em cinzento.
- Para levar hoje?
- Para levar agora. E um deles é para ir a comer pelo caminho!
….
- Estava a brincar, era uma piada.
- Eu percebi. Só não percebi como é que encomenda logo dois carros.
- É que se acabar a gasolina no primeiro, tenho sempre o segundo.
- não vai mais vinho para essa mesa -


- short stories -

“Quatro Quartas com contos”
Às quartas, até ao Natal e tendo como mote o célebre bolo “quatro quartos com laranja”, contamos alguns contos de Natal. Na Formiga. (What are you waiting for?)

terça-feira, novembro 28, 2006

- original soundtrack -


You can run on for a long time
Run on for a long time
Run on for a long time
Sooner or later God'll cut you down
Sooner or later God'll cut you down

Go tell that long tongue liar
Go and tell that midnight rider
Tell the rambler,
The gambler,
The back biter
Tell 'em that God's gonna cut 'em down
Tell 'em that God's gonna cut 'em down

Well my goodness gracious let me tell you the news
My head's been wet with the midnight dew
I've been down on bended knee talkin' to the man from Galilee
He spoke to me in the voice so sweet
I thought I heard the shuffle of the angel's feet
He called my name and my heart stood still
When he said, "John go do My will!"
(...)

(God's gonna cut you down, Johnny Cash)
vídeo oficial
vídeo (tributo)
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois:

A primeira com um sentimentalismo exagerado, encenado, a segunda mais contida. A primeira mais definida, a segunda mais difusa. A primeira com uma Nossa Senhora em lugar estratégico, a segunda com a Mãe de Cristo diluída. (Eu prefiro a primeira).

Caravaggio
The Entombment
1602-1603
Pinacoteca do Vaticano



Rubens
The entombment
1611-1612
National Gallery of Canada, Ottawa
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

Graham Coxon
vs
Franz Kline


na Tate.
(Ouvir mesmo, só em Dezembro. Os trabalhos de Setembro e Outubro já podem ser ouvidos on-line)
- não vai mais vinho para essa mesa -

Mãe Natal – Estive a falar com o Dr. Barros e pensei muito…
Pai Natal – Sim?!
Mãe Natal - Sabes, o Dr. Barros, o nosso advogado.
Pai Natal - Mau!!! Tu só vais ao advogado por duas coisas: partilhas ou divórcio. Visto que não nos morreu ninguém, não me digas que vens outra vez com essa história de divórcio?
Mãe Natal - “Outra vez com essa história de divórcio”? Tu nem sequer és capaz de falar comigo enquanto dizes isso.
Pai Natal - Estou ocupado, Sabes que nesta altura do ano é tramado.
Mãe Natal - Tramado estás tu meu menino, quando eu te acusar de negligência familiar.
Pai Natal - Isso não existe!
Mãe Natal - Passa a existir. Tu passas horas nisso. Tratas melhor o teu blog do que a tua família, neste caso, eu, já que o blog substitui o filho que não queres ter. Sabes há quantos anos estamos casados, sabes?
Pai Natal - Fez no passado dia 5 de Novembro, 7 anos.
Mãe Natal - Exactamente. E um filho que era bom, nada!
Pai Natal - Mas para que queres um filho?
Mãe Natal - Querias antes que eu tivesse um blog, não!
Pai Natal - Não é isso. Como é que vais explicar ao teu filho, ao filho do Pai Natal, quem é o Pai Natal.
Mãe Natal - Caramba, desarmas-me sempre.
Pai Natal - Anda aqui bebézinha. Senta-te na minha sábia perna e pede um desejo ao teu Pai Natal, minha gatinha com cio. Who’s your daddy?
Mãe Natal - Ó papi, não faças isso que me desarrumas, seu doido da blogosfera.

segunda-feira, novembro 27, 2006

- original soundtrack -


In a Manner of speaking
I just want to say
That I could never forget the way
You told me everything
By saying nothing

In a manner of speaking
I don't understand
How love in silence becomes reprimand
But the way that i feel about you
Is beyond words

Oh give me the words
Give me the words
That tell me nothing
Ohohohoh give me the words
Give me the words
That tell me everything

In a manner of speaking
Semantics won't do
In this life that we live we only make do
And the way that we feel
Might have to be sacrificed

So in a manner of speaking
I just want to say
That just like you I should find a way
To tell you everything
By saying nothing.

Oh give me the words
Give me the words
That tell me nothing
Ohohohoh give me the words
Give me the words
That tell me everything

(In a manner of speaking, Tuxedomoon)
vídeo
- não vai mais vinho para essa mesa -

Um pintor enjoativo abafado por uma teoria contraditória, perigosa e que não foi a cura para todos os males, ou Não gosto de Jaques Louis David que embora não seja um orientalista como Ingres (que bonita a eugenia!!!) não deixa de ser mauzinho, fracote.


