sexta-feira, novembro 07, 2008

- ars longa, vita brevis -
hipócrates
antes e depois ou como este não é o meu pintor preferido, mas reconheço-lhe a passagem excelente do Impressionismo, ou do Pós Impressionismo para o Expressionismo e acreditem que em termos de resultado final é uma grande mudança. Embora alguns Impressionistas tenham, no fim do período optado por uma pincelada mais abstracta, era sempre possível ler e reconhecer o objecto da pintura. Quando passamos para o Expressionismo, e no caso de Franz Marc, nem sempre é possível fazer isso. Reconhecemos alguns elementos figurativos, mas não todos. Em Franz Marc a estilização do traço e o uso da cor compartimentada devem muito a Gauguin e a Cézanne (Acho que foi Matisse que chamou Cézanne de “pai de todos nós”).
Com o advento de uma nova era, a pintura mudou, mas continuava a ser muito difícil aos chamados artistas de arte degenerada conseguirem pintar e vender os seus quadros. O mercado, assim como a situação política não estava aberta a isso. Um urinol invertido não ficava bem numa sala de jantar por mais liberal e moderno que fosse o seu comprador. A fuga de muitos artistas é a realidade. Já não era a realidade das senhoras a passear com sombrinhas perto do Sena, nem dos bailes onde jovens se divertiam. Os artistas do início do século XX, ainda mesmo antes da Primeira Guerra Mundial, procuravam fugir à realidade dessa paz podre através da natureza, elementos que toda a gente reconhece, que podem ser transformáveis e que são comercializáveis, sempre. Franz Marc fez essa fuga à realidade através da Natureza e fê-lo, tal como Degas, pintando cavalos e outros animais: vacas, veados, burros, cães..., mas sempre com uma técnica que não era piegas nem completamente figurativa. Ele próprio diz que não pintava os animais sob o ponto de vista de um humano, mas do ponto de vista dos próprios. Por isso procurou retirar os animais do seu contexto (um prado, um campo, uma arena) e pintá-los pintando o que eles viam. Talvez por isso se note um distanciamento do observador em relação às suas telas: elas não nos afastam nem são incómodas como as de Otto Dix (num outro registo), mas criam uma certa distância devido ao traço rude e cores estridentes. (note-se que Marc tinha feito alguns estudos sobre simbologia da cor).
Marc era um verdadeiro interessado na vida animal e mais do que isso, nos animais em si e preferia-os ao Homem que considerava ser impuro, perante a beleza e inocência dos animais. Privou com outros artistas que pintavam animais e escreveu mesmo um texto para um livro que se chamava "O Animal na Arte". Tinha uma forte ligação ao seu cão Russi, um pastor siberiano, tinha vários gatos e acabou por comprar dois veados. Quando tinha tempo livre visitava o Zoo de Berlim. Procurava incorporar na arte o elemento animal que os artistas, depois de Delacroix, esqueceram e dizia mesmo: "Não concebo meio mais pertinente para a "animalização da arte" do que a pintura animalista". Neste friso de burros, que tem claras influências do friso de burros egípcio e das máscaras de povos primitivos - assim como outras obras têm influências igualmente remotas, mas perceptíveis - Franz Marc antropomorfiza o animal e acaba muitas vezes a humanizá-lo ou pelo menos a pintar nele sentimentos seus:"

Friso de Burros
2700-2600 a.C.
Rijksmuseum, Leiden


Franz Marc
Friso de Burros
1911
Colecção Particular