quinta-feira, julho 23, 2009

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

Há uma frase que diz o seguinte: "quem tem telhados de vidro não deve atirar pedras ao vizinho". Eu penalizo-me quando correspondo às vossas e minhas expectativas, mas sempre que volto atrás, vejo os arquivos e reconheço um erro, corrijo-o de imediato. Em seguida martirizo-me. No entanto ninguém me conhece, não tenho ambições de escrever no "blog do ano", não farei dos meus post um livro de nome (humm... deixem ver uma coisa bem pirosa) "Arte de sapatos altos" ou "A Beluga doce" (xiiii... pretensioso...) e também ninguém paga para vir aqui. Isto do pagar é que faz a diferença. Também ninguém paga para visitar outros blogs, mas no caso dos livros, que é aquilo que hoje me interessa, embora não coloque em causa o preço de um livro ou de um bilhete para uma peça de teatro pois estou a ver ou a ler o trabalho de um autor, tenho de questionar o trabalho dos editores.

Vem isto a propósito dos inúmeros erros ortográficos, de pontuação ou mesmo erros de impressão com que nos deparamos quando lemos um livro. A culpa não é totalmente do autor: deve saber escrever com toda a correcção, mas lembremo-nos de Eça que colocava demasiadas vírgulas nas suas frases e nem por isso deixa de ser um dos melhores escritores de sempre. (Na minha opinião!). A culpa passa pelo autor, mas acima de tudo pela editora e com isto falo de revisores, de paginadores, de editores de texto, etc. Vamos então ao primeiro exemplo:

- "O Fim do Mundo Antigo e o Princípio da Idade Média", Ferdinand Lot, Edições 70, 1980, página 454. Alguém escreveu "françês" em vez de "francês". Entre muitos outros erros, este era o mais flagrante.

- "Retrato de uma Senhora", Henry James, Publicações Europa-América, 1996, página 497. Está escrito "...defronte da fachada alta e fria de Saint John Lateran; daí avista-se a Campanha, nos contornos mais distantes...". Não houve critério de escrita, não houve uniformização pois "Saint John Lateran", é "São João Latrão" e Campanha é Campanha. Se a primeira expressão está em inglês, a segunda também deveria estar. Ou então estavam ambas em inglês ("Campania"). Na página 541 temos o erro que a minha professora D. Alcina, puniria com umas valentes reguadas: "- Só digo que nós éramos demasiado obsecadas pelo simples poder intelectual;...". "Obsecadas"? , "OBSECADAS"?

- Há livros que nem precisamos de ler. "Leu o livro?", "Não, não li.", "Então como é que sabe que é mau?", "Li o título". "Olá Mariana", Judite de Sousa, Oficina do Livro, 2002. Aparentemente nada de errado, não é? Não, não é. Antes do vocativo há sempre vírgula. O correcto seria "Olá, Mariana".

- "O Processo", Franz Kafka, Publicações Europa-América (Colecção Livros de Bolso), 2ª Edição, 1989, páginas 228 e 233. Pois... ainda estou à espera destas páginas. Quando cheguei à 227 percebi que a 228 estava em branco. O mesmo sucedeu com a 233. Posso ter tido azar, mas fica mal.

- Um Prémio Nobel não é garantia de uma escrita imaculada e este é o exemplo onde a culpa foi, provavelmente do autor (da autora) antes mesmo de ser do revisor, pois é um daqueles erros de "Salvatore stupido, stupido, stupido". "O sonho mais doce", Doris Lessing, Editorial Presença, 2007, página 250: "- Margaret pergunta o que está a fazer?". Ora se é a Margaret que pergunta, porque é que és tu, que na tua fala tens um ponto de interrogação?
Quando um livro custa 20 euros não pode ter este tipo de erros, assim como não admitiríamos que um DVD não fosse visível e um CD não fosse audível.

3 Comments:

Blogger João Barbosa said...

quem nunca errou que atire a primeira pedra

23/7/09 9:51 da manhã  
Blogger Belogue said...

Quem nunca escreveu um livro que atire a primeira pedra:
Aqui vai granito!

24/7/09 12:08 da manhã  
Blogger Belogue said...

Honestamente, acho que devíamos, enquanto leitores, reclamar mais. Há falhas inadmissíveis independemente do preço do livro. E num livro essas falhas têm muita importância pois a nossa capacidade de escrita sem erros passa por aquilo que vemos escrito, por aquilo que lemos. Se lemos com erros, principalemnte numa idade pouco avançada, como é que vamos poder questionar o que estamos a ver?

24/7/09 12:10 da manhã  

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