ranho
sexta-feira, janeiro 16, 2015
segunda-feira, janeiro 12, 2015
- original soundtrack -
estava para postar Sibelius, mas está muito frio
(Sabre Dance, Aram Khachaturian)
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
os novos "ismos"
Bós pensásteis que os ismos tinham acabado. Pois não acabaram não. apresento-vos hoje dois deles.
Formalismo Zombie /(Zombie Formalism)
Ora bem, mesmo após as manifestações contra o Formalismo defendido por Clement Greenber, a verdade é que o Formalismo anda aí. O Formalismo Zombie é uma forma de arte - e quando digo arte, digo pintura - que pivilegia por um lado o formalismo. Quer isto dizer que é uma pintura muito focada no aspecto final, nos processos físicos e mecânicos, nos materiais e menos no conteúdo. Mas com isto não queremos dizer que é menos intelectualizada, uma vez que esta pintura apresenta-se revestida com uma camada de originalidade, algo que já não acontecia desde... não quero dizer desde quando porque é só a minha opinião. Talvez desde o próprio formalismo... são pinturas que se aproximam dos bons e grandes materiais, resultando assim em obras mais caras ou às quais reconhecemos um valor material imediato, como por exemplo, as obras que são feitas em prata. Isto aproxima-as de um sistema diferente: elas estão afectas ao valor de um metal, como o dinheiro há muitos anos estava afecta ao valor do ouro. hoje não tem qualquer valor real; é especulação e crença. estas obras têm também a referida camada, véu de originalidade pois são tidas como as primeiras que: a primeira pintura feita com prata líquida, a primeira pintura feita a partir das oscilações de um comboio em movimento, a primeira pintura feita por um extintor, etc... Provavelmente vocês estão a pensar: mas o kounellis fez isto quando atirou metal líquido para as paredes da galeria. mas acrescemos agora a parte do "zombie" da denominação "Formalismo Zombie". É que este "novo" formalismo ressuscita os princípios de Greenberg, na defesa de uma arte que só é pura se for trabalhada pela mão, pelo corpo, se implicar suor. é também zombie pois é uma arte cujo aspecto final é como a sociedade que a produz: pointless, prolifera nos twitters, tumblrs e instagrams, não aborrece, fica bem em qualquer sala e em qualquer mural, mas tem assim uma espécie de tristeza que lhe confere alguma seriedade aparente. e isso é tãããããão cooool! Principais representantes: Jacob Kassay, David Ostrowski, Lucien Smith, Oscar Murillo, Aaron Aujla.
Neo Casualismo (New Casualist)
Em qualquer dos casos que apresento aqui, a abstracção é implícita; ou seja, parte-se do princípio que a arte destes novos ismos é abstracta. mas na realidade, e no caso do Neo Casualismo, pode não ser. mais uma vez vamos falar de pintura. e ainda dizem que a pintura morreu!... bem, a pintura do Neo Casualismo, não procura o certo, o canónico, o cumprimento das regras académicas quanto à proporção, o equilíbrio, a composição. procura antes o que é causal, mesmo que seja errado quanto à norma e resulte num falhanço, num erro. no entanto e antes que pensem que se é casual e aleatório qualquer coisa pode ser arte, devo lembrar-vos que estes artistas - que passaram pelo crivo académico - ensaiam a sua casualidade baseados em algo pouco causal como as teorias ensinadas pela Bauhaus aos seus alunos das aulas de 2D. Mesmo que as pinturas pareçam miseráreis, ridículas, pobres, desequilibradas ou até infantis, elas são fruto de um trabalho que alia o causal ao experimental, embora não ao formalista. é um trabalho que fala da cor, da aplicação da tinta, das escalas, da combinação de materiais. Neste caso, não há véu de originalidade que cubra o Neo Casualismo. nem este quer. o seu compromisso é para com a experimentação. apesar de já nada estar inventado, parece-me bem melhor que a pseudo intelectualidade do Formalismo Zombie. Principais representantes: Amy Feldman, Chris Martin, Rochelle Feinstein, Rebecca Morris, Patrick Brennan.