Não se pode retirar à Revolução Francesa o bem mundial de separar do respectivo corpo e autonomia, algumas cabeças coroadas e menos bem pensantes da aristocracia francesa. Cresce em nós uma pena falsamente saudosista em imaginar a cabeça da Kristin Dunst decepada, mas a Revolução teve razões que a própria Revolução desconheceu. Salvou-se ilustríssima personagem de Luís XV que se pelo menos não brilhou tanto como o seu antecessor Rei-Sol (“Le Roi Danse”), gozou dos favores terrestres junto de uma Madame du Barry com carnes mais rijas e sem sombra da feiura da nossa Mariana Vitória, que rejeitada por este em plena infância, foi transferida por bula papal para os braços de D. José de Portugal.

A Revolução francesa, sobre a qual este post não pode versar a fundo, levantou-me há tempos várias questões, motivadas não somente pelo filme, mas por leituras daqui e dali e por um quadro de Jaques Louis David. Ora tão nobre senhor, não me suscita a mínima curiosidade pela vida e pouquíssima pela labuta, não versasse esta sobre o que versa e não tivesse sido este o homem que amestrou Ingres. Já se vê pela obra do primeiro a falta de rasgo na obra do segundo, sempre muito preso aos ismos e mesmo quando liberto de um ismo literal e raptado na sua curiosidade pela fotografia, não deixou de soltar um “a fotografia é melhor do que o desenho, mas não é preciso dizê-lo”. Ingres socorria-se dos daguerreótipos fresquinhos que depois deveria menosprezar em reuniões com amigos e frente à última pincelada de um quadro de entronização.

A Revolução Francesa tinha o belo propósito de tornar mais igual uma sociedade dividida por uma desigualdade irreversível. Acabou por ser uma reviravolta na organização social, no posicionamento do poder e na história ao cometer os primeiros casos de “mal absoluto”. A procura desta sociedade mais justa, que corrompia os outros levando-os a procurar no seu íntimo um regresso às origens arrancou dos peitos desejosos dos românticos o mais profundo dos “ais” e a justificação para os ismos que conhecemos: “o exotismo”, a busca do “orientalismo”, o “sentimentalismo”. Já mais tarde, quando a arte entrava no Realismo pela mão teórica de Proudhon este referiu que propriedade era crime, o que no fundo queria dizer que a legitimação da posse de qualquer bem apenas seria concretizada se esse bem fosse resultado do trabalho. Proudhon não inventou nada de novo, pois já em cerca de 1650 uma seita herética inglesa denominada “diggers”, recusava o direito a propriedade privada pois a “verdadeira liberdade reside no livre usufruto da terra”. Não encaro portanto estes dois movimentos quer na sua base política quer na sua expressão artística como totalmente antagónicos, uma vez que um levou a outro; só os ideais da Revolução Francesa permitiram ao Homem o seu exílio e mais tarde a consciência de si mesmo, do seu valor e do valor do seu trabalho, elevando a sua condição. Aqui reside a diferença: os românticos preferiam contemplar, os realistas tinham de se fazer à vida. Os românticos que contemplavam, não eram o povo com que se enchia a boca para falar de Revolução

Não esquecendo Ingres, as suas declarações polémicas e o seu professor, há que ter em conta a mui famosa “Morte de Marat”. Marat era um político proeminente, deputado, votante enfileirado a favor da execução do rei, redactor de um jornal - "O amigo do povo" (também em versão on-line) - e um dos cérebros da Revolução. Mas como sabemos, a fama de um homem geralmente deve-se mais ao que não fez, ou ao que fez sem pensar do que ao seu talento. Marat tinha sido, até à altura em que publicou em Inglaterra um texto intitulado The Chains of Slavery, em que propunha a punição de toda a aristocracia e burguesia devido aos seus ataques ao povo um renegado social, um inadaptado. Foi “agarrando-se ao povo” que Marat foi sucessivamente banido e aceite na Revolução, por defender ideais tão extremistas. Um demagogo, portanto, mesmo na hora da morte e sobretudo depois de morto.

Charlotte Corday
(pintor anónimo)


Jacques Louis David não lhe ficava atrás em termos de militância pois era director da Fête de la Revolution, uma espécie de festival onde se oferecia ao povo uma série de entretenimentos à semelhança do que antes a nobreza fazia nas festas com arquitecturas efémeras e recurso a meios “de ponta”, e do que a própria Igreja também fazia nas suas procissões e festas. Só por isso a Revolução Francesa mostra a sua fragilidade, uma vez que é dos elementos que abominando a aristocracia e o clero, socorre-se dos mesmos artifícios para os mesmos fins: angariar fãs. A obra que Jaques Louis concebeu não só deve ter batido o recorde de “obras de arte realizadas no mais curto espaço de tempo” (Marat morre em 1973 e o quadro é pintado nesse ano), como também permitiu o espanto dos seus correligionários por um retrato tão pungente: de político a mártir. O que ele nos mostra na forma tanto se aproxima de voyeurismo (e nós, de simples consumidores da desgraça alheia), como da propaganda. Voyeurismo porque não hesita em ir buscar os aspectos mais comezinhos da morte, todos os pormenores passados de boca e boca e que ficavam assim condensados numa pintura como se esta pudesse ser a ilustração das notícias faladas. Propaganda porque apela à lagrimazinha, ao sentimento fácil: Marat morto, despido da cintura para cima, a banheira como uma ara, um altar sacrificial, o seus rosto pálido, o papel na mão com escritos a favor do bem do povo, sem sinais de luta, apanhado desprevenido, “o coitado!”.

