olá. "bultei" e trouxe uns presentinhos. queria perguntar-vos como é que faço para não receber, aqui no Belogue, publicidade através dos comentários. "bou pra" dentro trabalhar "c'a" minha "bida" num é isto.
sábado, setembro 29, 2012
quinta-feira, setembro 20, 2012
- o carteiro -
vou tirar uma semana para... vou tirar uma semana para ver uns monumentos, uns museus, ver a Binoche na peça do Strindberg e passear por aí...
- original soundtrack -
And he'll be big and strong, The man I love
And when he comes my way
I'll do my best to make him stay
He'll look at me and smile, I'll understand
Then in a little while, He'll take my hand
And though it seems absurd
I know we both won't say a word
Maybe I shall meet him Sunday,
Maybe Monday, maybe not
Still I'm sure to meet him one day
Maybe Tuesday will be my good news day
He'll build a little home, That's meant for two
From which I'll never roam, Who would, would you
And so all else above
I'm dreaming of the man I love
(The man I love, Ella Fitzgerald)
- o carteiro -
pois, mais uma corrida, mais uma viagem. a propósito do verão, do fim do verão e a propósito das festas de verão (as populares) e dos casamentos e outros sacramentos de verão, apresentamos mais um carteiro com a explicação da relação entre as imagens do speculum. desta feita, e depois da fuga para o egito, chega a vez do batismo de cristo. para ser sincera, isto para mim ficaria para depois pois o batismo de cristo dá-se quando ele já é adulto. antes desta episódio teria de surgir o regresso da fuga para o egito e jesus entre os doutores da lei. só depois vem o batismo, a transfiguração e as bodas de canã. mas, who am i? As fontes do batismo de cristo são as canónicas (evangelhos de lucas, mateus, marcos e joão), mas também as da liturgia oriental relativa a este episódio. Este episódio contém duas fases: por um lado a purificação através da água e por outro a Teofania (a presença de Deus através da pomba). Sendo Jesus o filho de Deus, a questão da sua purificação é sempre tratada com cuidado, já que como filho do divino não necessitaria de purificação já que foi concebido sem pecado. A purificação seria não para ele, mas para aqueles que através dele entravam na família cristã, tendo também como objetivo substituir a pratica judaica da circuncisão, dando assim ao batismo cristão o seu próprio ritual. O batismo de cristo é retratado, nas primeiras representações do cristianismo de uma forma muito particular. mostram cristo mergulhado nas águas, com água até aos tornozelos, pela cintura ou pelos ombros. pode ter ou não o perisonium à cintura. neste caso não tem, mas o sagrado pirilau (com todo o respeito!) não é visível. Como se trata de um sacramento que ao longo dos séculos e consoante os tempos foi sofrendo alterações, também não existe uma representação homogénea para o batismo de cristo. O rio é representado com ondas nas representações mais antigas, para simular a ideia de água. São joão batista encontra-se numa das margens a fazer verter água para a cabeça de cristo, ou então fazendo-o imergir no rio (batismo por aspersão ou por imersão). Do outro lado da margem encontramos frequentemente figuras aladas (diáconos segundo a liturgia oriental) que seguram nas mãos cobertas as vestes novas de Cristo. neste caso não nos apercebemos da presença de uma pomba, mas de um anjo da boca de quem saem as palavras que penso serem as da cena do evangelho relativo a esta passagem. não é o caso, mas é também possível ver em algumas representações um machado junto a uma árvore ("E também agora está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo." Mateus 3, 10) como referência ao batismo como ponto que marca aqueles que são e os que não são da família cristã, e também um dragão (segundo os salmos o dragão era o demónio que deveria ser vencido pela água do batismo), bem como tritões e neptuno.
Segue-se a pia de bronze que surge no Antigo Testamento no Êxodo 30, 17-21: "E falou o Senhor a Moisés, dizendo: Farás também uma pia de cobre com a sua base de cobre, para lavar; e a porás entre a tenda da congregação e o altar; e nela deitarás água. E Arão e seus filhos nela lavarão as suas mãos e os seus pés. Quando entrarem na tenda da congregação, lavar-se-ão com água, para que não morram, ou quando se chegarem ao altar para ministrar, para acender a oferta queimada ao Senhor. Lavarão, pois, as suas mãos e os seus pés, para que não morram; e isto lhes será por estatuto perpétuo a ele e à sua descendência nas suas gerações." (Apesar de neste excerto estar escrito "cobre", a minha bíblia dos capuchinhos diz "bronze". a trasncrição foi de um site brasileiro, mas mantenho a ideia do "bronze"). Ora bem, esta pia não era uma pia batismal: estava mais mais perto das abluções islâmicas do que do batismo cristão, isto porque, estamos no tempo do Antigo Testamento, um tempo anterior à vinda de Cristo. Quem nele viveu não era batizado e tinha como contrato com Deus, o celebrado pela circuncisão - no caso dos homens. Só quando Cristo institui o ritual do batismo como forma de relação, de compromisso com Deus ele começa a ser praticado. Ora esta pia servia para os sacerdotes se purificarem antes de entrarem no Tabernáculo, mas mesmo assim, ela é anunciadora de um tempo onde a pia e a água irão ser a forma de relação com Deus, tal como foi no Antigo Testamento.
