belogue: outubro 2020

entrei na Bertrand (I don't do Fnac's) e pensei "que se lixe! preciso de comprar libros! já ando a ressacar desde o Verão" [sim, com "b" e tudo mais a que tenho direito]

triticum

não tenho nada para ler!!!!!!

- o carteiro -

A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?

Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só

(Poema dum funcionário cansado, António Ramos Rosa)

- original soundtrack -

três coisinhas singelas nesta música (e não, não é uma "mensagem" para ninguém. parem lá de ver coisas onde não existem):

1.
Why are men great 'til they gotta be great?
Don't text me, tell it straight to my face

2.
You tried to break my heart?
Oh, that breaks my heart

3.
I'ma hit you back in a minute
I don't play tag, bitch, I been it

(Truth Hurts, Lizzo)

- não vai mais vinho para essa mesa -

- o carteiro -

aprendeinde com a bebé. ela não dura sempre e o belogue também não. fazeinde os vossos copy's para depois apresentardes estas coisas lindas aos amigos e dardes a ideia que soindes muito cultos.

isto que aqui está:

Manet
Corner of a Café-Concert
1878-1880
National Gallery, Londres

não é mais do que a união disto

com isto

certo?

menos isto

Manet

At the Café

1878

Oskar Reinhart Art Collection

certo?

pois é. ide lá estufar o frango para amanhã e não bos esqueceindes de labar bem os táparuéres antes de congelardes a jardineira.

o que é preciso fazer para conseguir dormir?

- original soundtrack -

Some of those that work forces
Are the same that burn crosses
Some of those that work forces
Are the same that burn crosses
Some of those that work forces
Are the same that burn crosses
Some of those that work forces
Are the same that burn crosses
Uh

Killing in the name of
Killing in the name of

Now you do what they told ya
Now you do what they told ya
Now you do what they told ya
Now you do what they told ya
And now you do what they told ya, now you're under control
And now you do what they told ya, now you're under control
And now you do what they told ya, now you're under control
And now you do what they told ya, now you're under control
And now you do what they told ya, now you're under control
And now you do what they told ya, now you're under control
And now you do what they told ya, now you're under control
And now you do what they told ya

Those who died are justified
For wearing the badge
They're the chosen whites
You justify those that died
By wearing the badge
They're the chosen whites
Those who died are justified
For wearing the badge
They're the chosen whites
You justify those that died
By wearing the badge
They're the chosen whites
Come on

Uh
Yeah
Come on
Uh

Fuck you, I won't do what you tell me
Fuck you, I won't do what you tell me
Fuck you, I won't do what you tell me
Fuck you, I won't do what you tell me
Fuck you, I won't do what you tell me
Fuck you, I won't do what you tell me
Fuck you, I won't do what you tell me
Fuck you, I won't do what you tell me
Fuck you, I won't do what you tell me
Fuck you, I won't do what you tell me
Fuck you, I won't do what you tell me
Fuck you, I won't do what you tell me
Fuck you, I won't do what you tell me
Fuck you, I won't do what you tell me
Fuck you, I won't do what you tell me
Fuck you, I won't do what you tell me
Motherfucker

(Killing in the name, Rage Against the Machine)

sem tempo: a re(correr)

"também.... você não faz frente a ninguém"

"faz-me falta a outra aqui"

(a sério? eu nem sabia que era "uma". )

- original soundtrack -

(...)
Soy un perdedor
I'm a loser, baby, so why don't you kill me?

(...)

(Loser, Beck)

- o carteiro -

[1]
"O Nariz" de Gogol por Shostakovich

[2]
"Ghosts before breakfast" de Hans Ritcher

- o carteiro -

olá. então, tá-se? que tal esse fim de semana prolongado? os meus fins-de-semana prolongados são só fins-de-semana e os meu fim-de-semana normal é, como costumo chamar, fim-de-semerda. são como ejaculações precoces: quando vamos começar a gozar, já foi. É por isso que só para irritar trago um "o carteiro". Irritar quem? pois, não faço ideia. Neste momento estou só a deixar-me levar pela escrita.

Uma pessoa tem fins-de-semana para descansar de uma semana de trabalho e tem reforma para descansar de uma vida de trabalho. E mesmo descansar dá muito trabalho! O descanso activo, no final da vida, pode ser fonte de muitas alegrias, mas é uma canseira. Eu sei porque o Manet "disse-me". Até ao fim da sua vida, Manet pintou sempre: uma vezes impulsionado por um amigo que lhe sugeria uma temática menos cansativa do que as cenas captadas em plein air, outras vezes sucumbindo às mais valias de materiais como o pastel, menos demorado que o óleo. Manet pintou por isso - no final da sua vida - algumas flores em jarras e deixou por terminar muitos quadros. Fez também algo que poderia fazer dele uma Filipa Vacondeus do Impressionismo, não tivesse eu quase a certeza que houve outras Filipas Vacondeus da pintura antes e depois de Manet. O que havia nele era sobretudo cansaço. Vai daí, fazia aproveitamentos. Não eram aproveitamentos de frango assado, claro, mas Manet aproveitava determinadas cenas já por ele pintadas e usava-as em outros quadros. Vocês podem dizer que isso é "chunga" ("chunga", aliás, é uma palavra "chunga"), mas mesmo para fazer isso é preciso saber. E além do mais, ele estava cansado... Vejam lá se não tenho razão:

No primeiro quadro vemos uma pequena paisagem com um regador em primeiro plano. No segundo quadro vemos aquilo que poderia ser considerado uma cena num café. O quadro chama-se "Woman Reading", mas a personagem encontra-se num típico café francês da época, com a sua bebida à frente o jornal/revista preso por aquela coisa de madeira que ela segura com a mão direita. A personagem até parece estar num interior, como sugere a mancha cinzenta no lado esquerdo do quadro: