sexta-feira, setembro 16, 2016

- original soundtrack -


quinta-feira, setembro 15, 2016

- 11 anos de obelogue -

foi no dia 13, mas passou-me... a fotografia não é grande coisa. a modelo e o bolo pior ainda, mas fica o dia assinalado. 















quarta-feira, setembro 14, 2016

psiquiatra - quer falar sobre isso?
eu - não...

[silêncio]

eu - não. não quero.

[silêncio prolongado]

eu - vamos falar do brexit. ou de outra coisa qualquer.

segunda-feira, setembro 12, 2016

- original soundtrack -

esta é a minha música preferido do novo (acabadinho de sair) álbum do Nick Cave, primeiro após a morte do filho. Este facto poderia ser indiferente, mas não é. Primeiro porque Deus e a perda (morte, separação) estiveram sempre presentes nas suas músicas. Depois porque a transformação que esta morte operou no artista teve efeitos físicos. Ouçam a voz dele; vejam como está diferente. E a letra... meu deus a letra::












Let us go now, my one true love
Call the gasman, cut the power out
We can set out, we can set out for the distant skies
Watch the sun, watch it rising in your eyes

Let us go now, my darling companion
Set out for the distant skies
See the sun, see it rising
See it rising, rising in your eyes

They told us our gods would outlive us
They told us our dreams would outlive us
They told us our gods would outlive us
But they lied

Let us go now, my only companion
Set out for the distant skies
Soon the children will be rising, will be rising
This is not for our eyes

(Distant Sky, Nick Cave and the Bad Seeds)
voltou a acontecer. voltei a perder o mesmo comboio duas vezes. quando cheguei à estação, as portas do comboio estavam a fechar e ele a arrancar. Disse palavrões cabeludos em voz alta e corri em direcção ao metro, quase a tropeçar nos sapatos. Tempo de espera: três minutos. "não vai dar...". Entrei, instalei-me logo no início da composição, a saltitar num pé e no outro. fiz contas de cabeça, contei segundos e quando o metro parou desatei a correr pela rua fora, desci as escadas como uma tótó e... perdi o comboio outra vez. voltei a dizer palavrões cabeludos em voz alta, mas a estação é tão deserta que ninguém ouviu. que fazer? ficar lá a deprimir? não. fazer o caminho de regresso à primeira estação, pela ponte, a pé.

e foi aí que vi aquelas luzes todas dos automóveis, dos sinais de trânsito, das ruas, dos neons e das casas. acho até que vi luzes das lamparinas no cemitério. penso sempre que quem mora ali é gentil, bom, sensível, feliz (gosto de sublimar) e que um dia ainda vou conseguir acender uma luz daquele lado da ponte. só espero que não seja a do cemitério. lagarto, lagarto, lagarto!  
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou "mais uma corrida, mais uma viagem" ou "vamos à vida que a morte é certa" ou "cá vais mais uma comparação entre a arte da Antiguidade e a pintura Neoclássica. Desta vez comparamos uma parte de um fresco de Herculano com um quadro bem conhecido de Ingres. Confesso que não gosto muito de Ingres. Não gosto muito dos neoclássicos. Também não gosto dos Nazarenos, nem do El Greco. Pronto, disse. Sei que não me perdoam não gostar do El Greco, mas aquilo sabe-me mal; sabe-me a círio pascal, que querem? Mas não há dúvida, de facto, que muita da pintura Neoclássica se inspirou em cenas clássicas. Parece quase uma anedota dizer isto: a pintura neoclássica inspirou-se nos frescos, relevos e escultura clássica. Pois então claro que se inspirou: se são ambas clássicas!... Por falar na escultura clássica e na ideia de pureza, brancura e ascetismo que geralmente associamos a esta, vale a pena ver estes três minutos feitos pelo Getty Museum que destroem as nossas certezas burguesas. Mas no que diz respeito a este post e ao Ingres, lembro-me que ando vi a Madame Bovary do Claude Chabrol, reparei que a Isabelle Hupert na cena do baile tinha qualquer coisa de Madame de Ingres; ou seja de uma das muitas madames que o Ingres pintou. Esta pose de Arcádia no fresco não é algo nunca visto, não é uma raridade. Tenho a certeza que mais mulheres foram desenhadas e pintadas com o mesmo ar blasé, a mesma pose. Não é isso que faz a ligação entre o fresco e a pintura - até porque uma segura o ceptro (braço erguido) e outra tem o braço sobre o regaço. o que para mim faz a ligação entre as duas expressões artísticas é aquela mãozinha no rosto. e a gente bem sabe como as mãos são importantes pelo menos para o belogue. um dos autores que melhor pinta mãos é, em minha opinião, o Bronzino. ora vejam lá. mas a mão mais bonita é a do David do Miguel Ângelo. É um cliché, mas é verdade. 





















Hercules and Telephus
Século II
Museo Archeologico Nazionale, Nápoles







































Ingres
Madame Moitessier
1856
National Gallery, Londres
- não vai mais vinho para essa mesa -







































































- o carteiro -

começa daqui a nada mais uma peregrinação a Fátima. fui lá duas vezes e não foi a pé, infelizmente. fui lá quando tinha por volta de 12 anos e lembro-me de ter ficado num hotel que se chamava "Verbo Divino". há noite as meninas resolveram fazer chamadas para o quarto dos meninos e os pais iam desmaiando quando no dia seguinte viram a conta. Mas era mesmo muito importante para as meninas dar a conhecer aos meninos, por telefone, quem gostava de quem. A segunda vez que fui lá foi há uns três anos quando fui ver as grutas de Mira d'Aire e as pegadas de dinossauros. No regresso passei por Fátima para ver a nova Basílica que me pareceu muito barulhenta para um culto que se quer sossegado. 

Se acredito? Não acredito no Deus construído com Constantino, no Deus de secretaria, no Deus das hierarquias. Desde pequena que tinha mais medo do que respeito ou crença. Achava que Deus me castigava quando eu me divertia. E castigava-me com um problema familiar que tive de carregar até aos 18 anos, em silêncio e sem ajuda. Nessa altura acreditei em Nietzsche: Deus estava morto e não me podia ouvir. Quero acreditar que a vida não é em vão, mas quando olho para algumas vidas que conheço, é muito difícil acreditar...

Bom, voltemos a Fátima. Quando as pessoas dizem "tenho muita fé em Nossa Senhora de Fátima" ou "acredito na Santa Rita", o que na realidade estão a dizer é que acreditam em Maria. Todas as santas são uma imagem, ou a renovação da imagem de Maria. É como se a Igreja criasse representantes de Maria e de Jesus (no caso dos santos), mais próximos das pessoas, representantes que conhecem as dores, desejos, idiossincrasias dos crentes. Por isso é que temos a Senhora do Mar junto das comunidades piscatórias, por exemplo. Mas todas as Nossas Senhoras e Santas são uma imagem de Maria. Ir a Fátima a pé é a alternativa possível a ir a Jerusalém a pé para visitar a Abadia da Dormição de Maria.

Há várias formas de representar Maria. Nesse sentido, os ortodoxos são muito mais marianos do que os católicos apostólicos romanos, pois possuem regras de representação muito estritas..., mas vamos lá ver se nos orientamos. 

