quinta-feira, julho 23, 2009

- o carteiro -
Esqueça a Playboy; Eis a Idade Média! (2º parte)

Caros senhores: hoje não há mulheres nuas, só homens e vamos falar muito de pénis. Por isso se desejarem ir até outro blog, disponham. Como dissemos no post que antecedeu este, a representação de genitais masculinos nos "sermões de pedra" em contexto religioso era tão comum como os genitais femininos só que após o século XII, XIII, deixaram de aparecer. A razão que vejo para isto é a acentuação da forma negativa como a Igreja, principalmente a católica, via as mulheres. As suas "vergonhas" expostas no interior das Igrejas, faziam-nas corar de vergonha e avisavam-nas para o seu fraco poder de ocultação ou preservação da sua intimidade. O século XII foi um dos mais pródigos na construção de Igrejas Românicas, abarcando toda a Europa, o Mediterrâneo, a Palestina e a Irlanda. Isto levou a um rápido crescimento financeiro e "industrial". Escultores e pedreiros foram sendo recrutados das mais diferentes partes da Europa para obras situadas em reinos afastados dos seus locais de origem (eles eram a primeira versão do artista do Renascimento e o seu trabalho era o que agora conhecemos por trabalho de autor, embora não assinassem a pedra. A pedra ficava marcada, isso sim, com o símbolo da guilda a que pertenciam). Para o transporte de toda esta mão-de-obra foi necessário melhorar, pelo menos, a rede de comunicações: as cidades estavam ligadas mais facilmente, havia mais riqueza que poderia servir para incrementar ainda mais o crescimento, mas que foi utilizado para subsidiar as cruzadas. E foi no entanto este século, marcado pela primeira de três vagas de Cruzadas dirigidas a partir de Espanha, que é hoje recordado como o mais sangrento, o mais movido pelo ódio especialmente contra Muçulmanos.

Já nos homens, há três factos que não podemos esquecer e que estão ligados à sua representação, mais ou menos realista, mais ou menos fantasista no interior religioso. A primeira tem a ver com a palavra "fascínio" e está ligada a ritos ancestrais e tradições ainda hoje praticadas por alguns povos. A palavra "fascínio" vem do romano "fascinum" que mais não era que um amuleto em forma de pénis muito pequeno que os rapazes prestes a entrar na adolescência e no momento de assumir a sua virilidade, traziam ao pescoço. Para Santo Agostinho e para outras religiões, o pénis mais não era que uma criação de Deus dominada muitas vezes pelo diabo (este pensamento era comum à cultura islâmica). Quando erecto o pénis, segundo Santo Agostinho, estava possuído por Satanás, o que dramaticamente fazia sentido pois o movimento de erecção parecia involuntário.
O "grande pénis erecto", exemplarmente castigado é o de Judas que cometeu um dos grandes pecados da Humanidade ao suicidar-se por arrependimento de ter traído Jesus. Por isso é comum entre os homens nus do Românico, vermos alguns que seguram uma bolsa de dinheiro, como para provar que a avareza é um crime e um pecado que leva à Luxúria. E é também verdade que quando uma das formas de masturbação é a de privação de ar que se designa por asfixia auto-erótica: ou seja, um homem que se vê privado de ar, diminui o fluxo sanguíneo de chegar ao cérebro o que resulta numa falta de oxigénio e num orgasmo mais premente. Por isso existe um certo mito de que as pessoas que se enforcam morrem com uma erecção.
A segunda palavra a reter é "bourse". As figuras masculinas que mostram os genitais em igrejas francesas são muitas vezes prestamistas, ou cobradores de impostos, pessoas associadas à avidez e ao dinheiro. Por isso apresentam-se todos nus carregando uma bolsa de dinheiro numa das mãos, bolsa essa que tem a forma de escroto, mas é bastante maior que o próprio pénis que as figuras exibem. A palavra francesa para escroto é "bourse", mas também é uma palavra usada para designar saco de dinheiro ou bolsa. Em espanhol diz-se "bolsa" e em italiano diz-se "borsa" e as bolsas, sacos eram feitos de testículos de urso ou boi. Por isso muitas destas imagens de homens com sacos na mão encontram-se lado a lado com outras de ursos a mostrar os genitais. E de facto os ursos foram sempre maltratados na Europa.


As fachadas das Igrejas de paragem obrigatória para qualquer peregrino estava na maior parte das vezes coberta de imagens de horror, que tornavam presentes os vícios humanos - em oposição à fraca representação e representatividade das virtudes - como forma de expor os mesmos levando à vergonha pública de quem os praticava. Eram como se os fiéis devessem ser uns estóicos num Mundo de epicuristas. Quanto mais pública era a vergonha do vício, mais ele se praticava em privado. Esta insistência nos vícios não se dirigia apenas aos mais leigos e ao clero secular que privava com os transeuntes, mas também ao clero regular. Dentro de muitos mosteiros, os homens eram dissuadidos de cometer pecados como a gula (e o que lhe vem associado como a embriaguez e a música), a sodomia, a riqueza e a luxúria. Esses são então alguns dos temas presentes nos edifícios religiosos do século XII: bebedores de vinho, acrobatas que mostravam os genitais, prestamistas, ursos, músicos (a flauta era vista pelo clero como uma metáfora dos genitais masculinos), cães e porcos.


Já vimos de onde vem a relação entre o urso e escultura nestas igrejas. É uma questão de filologia, mas também de aproximação por acinte que alguns monarcas europeus faziam com os animais da sua personna real. Assim como Roma baseou as suas origens numa loba e todos os seus governantes tinham algo de licantrópico, da mesma forma muitos Imperadores em pleno Cristianismo associaram o seu nome e fundaram a sua genealogia no cruzamento de um urso com uma mortal. Mas havia outros animais cujo nome transpirava concupiscência como a lebre, pois esta estava relacionada com o culto de Vénus e porque naquela altura, como ainda hoje, as lebres procriavam com muita facilidade. Os macacos representavam a barbárie e a blasfémia moura e os leões estavam ligados ao sexo com as Sheela-na-gig. Há depois outras variantes como os homens que puxavam a boca numa careta, os que punham a língua de fora, os que engoliam as colunas onde estavam assentes e os que puxavam a própria barba.




2 Comments:

Blogger João Barbosa said...

é do c***

23/7/09 9:50 da manhã  
Blogger Belogue said...

Caro João Barbosa:
Então, o palavrão?!
Este blog é como os filmes de domingo à tarde: para toda a família.

24/7/09 12:07 da manhã  

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