Realismo Especulativo (Speculativ Realism)
O Realismo Especulativo não é somente uma corrente artística, mas sobretudo, filosófica. É uma corrente que reflecte acerca da natureza daquilo que não é humano, como as pedras, o mar, as moscas, etc. Isto é particularmente importante quando vimos que pensamos o mundo à nossa imagem; ou seja, nós pensamos o mundo em que vivemos, logo, "pensamo-nos". Nesse sentido, a arte que surge deste movimento/tendência filosófica é uma arte que toma o humano como fantasma; ou seja, é uma arte que secundariza (na medida do possível, uma vez que é feita por humanos) o humano. Assim, o humano não aparece de forma declarada, mas simulada, representado por objectos que sabemos que foram feitos por humanos, que sabemos que servem os humanos, mas que de alguma forma são disfarçados. Dou o exemplo da obra de Alisa Baremboym ("Untitled", 2012, cerâmica e cabos USB). Nesta obra, o guardanapo de pano é substituído por um guardanapo de cerâmica e o cabo que o envolve muda de saída. E vocês perguntam: e daí? O guardanapo que não é de papel ou de pano não é um guardanapo. A quem poderá servir um guardanapo de cerâmica que não a um ser não humano? Por outro lado, temos o cabo USB com uma mudança de saída (que a autora chama um "gender change"). Este é um objecto fruto da mão humana, mas mais do que isso, é uma criação da mão humana para dar resposta a uma ideia da mente humana, mente humana essa que criou um sistema que supera muitas vezes o humano, pois é menos dado a erros, emoções e susceptibilidades de vária ordem.
Não é fácil falar desta tendência sem falar de obras em concreto. Um outro exemplo é "Swimming Cities" do artista Swoon. O que ele fez lembra-me muito a Merzbau do Kurt Schwitters. As Swimming Cities encontram-se dentro de água e são resultado da junção de lixo como cartões, espuma, madeira, partes de carros, etc. O resultado é um pouco fantasmagórico, embora tenha sido feito pela mão humana. Vamos então às Swimming Cities que, segundo o que me vem de imediato à cabeça, são cidades flutantes ou cidades para seres que nadem, como as sereias. Eu sei que as sereias não existem, não sou tótó, mas só queria mostrar que mais uma vez temos o não-humano aqui (ainda que, neste caso, tenhamos o antropomórfico). Convém dizer que esta peça foi à Bienal de Veneza em 2009, o que mostra que a Joanica Vasconcelos não foi a única.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
E agora, algo completamente diferente.
Apesar da corrida ao espaço ter sido discutida, quase exclusivamente, por americanos e russos, isso não quer dizer que os chineses não estivessem atentos a fazer o seu "trabalho de casa": os chineses entraram na corrida em 1960 e lançaram o seu primeiro satélite em 1970. Entretanto, o Programa Espacial Chinês desenvolveu, de 1962 até 2003, uma forma de comunicação com o povo chinês particularmente - como dizer isto - kitsch. Os cartazes que aqui vos apresento têm uma linguagem particular uma vez que apesar de reconhecermos que são muito parolinhas, não conseguimos ver para além disso. Não percebemos que tipo de narrativa pode ser contada, que envolva crianças rechonchudas, figuras chinesas, animais e naves espaciais infantis... Estaria a China a comunicar a sua intenção de entrar na corrida ao espaço às crianças? Pois... não. O que vemos são crianças que representam satélites lançados ao espaço. O primeiro satélite:
o crescimento da missão (com a presença, em cima, de uma figura alusiva ao Ano Novo):
a chegada de um dos satélites à lua e o lançamento de um outro satélite:
Nos anos 80 o estilo continua a ser o mesmo, mas tem a presença de uma figura mais velha, o que quer dizer que o Programa Espacial Chinês já amadureceu:
Porém, a partir daqui o estilo vai sendo abandonado e começa a ter um ar mais respeitável, um ar mais científico. usando para isso os mesmos métodos que qualquer outra nação (principalmente a Rússia e os EUA) usariam, como sendo os navios, a silhueta da cidade, etc... Também uma tentativa de separar a ciência da superstição e da religião, como mostra o segundo cartaz.
No fundo o que estes cartazes fazem é comunicar com o público - ainda que de uma forma que nos parece estranha - o sentimento nacionalista e a crença no progresso através da exploração científica, o que inclui a presença feminina nas missões.
"bi" aqui
"bi" aqui
segunda-feira, janeiro 05, 2015
- não vai mais vinho para essa mesa -
"proque" sim:O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
(...)
(O que há em mim é sobretudo cansaço, Álvaro de Campos)