Imaculada Conceição
Uma das formas de representar Maria é a chamada Imaculada Conceição (ou Imaculada Concepção que se refere na verdade não a concepção imaculada de Jesus, sem pecado original, mas à concepção imaculada, também sem pecado original, de Maria. Atenção que a concepção de Maria sem pecado original não a é no mesmo sentido que atribuímos à concepção de Jesus. Quando Maria foi concebida no seio de Santa Ana, Deus concedeu-lhe a graça de aceitar o que o Anjo mais tarde lhe iria dizer). O dogma da Imaculada Conceição é uma daquelas coisas feitas... na secretaria, já no século XIX. Por decreto papal, a Virgem foi concebida sem pecado! Representar isto era difícil. Embora a Imaculada Conceição só tivesse sido reconhecida no século XIX, já antes se tentava uma representação para tal. A fórmula encontrada foi representar a Imaculada Conceição de pé, coroada por um halo de 12 estrelas, sobre um globo terrestre e a lua, bem como esmagando a serpente. Esta fórmula é uma mistura entre o Livro do Apocalipse: "Depois, apareceu no céu um grande sinal: uma Mulher vestida de Sol, com a Lua debaixo dos pés e com uma coroa de doze estrelas na cabeça. Estava grávida e gritava com as dores de parto e o tormento de dar à luz. Apareceu ainda outro sinal no céu: era um grande dragão de fogo com sete cabeças e dez chifres. Sobre as cabeças tinha sete coroas e, com a sua cauda, varreu a terça parte das estrelas do céu e lançou-as à terra. Depois colocou-se diante da Mulher que estava para dar à luz, a fim de lhe devorar o filho quando ele nascesse. Ela deu à luz um filho varão. Ele é que há-de governar todas as nações com ceptro de ferro. Mas o filho foi-lhe arrebatado para junto de Deus e do seu trono." e as determinações de Murillo e da Inquisição quanto às representações religiosas na arte. As doze estrelas podem ser muita coisa (o que não falta são números místicos): doze tribos de Israel, ou os doze apóstolos. A serpente é a luta do bem contra o mal - venceu o bem - e a Lua... bom, acho que a Lua tem a ver com Vénus. Quer dizer, Vénus e Maria não são comparáveis à primeira vista: uma é a deusa do amor carnal. a outra é espírito. Uma é mãe, a outra é amante. Uma anda nua, a outra vestida. Mas Vénus tem como símbolo um pequeno crescente na cabeça. Talvez porque a Lua, como a Terra, é feminina e ambas representam essas duas dimensões femininas. Uma das representações mais bonitas da Imaculada Conceição é a de Velazquez. Não é que seja a mais representativa disto que escrevo, mas o rosto da Virgem é lindo. Ora vejam lá.





















Tiepolo
Immaculate Conception
1767-1768
Museo del Prado, Madrid

 Virgem com o Menino
Ora bem, a Virgem com o Menino "são mais 500", como se costuma dizer pois a simples representação da Virgem com o Menino tem, para os ortodoxos, várias sub-representações. Já falei delas aqui, mas vou voltar a falar. Note-se que estas representações aquiropoetas são típicas da iconografia bizantina e não das representações ocidentais. Mesmo a divisão em termos de denominação é tipicamente bizantina. Uma vez que não são muito faladas - e que tenho um fascínio pelo ritual bizantino - achei por bem falar nelas. São muitas, por isso vou falar de apenas algumas. As representações de Maria (Theotokos ou mãe de Deus, por oposição ao que pretendia o Arianismo (o arianismo defendia que a Virgem não era Theotokos, mas Christotokos, "mãe de Cristo") com o Menino podem dividir-se em várias. 
Maestas é o nome que a Virgem adquire quando está entronizada com o Menino, como por exemplo, aqui. É uma representação genérica:





















Cimabue
Maestà di Santa Trinità
1280-1285
Uffizi Gallery, Florença

Panagia
Maria de pé, com os braços levantados, na posição de orante (típica da arte paleocristã) e com um medalhão no peito, onde aparece o rosto de Cristo menino.





















Panagia
século XIII

Nikopoia
Sentada em Maestàs, com Jesus no colo, de frente:

















Nikopoia
Hagia Sophia, Istambul 

Hodegetria
Maria com Jesus ao colo (não nos joelhos, mas ao colo), e ela apontar para ele como que mostrando que ele é o caminho:

















Duccio
The Madonna and Child
1284 

Eleousa
É aquela que conhecemos melhor pois teve muita aceitação no ocidente. Mostra Maria com o menino no colo, numa demonstração de carinho entre mãe e filho (geralmente têm o rosto colado um ao outro):

















The Cambrai Madonna
Italo-Byzantine
1340
Cambrai Cathedral

 Virgem do Leite
Ora bem, como está bom de ver, a Virgem do Leite é a Virgem a dar de mamar ao menino. Estas representações não tinham, na maior parte das vezes, nada a ver com erotismo. No século XIV as imagens da Virgem a amamentar o menino eram um sinal de esperança, já que as pestes e a fome eram a realidade dos povos. Ver uma Virgem Maria a amamentar o Menino era crer num futuro melhor. Nos séculos XV e XVI, com a recuperação das teorias de Galeno - que dizia que o leite materno era necessário para a formação física da criança (a formação psicológica ficava a cargo dos genes do pai), as jovens mães e aspirantes a mães (que eram todas pois se não se era mãe, era-se freira ou prostituta) viam estas imagens como uma forma de inspiração. Mas atenção, pedia-se decoro aos artistas: apenas um seio descoberto. E esse seio era geralmente tão abstracto (a ideia e arquétipo de beleza feminina de que o seio seria redondo como uma maçã e com um mamilo muito pequeno e rosado, estaria e está longe da realidade) que não podia inspirar qualquer voluptuosidade. Veja-se aqui:

















