sábado, junho 27, 2020

- o carteiro -
























quinta-feira, junho 25, 2020

- original soundtrack -















já estive em Manchester. a "minha" Manchester não foi nem é a dos domingos nostálgicos, em que nem chove nem faz sol, em que as horas custam a passar e passam num instante. aqueles domingos que antecedem as Segundas num correr de semanas, meses, anos... a Manchester que conheci foi a do Palace Hotel, do concerto na Chetham's Library e de andar perdida durante várias horas em ruas estranhas até uns amores de uma meninas com pouca roupa virem ter comigo e perguntarem "Oh dear! Are you lost?". Sim, estou. Forever.

"Armageddon, come Armageddon! 
Come, Armageddon! Come!"

- não vai mais vinho para essa mesa -

ritual:
desligar o telemóvel enquanto como cerejas. (não, não é isso)
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou como "não sei bem se isto é um antes e depois" ou como "também pode ser um 'durante'. Sorolla, de quem nunca falei muito aqui no belogue, queria ser "big in Japan". Na altura era mais "big in the USA" já que Sorolla teve, desde 1909, uma grande aceitação por parte do público americano. o próprio Sorolla, após abandonar a pintura "social" (de temática mais funesta como o infanticídio, a deficiência física ou a pobreza material), dedicou-se a pintar figuras da sociedade espanhola e americana. aliás, Sorolla percebeu que por melhores que fossem as suas pinturas "sociais" e por mais que estas dessem a conhecer o seu trabalho e a vida de uma cidade espanhola (com todas as suas curiosidades, apetecíveis para um público urbano e não familiarizado com elas), ele nunca conseguiria ter o tipo de reconhecimento que lhe interessava através delas; ou seja, ser uma celebridade, ser famoso. dedicou-se por isso a temas mais suaves, nos quais se destaca sempre a luz da sua Valência, o que resultou em pinturas das quais emana uma joie de vivre que por vezes vemos nos impressionistas franceses. Sorolla usava aliás a técnica/prática da pintura en plein air, o que, no caso de alguém que pintava cenas de banhos na praia, levou a que muitos grãos de areia se tivessem fixado na superfície dos quadros. Em 1910 a Hispanic Society of America propõe a Sorolla a comissão de uma pintura que seria, para a época, a maior pintura encomendada a um artista não americano. Tratava-se um mural para a Biblioteca da Hispanic Society. Em resposta a esta proposta Sorolla estuda a possibilidade de executar uma pintura por cada província de Espanha. Sorolla de facto executou esse conjunto de obras - com um resultado final muito diferente do esperado dos desenhos preparatórios. Na sequência desta comissão, e para dar seguimento à sua ideia, Sorolla, empreende um périplo pelas províncias espanholas, para lhes perceber o espírito (juntamente com um fotógrafo que capta as diferentes profissões e actividades nos seus trajes típicos). Este mural é por isso, e em vários sentidos, uma construção. Mais ou menos como ir a Viana, tirar fotografias com as mordomas e voltar para o país natal a dizer que é assim que se vive no Norte de Portugal. Sorolla tem por vezes de levar os fatos para que alguém os vista e pose para o fotógrafo ou para o pintor. Talvez por isso Sorolla tenha feito batota, repetindo fatos e pessoas em cenas diferentes. Veja-se a pintura para Salamanca:















Joaquín Sorolla
Couple from Salamanca
1912

Museo Sorolla, Madrid

A mulher apresenta-se como uma jovem noiva da província de Salamanca. Mas Sorolla, que devia estar com falta de modelos, utiliza a mesma jovem noiva, com o mesmo regozijo pela celebração (como ela, só a princesa Charlene do Mónaco...) para retratar a comunidade autónoma de Castela e Leão, onde se localiza Salamanca. Lá está ela, com a mesma alegria de quem vai para o cadafalso:"