Jaques Louis David
Death of Marat
1793
Musées Royaux des Beaux-Arts, Bélgica



Anibal Carracci
Pietá
1599-1600
Museo Nazionale di Capodimonte, Nápoles


A forma de apresentar o corpo de Marat não é casual, uma vez que nas Descidas da Cruz e nas Pietás, Cristo é muitas vezes representado como rosto voltado para o observador e apoiado no ombro. Convém acrescentar que na véspera da morte de Marat, David visitou-o e foi exactamente na banheira que o viu pela última vez. Não pintou a realidade do que viu; ou seja, o local onde se encontrava a banheira tinha, a enquadrar esta, uma pintura que aqui não aparece para não distrair, bem como para nos mostrar o quão simples era a vida de Marat e que acaba por ter o mesmo efeito do dourado das pinturas de início do Renascimento. Também as marcas de pele que Marat tinha devido a uma doença, desapareceram, e o bilhete que exigia o bem-estar do povo nunca foi encontrado.

Depois de uma grande travessia no deserto, que certamente não será a última, voltamos aos posts grandes. Ao contrário do que Maria Rita diz (“Não sou freira nem sou puta”), não conseguimos encontrar o meio-termo: ou sou freira, ou sou puta. Excedi-me, serei o quê?
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

Antes, depois e muito depois:

Réne Magritte
Les eaux profondes
1941
Colecção particular


Imagem de "The Birds" de Alfred Hitchcock, 1963


fotografia de Eugenio Recuenco, o senhor que fez as fotografias do calendário Lavazza 2007, inspirado nos heróis de BD e nas pinturas de Hopper.
- short stories -

(Mais ético que isso, só se a devolvesses)
Visão: Sente confortável, ao regressar, depois de ter recebido uma indemnização [pouco mais de cem mil euros] para se afastar?
Pedro Burmester: Sim, eticamente sinto-me confortável. Não fiz nada de incorrecto e achei a indemnização proposta – e nunca pedida – pela administração de então justa e legal.

(Sê menos frugal nas explicações. Números; eu preciso de números)
“Tenho pena de não te ter conhecido noutra altura e de outra forma.”

domingo, novembro 26, 2006

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

...vita muito brevis. Mário Cesariny (1923-2006):

Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.

É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das caras e dos dias.

Tu és melhor - muito melhor!
Do que tu.
Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.

(Faz-me o favor..., Mário Cesariny)
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

Quando a Jenny não pagou a renda...

Pipilotti Rist
Open the glade
2000
Times Square, Nova Iorque

e os truísmos da Jenny:
- the cruelest disappointment is when you let yourself down
- the desire to reproduce is a death wish
- the family is living on borrowed time
- the idea of revolution is an adolescent fantasy
- the idea of transcendence is used to obscure oppression
- the idiosyncratic has lost its authority
- the most profound things are inexpressible
- the mundane is to be cherished
- the new is nothing but a restatement of the old
- the only way to be pure is to stay by yourself

sexta-feira, novembro 24, 2006

- original soundtrack -



My name is Lolita and I'm not supposed to play... with boys!

What? Mon coeur est a papa. You know, le proprietaire. No!

While tearing off a game of golf,
I may make a play for the caddy,
but when I do, I don't follow through
'cause my heart belongs to daddy.

If I invite a boy some night
to dine on my fine finnan haddie,
I just adore his asking for more, but,
my heart belongs to daddy.

Yes, my heart belongs to daddy, so I simply couldn't be bad.
Yes my heart belongs to daddy.
So I want to warn you laddie,
though I know that you're perfectly swell,
that my heart belongs to daddy cause my daddy he treats it so..

While tearing off a game of golf,
I may make a play for the caddy,
but when I do, I don't follow through,ooh, daddy.

If I invite a boy some night
to cook up a fine enchilada,
though spanish rice is all very nice...

my heart belongs to my daddy so I simply couldn't be bad.
So, I want to warn you laddie,
though I know that you're perfectly swell,
that my heart belongs to my daddy
'cause my daddy he treats it..so...
That little old man he just treats it so good!


(My heart belongs to daddy, Marilyn Monroe)
vídeo

-mãe, a maçã tem bicho -


Caravaggio
The Incredulity of Saint Thomas
1601-1602
Neus Palais, Potsdam

Tu também leste Lacan?*

* Lacan esqueceu-se do outro lado da experiência humana.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

Há Goyas para tudo:

Francisco Goya
Não há quem nos desate?
(Os caprichos)



Alfred Hitchcock
The Birds
1963



Francisco Goya
Os Desastres da guerra
1863



Jake e Dinos Chapman
Great Deeds! Against the dead!
1994