Rogier van der Weyden
Virgin of the Milk

 Virgem da Misericórdia
A Virgem da Misericórdia é aquela que sob o seu manto, todos acolhe, sejam eles crianças ou adultos, pobres ou ricos, anónimos ou conhecidos. Muitas vezes as Virgens da Misericórdia eram encomendadas pelas confrarias ou por mecenas e por isso a Virgem "via-se na obrigação" de acolher no seu manto os confrades e os mecenas "mai-las" suas famílias.
 


















Domenico Ghirlandaio
Madonna della Misericordia
1473
Florença

Virgem do Rosário
 Bem, a Virgem do Rosário é difícil de encontrar até porque inicialmente não tinha esse nome. Só no século XVI é que adquiriu o nome de Virgem do Rosário pois antes era qualquer coisa como "Nossa Senhora da Vitória". Como podem ver pela imagem abaixo Nossa Senhora está rodeada por 15 círculos, cada um com um desenho diferente. Estes 15 círculos chamam-se mistérios. O terço que habitualmente as pessoas rezam é um terço destes 15 mistérios; ou seja, cinco mistérios. Cada mistério é composto por 10 avé-marias e um pai-nosso. Sendo assim, estamos perante 50 avé-marias num terço e 150 num rosário. Os mistérios têm constituição: são gozosos, dolorosos, gloriosos e o Papa João Paulo II adicionou-lhe os mistérios luminosos. Os mistérios gozosos referem-se aos primeiros tempos da vida da Virgem, enquanto mãe (Anunciação, Visitação, Natividade, Apresentação do Menino no Templo e Jesus entre os doutores). Os mistérios dolorosos referem-se ao período relativo à morte de Cristo (Oração de Jesus no Horto das Oliveiras, Flagelação, Coroação, Calvário e Crucifixão (pode dizer-se crucifixão e crucificação)). Os mistérios gloriosos dizem respeito à ressurreição de Jesus ( Ressurreição, Ascenção de Jesus, Descida do Espírito Santo, Assunção de Maria (porque Maria não ascende como Jesus, é assumida nos céus), e a Coroação (construção moderna para calar aqueles que queriam dar a Maria outro papel. por isso criou-se a "Rainha dos Céus")). Os mistérios luminosos não encaixam bem aqui, mas se o Papa mandou, quem sou eu... São mais... místicos e não têm a ver com passagens concretas da vida de Maria ou de Jesus, excepto o baptismo deste último.





















Lorenzo Lotto
Madonna do Rosário
1539
Virgem do Ó
Ao contrário do que pensam, a Virgem não se chama do Ó porque está grávida, redonda como um Ó. Chama-se Virgem do Ó porque era celebrada no dia 18 de Dezembro. Ora entre 18 e 25 de Dezembro cantavam-se antífonas que começavam por Ó: "Ó Mãe do Redentor", "Ó clemente", "Ó beatíssima"...
 E assim acontece. Rezem por mim.
ana - não há nada de errado contigo.
eu - não consigo deixar de pensar que há. e que a culpa é minha.

sexta-feira, setembro 09, 2016

- o carteiro -

fumo negro...

quinta-feira, setembro 08, 2016

- não vai mais vinho para essa mesa -

o "o" desaparecido n'"O museu desaparecido" não é apanágio deste exemplar. A um amigo, que também tem este livro, o "o" também desapareceu. Não é photoshop nem estou a tentar criar nenhum mito urbano, mas a verdade é que o "o" tem dado "de frosques" nos exemplares do Hector Feliciano. 