Segue-se a cena de Naaman a mergulhar no rio Jordão (2 Reis 5). Naaman era um general sírio, muito estimado pelo seu exército, robusto, mas leproso e não crente. Era também um homem pragmático e um pouco altivo: obedecia ao rei da Síria, mas não tinha em conta o Deus de Israel. Um dia ouviu dizer que em Israel havia quem o pudesse curar e foi falar com o monarca sírio que o aconselhou a ir lá e escreveu-lhe uma carta para que este apresentasse ao rei de Israel, a recomendar Naaman. Ora o rei de Israel ao saber disto irou-se já que não era um curandeiro. Eliseu, "homem de Deus" pediu ao rei para ser ele a receber Naaman, ao que o rei acedeu. Assim, quando Naaman chegou a Israel foi recebido por um servo de Eliseu que disse a Naaman que segundo o seu amo, ele teria de se banhar sete vezes no rio Jordão. Ora Naaman, que era um pouco intempestivo, achou de muito mau tom não ser recebido nem por Eliseu nem pelo rei e achou igualmente um desperdício de tempo ter de se deslocar até Israel para se banhar no Jordão quando havia outros rios perto do seu país. No enatnto os servos de Naaman, fizeram-lhe ver que ele estava errado, que era a vontade de Deus e ele deveria cumpri-la. Assim, humilhado, ele toma banho sete vezes no Jordão e apercebe-se que ao fim desses sete banhos a sua pele está limpa. Isto conclui que Naaman, orgulhoso, condecorado e com a sua comitiva tem de se submeter a uma vontade maior. No fundo, tomar banho nu, é uma forma de dizer que ele se deve despojar de todo o seu orgulho e aceitar Deus. O seu "banho" (que é antes de mais, interior), é uma forma de anunciar o batismo de Cristo pois ambos, de formas diferentes mas relacionadas, retiram a sujidade do mundo, redimem quem está no pecado. Não que Cristo necessitasse, como vimos, mas no caso dele o pecado redimido é-o em nosso nome.
Last but not least... a passagem da arca da aliança através do rio jordão. Este episódio encontra-se em Josué 3, 17: "Porém os sacerdotes, que levavam a arca da aliança do Senhor, pararam firmes, em seco, no meio do Jordão, e todo o Israel passou a seco, até que todo o povo acabou de passar o Jordão." Quer dizer, todo o capítulo fala deste episódio, por isso, para um estudo mais aprofundado, será melhor ler o capítulo. Deus escolheu Josué para substituir moisés na tarefa de liderar o povo até à terra prometida. Atenção que isto não é a passagem do Mar Vermelho: Moisés passou o Marr Vermelho com o seu povo, mas como Moisés morreu ficou Josué encarregue de fazer o resto. Ora também Josué se confrontou com o milagre: a passagem do Jordão. Vejamos como foi: "Disse Josué também ao povo: Santificai-vos, porque amanhã fará o Senhor maravilhas no meio de vós. E falou Josué aos sacerdotes, dizendo: Levantai a arca da aliança, e passai adiante deste povo. Levantaram, pois, a arca da aliança, e foram andando adiante do povo." (Josué 3, 5-6) "E aconteceu que, partindo o povo das suas tendas, para passar o Jordão, levavam os sacerdotes a arca da aliança adiante do povo. E quando os que levavam a arca, chegaram ao Jordão, e os seus pés se molharam na beira das águas (porque o Jordão transbordava sobre todas as suas ribanceiras, todos os dias da ceifa), Pararam-se as águas, que vinham de cima; levantaram-se num montão, mui longe da cidade de Adão, que está ao lado de Zaretã; e as que desciam ao mar das campinas, que é o Mar Salgado, foram de todo separadas; então passou o povo em frente de Jericó. Porém os sacerdotes, que levavam a arca da aliança do Senhor, pararam firmes, em seco, no meio do Jordão, e todo o Israel passou a seco, até que todo o povo acabou de passar o Jordão. (Josué 3,14-17). Josué confiou na palavra do senhor e atravessou o rio enxuto levando o povo à terra prometida. O rio Jordão augurava assim algo de bom já que foi também neste rio que Jesus foi batizado. assim como josué mostrou ao povo do Antigo Testamento a sua terra, também jesus era no novo testamento o veículo através do qual iríamos ter direito a privar com ele no céu. Josué fê-lo para salvação dos demais, Cristo fê-lo para nossa salvação.
