- o carteiro -
atenas, 26.09.2012, 12h
quem saísse à rua no dia e à hora referidos em epígrafe, ali junto da zona da acrópole, no sopé da mesma, pensaria tratar-se de um dia feriado. só à medida que o turista fazia o seu dia fugindo da referida área, é que percebia a tensão no ar. nos dias que antecederam este 26 de setembro, a polícia andou nas ruas fortemente protegida, mais até do que armada, a identificar pessoas. geralmente sem abrigo, bêbados ou pedintes. o bairro anarquista a caminho do monte strefi estava calmo.
quem tivesse escolhido aquela manhã para visitar qualquer museu, ficaria à porta, o que pode parecer óbvio mas não era. a greve, segundo a informação da polícia, a greve seria fraca, coisa de pouca monta, só para, e passo a citar, "professores e médicos". mas a verdade é que já em direção ao Museu arqueológico Nacional de Atenas se via o grande aglomerado de pessoas, a caminho da praça sintagma. quando chegados ao museu, os turistas deparavam-se com um papel a anunciar o fecho, durante aquela quarta feira, dos serviços. os horários dos museus mudavam quase diariamente. quando o turista se aproximava das escadas do museu para ali descansar, percebia o olhar dos manifestantes que também procuravam os degraus com o mesmo propósito. era porém possível ao turista, mesmo que este fosse de uma realidade muito semelhante, sentir certa hostilidade no olhar do manifestante. nada declarado, nada dito, mas um riso, um sorriso trocista vindo da superiodade moral de quem luta pelos direitos, face à superioridade prática que o dinheiro possibilita. ali ao lado ardiam já caixotes do lixo.
o autocarro para o aeroporto, que geralmente era apanhado na praça sintagma pararia nesse dia numa paralela ao museu Benaki (também impossível de visitar no dia anterior porque às terças fechava às 15:30h e impossível de visitar no próprio dia devido ao cordão policial). no caminho para lá, com as malas, o turista podia ver os cartazes, caminhar entre os manifestantes (o percurso obrigava a furar por entre a multidão) e sentir a raiva crescente na boca, nos olhos. como uma panela de pressão. e eis quando, numa paralela à praça, se ouvem explosões e chega até ao nariz um cheiro que não era propriamente mau, mas tornava o respirar muito difícil. a polícia coloca a postos os bastões, e desce a rua a caminho da multidão ululante. quem se encontrava no café da esquina, foi obrigado a abandonar a esplanada. porque agora já não era gregos contra o FMI, ou gregos contra a Alemanha, ou contra o governo... era gregos contra quem não estivesse ali. quem não era por eles, era contra contra eles. pelo menos foi o que o turista, no seu caminho para a paragem de autocarro sentiu. para a posteridade ficou uma turista que filmava toda a cena, incluindo os turistas que assistiam à cena que a turista filmava para posteriormente, no sossego da sua casa, colocar com toda a probabilidade no facebook.