não, não, não, não, não, não, não... por favor,... não. esta notícia tem tudo de errado. é o oposto daquilo que deveria ser a Europa que nos venderam e que lhes venderam; é a prova de que não aprendemos com os erros; é só mais gasolina na fogueira. tudo de errado.
revivo aquelas horas na minha cabeça todos os dias, várias vezes ao dia. Acontece-me até revivê-las quando estou a falar com pessoas, no trabalho:
"pois, claro... vou já enviar o email"
desligo o telefone e não envio o email de imediato. fico mais 20, 30 segundos absorta. Penso:
"Será que fiz algop de errado? terei dito alguma coisa inconveniente? notava-se o meu nervosismo? pareci oferecida, fria, carente?"
"carente sim", respondo a mim própria." a carência é a tua sombra".
À noite, quando tudo fica em silêncio esses pensamentos tomam conta de mim.
"1:43H e tu sem dormir. Pára de pensar nisso. Conta carneiros", digo-me.
Debito o nome de todas as capitais da europa por ordem alfabética : "albânia-tirana; alemanha - berlim, azerbaijão - baku...". Passo para o cognome dos reis da primeira dinastia. Às vezes adormeço nessa altura. Outras tenho de inventar novos jogos:
"agora vais dizer nomes de artistas começados por "a". Começo:
"Arcimboldo, andrea del sarto, as... ari... alberti".
 "Agora por "B", diz a metade do meu cérebro que não está a dormir:
"Bi... bar... boccaccio!"
"Não era um artista desses. Passa para a letra "c".
"Caravaggio, correggio, campi, co... cal... não consigo"
"Então dorme, sossega. Não há nada que possas fazer."
E são 2:00h.

quarta-feira, setembro 07, 2016

- original soundtrack -

é curioso... gosto desta ária, mas não na totalidade. há ali partes que acho... más...












Una furtiva lagrima
Negli occhi suoi spuntò...
quelle festose giovani invidiar sembrò...
Che più cercando io vo?

M'ama, lo vedo.
Un solo istante i palpiti
Del suo bel cor sentir!..

I miei sospir confondere per poco a suoi sospir!...
Cielo, si può morir;
Di più non chiedo.

(Una Furtiva Lagrima, de L'elisir d'amore de Donizetti, interpretado por Enrico Caruso)

- não vai mais vinho para essa mesa -

os tempos são de coruja ou de águia. estes são tempos de coruja; desta coruja:

- o carteiro -


saiu a lista dos melhores filmes do século XXI; ou seja, a lista dos melhores filmes da primeira década do século XXI. Felizmente, ainda faltam mais nove décadas para o século terminar e possivelmente - é pelo menos o meu desejo - outros filmes virão, filmes esses que destronarão o Mulholland Drive do primeiro lugar. é... bem, nem sei o que dizer acerca da colocação do Mulholland Drive no topo da lista. e a comparação com o Citizen Kane... enfim, só mesmo para proto-geeks. O "meu" filme, o filme que para mim ficaria no primeiro lugar, nem aparece. Tem realização do Hanneke e a Isabelle Hupert como professora de piano fria, sádica e masoquista. Que mais pode uma pessoa pedir? é um murro no estômago, mas é um belíssimo filme. belíssimo no sentido de "muito bom".

Felizmente o In the mood for love (ou em português, Disponível para Amar) surge em 2º lugar! chorei quando vi este filme. chorei como uma menina de 12 anos. foi a música, foi a história... a história é simples: dois casais alugam quarto na casa de um outro casal mais idoso. Isto passa-se no Japão, nos anos 60. Aos poucos descobrem que os seus parceiros os traem um com o outro. É quando os traídos se juntam. quando digo "se juntam" não estou a dizer que dormem juntos. aliás, isso distingue-os dos seus companheiros e é isso que eles alimentam e que os mantém juntos. eles acreditam que não são como os seus companheiros porque não concretizam, não materializam o sentimento. mas quando no final ele lhe diz o que sente por ela, toda essa certeza se desfaz. eles percebem que se tornaram como o marido e como a mulher que os traíam. pressionados por uma sociedade conservadora - e pelos planos sempre apertados em que se movem (os interiores japoneses são já de si apertados e esta ideia é corroborada com os planos em escadas, corredores, janelas...), separam-se.













