sábado, setembro 30, 2017

Caro Guo Xi

Quem lhe escreve é a Sofonisba Anguissola. A beluga solicita-me que peça desculpa por não ter respondido antes, mas foi uma semana difícil. Não farei a defesa da Princesa Diana em termos absolutos, mas somente em relação ao tempo em que a conhecemos: os anos 80 e 90. Os anos 80, de facto, e como deve saber daqui, não foram muito simpáticos para a figura humana: a moda dessa década padecia do horror vacui e por isso era necessário muito pouco para se ser uma drama queen (ou king). E ela, aconselhada pelos designers da época cometeu todos os crimes de moda que possamos imaginar. Mas como digo, a culpa não era dela, mas do tempo dela. Lembra-se da Dinastia ou do Dallas? Uma jovem de vinte e poucos anos surgia ali como a Jackie Collins que tinha... puf... ninguém sabia que idade ela tinha! Um vestido podia ter uma só manga com folhos, ser drapeado, estampado, curto à frente e com cauda. Tudo num só vestido. Só nos anos 90 é que a imagem dela se tornou mais jovial, porque a moda também se tornou uma coisa menos elitista e passou a estar disponível a mais pessoas. As modelos eram-no cada vez com menos idade e o leque de opções tornou-se mais alargado. O vestido às bolas no Japão é enjoativo face aos padrões de hoje. Quem é que veste integralmente bolas vermelhas? Só as moças vintage. Mas face ao seu tempo, foi um fashion statement. E deve ter sido divertido.
 


 

quinta-feira, setembro 28, 2017

é minha impressão ou o Rui Moreira pintou o cabelo? e se sim, qual é o tom? Garnier 255-Asa de Corvo? Olia 323-Ébano do Bornéu? Ou será o especial da L'Oréal - Hommage pour António Calvário?

quarta-feira, setembro 27, 2017

- o carteiro -

aialta*

ele - temos de falar.
eu - sim.
ele - como sabe, vou reformar-me no final do ano. Você era a única paciente que eu ainda atendia pois nestes últimos tempos tenho passado as consultas para a Dra. X.
eu - sim...
ele - como tem passado?
eu - bem.
ele - então o que fazemos? Passo-a para ela?
eu - Não. O que tinha ficado combinado, já na consulta de Junho ou Julho, era que esta seria a nossa - a minha, para falar a verdade - última consulta.
ele - Veja lá, se sentir que precisa posso passar o seu processo para ela.
eu - Não, claro que não! Para falar do quê?
ele - Foi isso que eu pensei.
eu - Tenho pena que se vá reformar.
ele - Eu não! Há tantas coisas que quero fazer e às quais não me dedico por causa da psiquiatria. Não nasci psiquiatra e acho que não devo morrer psiquiatra.
eu - Veja lá, não fique deprimido! Ainda me vai entrar aí numa anorexia ou coisa que o valha!
ele - Acho que não...
eu - bom, então é agora que nos despedimos...
ele - sim..., mas sabe que sempre que necessitar de alguma coisa, pode contactar-me.
eu - caramba, foram vinte anos. Quer dizer... quase vinte.
ele - posso ir ver ao computador.
eu - não... foi há tanto tempo que os processos ainda eram em papel.
ele - ...
eu - ...
ele - então... agradeço-lhe...
eu - não, eu é que lhe agradeço. sabe que isto tudo, estas nossas consultas podiam ter corrido muito mal.
ele - pois podiam. e você deu luta!
eu - fui uma anorética aplicada!
ele - ...
eu - agradeço-lhe a ajuda, o facto de nunca ter feito disto uma lamechice, o bom humor e até o lado educativo destas vindas aqui.
ele - sabe que não tenho muito jeito para ouvir essas coisas... mas também lhe agradeço por ter tornado estas consultas mais interessantes, inteligentes e até criativas.
eu - também não tenho muito jeito para ouvir essas coisas...
ele - ...
eu - bom, eu vou indo para a porta...
ele - adeus.
eu - adeus.