Joaquín Sorolla
Castilla or Bread Festival
1913

The Hispanic Society of America, Nova Iorque

E assim acontece. Tenham cuidado com as mudanças de tempo, endireitem as costas enquanto lêem (dizem agora que não tem acento, mas para mim tem) isto e lavem os dentes antes de deitar. 

segunda-feira, junho 22, 2020

há dias em que não falo com ninguém: falta de vontade, de oportunidade, de necessidade. sou funcional: faço o que tenho a fazer e bem. cumpro. já experimentei de tudo. o prozac era uma maravilha embora fosse como se a minha cabeça e a minha boca se tivessem emancipado e não fizessem parte de mim. há um muro com contrafortes, fosso e crocodilos que alimento para preservação da minha espécie. poucas coisas me interessam.

sexta-feira, junho 12, 2020

- original sountrack -

Lookin' back on the track for a little green bag
Got to find just a kind or losin' my mind
Out of sight in the night, out of sight in the day

Lookin' back on the track gonna do it my way
Out of sight in the night, out of sight in the day
Lookin' back on the track gonna do it my way
Lookin' back

Lookin' for some happiness
But there is so a loneliness to find
Turn to the left turn to the right
Lookin' upstairs lookin' behind

(Little green bag, George Baker)
acho que estou gorda.
ou magra.
não sei.
ou talvez tenha só o corpo errado.

(escusam de vir com a "manta da caridade". isto são coisas minhas)
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou como vocês devem estar de férias, seus sortudos... vejam lá se lêem livros para me enviarem emails com menos erros. façam isso pelo bem das moças que passam o dia a responder a emails chatos (com emails chatos), sempre com a mesma fórmula: tão cordial que só pode ser a gozar. e às vezes é. é uma pequena vingança que os meus dedos fazem sem me consultarem. trago outro "antes e depois". reparei nele através de um documentário sobre o poder da imagem ou qualquer coisa assim. Como é sabido a fotografia, quando surgiu, não tinha referências; ou seja, o que fotografavam os fotógrafos? Sim, o que fotografavam os primeiros fotógrafos? O que filmavam os primeiros realizadores? Havia muito de doméstico nas primeiras fotografias como as de Julia Margaret Cameron. Mas também havia muito de encenado. Os primeiros fotógrafos tinham como referência a pintura ou o teatro. Não é por isso de estranhar que fotógrafos como Julia Margaret Cameron ou Henry Peach Robinson tenham encenado as suas fotografias e que ao olharmos para elas fiquemos com a impressão de que se trata da fotografia de uma peça de teatro. Bem, toda a fotografia é encenação ou, pelo menos, manipulação. E não estou a falar do photoshop. Quem já leu posts aqui no belogue sabe que para mim a escolha de um ângulo na captação de uma imagem é uma forma de manipulação, já que aquele ângulo em especial pode contar uma história em detrimento de contar "a" história. Ou outra história qualquer. o mesmo se passa com o cinema que nos seus primórdios tinha um pouco de teatro (o cinema mudo usava os separadores a negro onde as "falas" podiam ser lidas pelo público, tal como no teatro os actores se dirigiam à plateia para "contar" segredos.) Tinha também, ao que parece, um pouco de pintura. Vimos isso em Renoir e vemos agora na relação entre um brevíssimo filme dos irmãos Lumière e a pintura de Cézanne.
















Paul Cézanne
The Card Players
1890-1892
Metropolitan Museum, Nova Iorque












Louis Lumière
Partie de cartes
1895


quarta-feira, junho 10, 2020

olhei-me ao espelho. olhei-me com olhos de ver e não de fugida, conforme faço, para evitar aborrecer-me comigo logo de manhã. olhei-me e achei que tinha um corpo horroroso. um daqueles corpos bons para esquartejar e transportar numa mala até locais ermos para confundir a polícia. só.