E assim, certa que ninguém irá ler isto, despeço-me com amizade. até ao próximo "pograma".
- não vai mais vinho para essa mesa -
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
antes e depois ou como "o final das férias e a aproximação de mais um longo Inverno pode deixar as pessoas mesmo tristes com a vida, mais do que o Ronaldo com o Real. Pois é... pensar que me espera, que nos espera um longo Inverno, quase que já nem me dá vontade de escrever. devia ser proibido fazer qualquer actividade no Inverno, devíamos poder hibernar. quando o inverno chega penso sempre "o pior ainda está para vir". assim, quando o pior realmente chegar, eu estarei preparada para o pior e para pior que o pior. bem, isto tudo para dizer que esta cena de Carracci, com um cheirinho, não a chispe, mas a outono, deixou-me down, mas pelo menos dá o mote a mais um post. é uma cena que cheira a outono, porque é quando chega o frio que se mata o porco. o outono é também o tempo em que se prepara a despensa, como se nós fôssemos formigas e não pudéssemos sair quando está a chover. a cena de carracci é muito típica: retrata o ambiente de um "talho", assim como havia cenas de peixaria, de doces, de frutos ou de flores. talvez possamos incluí-la numa natureza morta, ou dizer que nele está contida uma natureza morta, ou ainda, talvez seja possível incluí-la no conjunto de cenas que retrata as atividades e profissões de uma determinada época.
Penso que Carracci faz neste quadro uma alusão às naturezas mortas e até faz passar uma mensagem moralizadora, já que a Igreja fazia menção, tanto quanto sabemos, aos perigos que a satisfação dos desejos carnais do Homem, poderia constituir. Fossem esses desejos de comida, bebida, sexo, poder ou bens materiais, a Igreja alertava os seus crentes para tal, ainda mais no século XVI, com as determinações saídas do Concílio de Trento que pediam, no geral, mais frugalidade e contenção, em vão. Temos que ver que, para corroborar esta opinião, temos a nosso favor o facto de os intervenientes na cena se encontrarem de frente para o observador. Se de facto estivessem só a desempenhar a sua função (cortar presuntos e desmanchar carneiros), estariam na sua vidinha, até de costas para a cena. Eles mostram-se como se estivessem num palco: um pendura uma peça de carne, e o outro mexe na faca. Note-se também que os dois intervenientes têm a bata completamente branca, sem pingo de sangue como seria de esperar. a sua pose tem também algo de nobre, já que este avanço do pé sobre o corpo é muito próprio de outras pinturas, como as de deuses. Aqui, e tal como foi dito, os talhantes estão ao serviço de uma cena, e o pintor parece com isto querer retratar não os seus atos, mas a nossa reação ante eles, enquanto observadores. Existe uma outra versão deste tema, com mais intervenientes, todos eles da família Carracci.
Quanto à segunda imagem deste post, refere-se a um trabalho de Philip Haas na Galeria Kimbell. Trata-se de um vídeo; ou melhor, de um conjunto de imagens projetadas em dois ecrãs virados um para o outro, imagens essas que mostram o mundo dos talhantes, o mundo do artista e o ponto de encontro entre os dois; ou seja, a pintura. Num dos ecrãs vemos as imagens relativas à pintura de Carracci. No outro ecrã podemos ver Carracci, interpretado pelo bailarino Ivan Putrov. Haas estabelece as relações entre o ofício de talhante e a atividade nos talhos, com a atividade do artista, com a pintura. Compara assim as ferramentas, os materiais e as trocas não só físicas, mas quase viscerais que se estabelecem entre os dois cenários. Por outro lado faz também contrastar a seriedade de Carracci com o humor muito popular dos seus modelos que assumem poses heróicas da Antiguidade, poses essas que não chegam para animar Carracci nem distraí-lo do seu trabalho. Vemos também, não só esta pintura como outras de Carracci, pelo menos a alusão a elas com a presença do macaco e da mulher que faz compras. Ainda que possam dizer "ah e tal, isso já se viu", a verdade verdadinha, é que não há quem não goste. Quando a obra foi apresentada, ganhou logo um prémio no festival de cinema de veneza. ah pois é. vou para dentro. até ao próximo post":
Carracci
Butcher's Shop
1580s
Kimbell Art Museum
Philip Haas
The butcher's shop
2008
Kimbell Art Museum, Texas