* a alta

terça-feira, setembro 26, 2017

- original soundtrack -

tão bonitinha esta música... É dos Jackson 5, mas descobri uma versão melhor (não gosto da voz de menino do Michael Jackson nesta música) do que a original, cantada por uma moça - vá gozem à vontade - que participou num concurso de talentos na Holanda e agora é "big in L.A.". Vejam o link e gozem à vontade comigo. Eu, arrepio-me e isso é mais importante que manter uma certa ideia de intelectualidade. Isso e o verso "And I wonder, who's loving you?"

When I had you
I treated you bad
And wrong my dear
And girl since,
Since you went away
dontcha know?
I sit around
with my head hangin' down
And I wonder
Who's loving you

I, I, I, I should have never ever
Ever made you cry
And girl since
Since you been gone
Dontcha know
I sit around
with my head hangin' down
And I wonder
Who's loving you

Life without love
Is oh so lonely
I dont think
I dont think
I'm gonna make it

All my life
All my life, yeah
belongs to you only
Come on and take it girl
Come on and take it!
Because,
Ahhhh
All I can do
All I can do
Since you been gone is cry
And you, oooh

Dontcha know?
I sit around
With my head hanging down
And I wonder
Who's lovin' you
(Who's lovin you)
Who's lovin you.....

(Who's loving you, Jackson 5, interpretação de Jennie Lena)
- não vai mais vinho para essa mesa -

aquele momento, antes de te deitares, em que colocas no rosto creme de dia em vez de creme de noite e depois, para enganar a pele, dormes com a luz acesa. 
- o carteiro -
 
dizem que por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher. eu acrescento, porque serve o propósito deste post, que por cima de uma dessas grandes mulheres que está atrás de um desses grandes homens, está sempre um vestido irrepreensível. Já sei que estão a pensar: "mas que fútil que ela é!". Pois sou. Mas mesmo assim resolvi-me a escrever sobre a diplomacia e o vestir. Porque a roupa fala e não é ouvida somente por quem se move no meio da moda. E porque mesmo quem tenta tapar os ouvidos, não fecha os olhos.
 
Um dos melhores exemplos de como uma peça de roupa pode aproximar culturas diferentes e elevar a outro patamar os seus intervenientes, é o vestido às bolas que a ida Princesa Diana usou na viagem oficial ao Japão em 1986. Vocês podem pensar que o vestido não tem nada de especial, mas posso dizer-vos que tem. Não estava incluído na lista de indumentárias que a princesa iria usar nessa visita oficial, mas foi adquirido antes mesmo da viagem e foi de facto uma escolha inteligente já que as bolas vermelhas sobre fundo branco, mimetizam a bandeira do Japão. É uma homenagem ao país, à sua cultura e como que um sinal de abertura do Ocidente ao Oriente. Não que o Oriente se preocupasse com isso, mas o vestido mostra uma preocupação em agradar, em integrar, o que nunca foi apanágio da Grã Bretanha.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Outros momentos que revelam a inteligência na escolha do que vestir, foram as visitas oficiais realizadas a países islâmicos como o Egipto e o Paquistão. Tanto nunca caso como no outro a princesa vestiu trajes em tons de verde. Para nós pode não significar nada, mas para o Islão o verde é a cor do profeta, ou pelo menos do seu turbante. E quais as cores da bandeira do Paquistão? Verde e branco. Ora nem de propósito, verde a branco eram as cores da bandeira do Egipto entre 1922 e 1958, sendo que em ambas está presente o crescente e as estrelas, símbolo que para os muçulmanos equivale à cruz nas suas diversas formas, usada na linguagem pictórica do Ocidente.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Paquistão, 1996
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Egipto, 1992
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A roupa passa mensagens, comunica quando as palavras não o podem fazer ou não são suficientes. Um vestido preto num funeral, fala de luto, de dor e de tudo aquilo que as palavras, nestas ocasiões, não conseguem dizer. (Se for numa festa - com um simples vestido preto em nunca me comprometo - assegura uma noite sem vergonha nem tendência para o ridículo. Como diria uma personagem de um livro: é bonito e não ofende). Não terá sido por isso de estranhar que quando, no final do ano passado, Hillary Clinton se dirigiu aos apoiantes após a sua derrota, vestiu um dos seus tradicionais fatos (calças e casaco) em tons roxo e preto, que, mais do que as cores do luto, são as cores de uma união que deve ter sido um sapo difícil de engolir para os democratas. Nessa mesma ocasião, o antigo presidente Bill Clinton apresentou-se com uma gravata roxa sobre fato preto. Há quem diga que o roxo fala de união, enquanto preto fala de dor. Temos de voltar um pouco mais atrás para compreender esta ideia de união. Nos seus três debates televisivos com Trump, Hillary vestiu o mesmo modelo de fato (calças e casaco) em três cores: no primeiro debate vestiu vermelho, no segundo, optou pelo azul escuro e no terceiro o tom foi o branco. Foi dito na altura que Hillary usava o branco em homenagem às sufragistas, que escolheram essa cor para o seu movimento. As outras duas cores, azul e vermelho, representam os dois partidos americanos: vermelho para os republicanos e azul para os democratas. Ora o roxo é não mais que a mistura dessas duas cores e de facto, no seu discurso, a candidata derrotada falou de união:
 
"We have seen that our nation is more deeply divided than we thought…But I still believe in America, and I always will. And if you do, then we must accept this result and then look to the future."
























Quando mostramos preocupação com a roupa, com o vestir - e ainda mais porque falamos de sapatos há pouco tempo - as pessoas tratam-nos por vezes de forma condescendente como se o vestuário e a preocupação com ele devesse ser somente ao nível das satisfação das necessidades básicas (estar quente, estar coberto) e tudo o resto fosse uma futilidade. Pode até ser e os exemplos que trago em seguida mostram o vestuário mais como forma de diversão, do que de comunicação ou interação a um nível tão elevado quanto o uso do verde no Paquistão. Em dois momentos diferentes, as mulheres da família real monegasca mostraram saber vestir com inteligência, humor e, mais importante de tudo (e certamente uma das regras de bem vestir), de acordo com a ocasião. Eis pois a Princesa Charlotte do Mónaco na inauguração de um Clube de Vela em Monte Carlo a usar um vestido com um estampado de guarda sóis abertos e outros fechados e a Princesa Charlene a usar, aquando de uma das edições do Grande Prémio de Monte Carlo, um vestido com um estampado que imita o rasto deixado por um carro em alta velocidade (vêem o carro de corrida a azul/verde do lado direito?). Não sei se isto é diplomacia, mas é sem dúvida divertimento, o que de resto corrobora a ideia subjacente a algumas destas pequenas monarquias: são decorativas. E não há mal nisso. Antes decorativas que aborrecidas.


 
- o carteiro -

[1]
Não sabe o que ler? Equaciona Norah Roberts? O Peixoto tenta-o? Antes que esse problema se transforme num caso de saúde pública, consulte este site.

[2]
Agora que os selecionados de 2017 vão a exposição, é altura de nos perguntarmos "What Has the Turner Prize Ever Done for Us?"

[3]
um triste amanhecer...

[4]
Objectivo 2018

sexta-feira, setembro 22, 2017

- o carteiro -


(Vou-me embora pra Pasárgada, Manuel Bandeira)