esta cena é a cena final do filme, quando ele se desloca até um buraco na parede do templo e deposita aí o seu segredo. provavelmente o segredo teria a ver com saudade, amor, solidão.

mas isto tudo para escrever sobre um outro filme, o filme que muitos citam, mas poucos viram (até porque são três horas de cinema neo-realista) é do Visconti, como não podia deixar de ser. Até tenho receio de escrever sobre um filme e uma personalidade de quem os críticos e iluminados já tudo disseram. O Visconti era um aristocrata: a família Visconti está na formação do reino de Milão. Ele dedicou-se ao cinema, como se dedicou ao teatro e foi bom nas duas áreas. realizou o meu muito amado "Morte em Veneza" que já me levou a escrever este post e este, bem como "Violência e Paixão "e claro, "O Leopardo". "O Leopardo", tal como outros filmes de Visconti, fala da família.

[Um pequeno parêntesis: Visconti adorava a obra de Thomas Mann. Adaptou "José e seus irmãos" ("Rocco e os seus irmãos"), a "Morte em Veneza", claro, e tinha planos para adaptar "Os Buddenbrook" e "Mário e o Mágico". Num dia, em conversa com Mann, Visconti conta-lhe qual a sua ideia para a adptação para cinema ou teatro (penso que foi para teatro) de "Mário e o Mágico". Visconti, muito pálido, fala, discorre, enquanto Mann o ouve. No final Mann, diz-lhe: "eu também tenho pensado muito nessa adaptação e a minha seria igual à sua". Visconti recupera a cor...]

Neste caso, de uma família nobre na Sicília do século XIX, com todas as convulsões na passagem do território dos Bourbon para os Sabóia, a ascensão da burguesia ao poder e o desaparecimento da velha ordem. Quem cita o filme, cita sempre a célebre frase do Príncipe Salinas: "é necessário que se façam revoluções para que tudo fique na mesma"; ou seja, é um pouco o que acontece n' "A Grande Ilusão" do Renoir (de quem Visconti foi aprendiz): a velha ordem, o antigo regime desaparece e quem desejar sobreviver terá de saber viver e conviver com a nova ordem. esta nova ordem que chega pelo meio de armas, vidas, traições e associações duvidosas, embora muito revolucionária e barulhenta, seguirá o mesmo rumo que a antiga e tudo ficará como está. Ou seja, os que se seguem no poder fazem sempre o mesmo que os seus antecessores. Ao Príncipe Salinas restava apenas jogar com os seus trunfos: o título. Casa por isso o sobrinho - um jovem nobre que se associa aos revoltosos, mas não hesita em abandonar a causa consoante o seu interesse - com a filha de um burguês, partidário da Itália unida, avarento, sem títulos e que vê neste casamento a forma de ascender socialmente. faz-se uma troca honesta: Salinas dá à filha de Sedara a possibilidade de se tornar uma condessa e Sedara dá ao sobrinho de Salinas - e à família em si - mais posse de terra.

No filme, a cena do baile é pungente e talvez a mais importante (a par da cena do jantar de apresentação): Salinas, que vê a juventude e a nova ordem tomarem conta da Sicília que tanto ama, que vê esta nova geração a desfigurar as tradições e as convenções, sente-se a envelhecer. A dança que concede a Angélica - a filha de Sedara e com quem o sobrinho casará - marca essa passagem de testemunho. Convém dizer que a valsa que ambos dançam, da autoria de Verdi, havia sido encontrada por um assistente de Visconti num mercado em segunda mão, ou coisa que o valha... O Palácio onde esta cena é filmada existe mesmo. Chama-se Palazzo Valguarnera-Gangi e pasme-se, tem no chão no local onde uma das cenas foi filmada, um leopardo em ladrilho!
















 (esqueçam aquela figura que está a entrar de caso verde, ali do lado esquerdo)



- o carteiro -

porque não quero que bos falte nada - nem uma roupa passada a ferro, nem uma escadas passadas a pano - deixo-bos alguns links de coisas que podem ser úteis. se não forem úteis, também não fazem mal nenhum:


[1]
ah... a enciclopédia que faltava. o paraíso dos tótós.

[2]
algumas aberrações como a Colonia Dignidad; Bohemian Grove; Fordlandia

[3]
Museum of Stolen Art