terça-feira, junho 09, 2020

- não vai mais vinho para essa mesa -

duarte, 4 anos, a preparar-se para pintar: uau, o teu quáto é fixe. até tem cama e tudo!
- não vai mais vinho para essa mesa -

duarte, 4 anos, a pintar: - pechijo de cô-de-pel
eu: humm... sabes que o cor-de-pele pode ir do branco de chumbo ao preto manganês, passando pelo prepúcio do Mike Pence.
duarte:...
eu:...
duarte: pode chêr ajul.

sexta-feira, junho 05, 2020

- original soundtrack -

é linda? é.
já postei? já. mas hoje sinto-me jururu e quando assim é, gosto de ouvir coisas destas. principalmente esta parte:

(...)
I kiss the cold, white envelope
I press my lips against her name
Two hundred words. We live in hope
The sky hangs heavy with rain
(...)

(Love Letter, Nick Cave)
- não vai mais vinho para essa mesa -

(não sei se conseguem ver. eu só vejo no telemóvel...)

- ars longa - vita brevis -
hipócrates

"antes e depois ou como tanto faz isto ir com muito molho como com pouco pois já percebi que o pessoal vai directo à chicha (imagens) e nem presta atenção ao molho (texto) que, segundo dizem, é onde está o segredo. ou estará na massa? bem, não sei. tive um tempo para as minhas coisas e andei a ver - imaginem lá - conferências online sobre exposições. daquelas coisas chatas, mesmo chatas. mas descobri umas coisinhas que partilho com vocês, porque isto só faz sentido se for partilhado. como não tenho cão, nem gato, nem carro, nem marido, nem televisão, nem namorado, nem whatsapp, nem crianças, partilho com o satélite que vai distribuir isto por aí. houve muitos fotógrafos de guerra: os pioneiros da fotografia que tiveram a oportunidade de captar momentos da guerra civil americana, o Robert Capa que trabalhou enquanto fotojornalista, o Roger Fenton que inspirou o Coolio no primeiro verso da canção (estou a brincar). Alguns deles, sedentos de experimentar resultados diferentes dos da fotografia plana, faziam "pós produção" ou então, riscavam lentes, sobrepunham-nas, enfim... faziam o possível, com a tecnologia da altura, para obter efeitos diferentes. alguns simularam mesmo cenários de guerra inexistentes (ou que não tiveram a oportunidade de fotografar, mas que imaginavam assim) criando uma ilusão. a fotografia é sempre uma narrativa, um ponto de vista parcial mesmo quando supostamente tem de ser idónea como é o caso da fotografia de guerra com o seu lado documental e informativo. E por vezes, o fotógrafo não manipula a fotografia, mas esta é percebida de forma diferente quando retirada do seu contexto original. Desta forma podemos dizer que a fotografia é manipulada e manipula. [É como quando percebemos que aquele começo do "Naughty Girl" da Beyonce ("Uhhh... love to love you baby") é afinal da Donna Summer.]

Bem, isto para dizer que o fotógrafo Frank Hurley (acusado no meio de ter manipulado algumas imagens da Primeira Guerra Mundial), provou do seu próprio "veneno" quando esta imagem:


Frank Hurley
Supports going up after battle, 1917

Foi posteriormente usada para ilustrar uma peça de teatro com o título "War Horse". Utilizaram parte da imagem de Frank Hurley e colocaram a silhueta do cavalo:
E assim acontece. Vou dormir. Estou com sono e down.
- o carteiro - 

lista de desejos:
"A Piada Infinita" de David Foster Wallace;
"A Vida - Modo de Usar" de Georges Perec
"Autobiografia de Alice B. Toklas" de Gertrude Stein
"Os Sonâmbulos" de Hermann Broch
"Autobiografia" de Thomas Bernhard

quarta-feira, junho 03, 2020

haiku da coragem

dentes cerrados
da luta entalada.
falo; agora sim.

terça-feira, junho 02, 2020

haiku

num lay-off assim
os dias são inteiros,
do meu trabalho