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

quarta-feira, setembro 20, 2017

Caro Jorge
 
Não nos conhecemos (acho eu), mas vou trata-lo por Jorge. Peço desculpa por responder somente agora. Apesar de ter apagado o seu primeiro comentário, sei o que comentou pois o Blogger guarda isso tudo. Nada lhe escapa, malgré nous!... É pois a esse comentário que vou responder, apaziguada que está a cólera da guilda de São Lucas, mais preocupada com o preço dos pincéis de marta e do lápis-lazúli do que com o século XXI. Permita-me que discorde de si quanto aos rostos em Vermeer. Não me parece sequer que o Vermeer estivesse preocupado com as expressões faciais, até porque nos seus quadros a temática não permite variar as expressões faciais. Vejamos que os seus coetâneos também não abusam da expressão facial, à excepção das cenas de taberna, talvez. Acho que para o Vermeer a pessoa era só um veículo para um acto, um gesto, esse sim repleto de pontos de interesse, de pormenor e que ele escalpelizava com todo o afinco. Quanto à rapariga do brinco de pérola, ela parece-me apanhada como numa fotografia. Sabe quando somos chamados, olhamos para trás e alguém dispara a máquina? Assim mesmo. Há um outro quadro, para além deste da Rapariga com o Brinco de Pérola, onde o rosto é de facto o rosto de alguém em particular. Com ou sem expressão, não sei (não sei se no século XVII as expressões faciais eram assim muito variadas). Trata-se de Girl With a Red Hat (aqui)
 
Desculpe discordar de si.
Mas volte sempre que desejar!




 

terça-feira, setembro 19, 2017

- original soundtrack -
 

















Estava em casa, na varanda, a olhar para a cidade e para as mil luzes da noite e lembrei-me desta música:
 
Are you lonesome tonight,
Do you miss me tonight?
Are you sorry we drifted apart?
Does your memory stray to a brighter sunny day
When I kissed you and called you sweetheart?
Do the chairs in your parlor seem empty and bare?
Do you gaze at your doorstep and picture me there?
Is your heart filled with pain, shall I come back again?
Tell me dear, are you lonesome tonight?
 
I wonder if you're lonesome tonight
You know someone said that the world's a stage
And each must play a part.
Fate had me playing in love you as my sweet heart.
Act one was when we met, I loved you at first glance
You read your line so cleverly and never missed a cue
Then came act two, you seemed to change and you acted strange
And why I'll never know.
Honey, you lied when you said you loved me
And I had no cause to doubt you.
But I'd rather go on hearing your lies
Than go on living without you.
Now the stage is bare and I'm standing there
With emptiness all around
And if you won't come back to me
Then make them bring the curtain down.
 
Is your heart filled with pain, shall I come back again?
Tell me dear, are you lonesome tonight?
 
(Are you lonesome tonight?, Elvis Presley)
- não vai mais vinho para essa mesa -

beluga - então?
beluga - então o quê?
beluga - nunca mais apareceste...
beluga - pois não.
beluga - porquê?
beluga - por nada.
beluga - muito trabalho?
beluga - nem mais nem menos do que o habitual.
beluga - algum problema de saúde?
beluga - não, nenhum. tudo bem da cabeça aos pés.
beluga - um namorado novo?
beluga - nem novo nem velho.
beluga - isso é um sim?
beluga - é um "não tenho namorado se é isso que estavas a perguntar".
beluga - namorada, talvez.
beluga - não.
beluga - hum...
beluga - hum... o quê?
beluga - nada. acho estranho, só isso.
beluga - o quê?
beluga - não haver "mouro na costa"
beluga - "o meu corpo é o meu templo".
beluga - e o coração?
beluga - não separo uma coisa da outra.
beluga - ...
beluga - ...
beluga - lamento que o coração esteja assim.
beluga - não lamentes. não é caso para lamentar. é o que é...
beluga - ...
beluga - ...
beluga - hum... então?
beluga - então nada.
beluga - nunca mais escreveste.
beluga - estou a escrever agora.
- o carteiro -

dizem que nunca se deve avaliar um livro pela capa. não concordo. basta ver as capas dos livros da editora Quinta Essência, por exemplo. O que não se deve avaliar pela capa, é uma pessoa. Para isso, bastam os sapatos:

 
 
E para não dizerem que sou muito crítica, deixo-vos aqui o perfil da beluga a partir de um dos seus pares de sapatos:
(uma vergonha)