- o carteiro -
e agora uma coisa completamente diferente*
há histórias que merecem ser contadas. Não que nos vão aquecer ou arrefecer, mas saber um bocadinho mais das coisas não custa e saber da vida dos outros, principalmente se estes já tiverem morrido ou se não tivermos a certeza que alguma vez foram vivos, não é nenhum pecado nem pesa na consciência. Vem isto a propósito de um nome: Semíramis. Há duas versões da história desta rainha lendária da Babilónia contada por Diodoro de Sicília (século I a.C.). Uma diz que Semíramis, que era uma mulher de grande beleza, filha de uma deusa marinha, esposa de Ones e que participou nas campanhas militares de do rei Nino. Numa dessas batalhas a bela senhora consegue tomar uma cidade particularmente bem defendida o que leva o referido rei a admirá-la e acabar por se apaixonar por ela. Ones, o marido não aguentou a traição, enlouqueceu e suicidou-se. Semíramis tornou-se assim rainha e teve um filho do rei Nino; um filho que se chamou Nínia (não parece nome de homem, mas é). Depois da morte do rei Smíramis assume o poder e torna-se a soberana que funda o governo e a cidade da Babilónia, dirige exércitos e expande o império até à Índia. Na segunda versão da história de Semíramis, a verdade é bem menos romântica: Semíramis seria uma cortesã por quem o rei assírio (o mesmo rei Nino) se enamora. De tal forma andava o homem apaixonado, que lhe concedeu, a pedido dela, todas as prerrogativas reais durante cinco dias. No primeiro dia ela recebeu o ceptro e o manto real e deu uma grande festa durante a qual convenceu os chefes militares e dirigentes regionais a colaborar com ela (os poderes femininos são um mistério!), no segundo dia, enquanto o povo lhe estava a prestar tributo, ela encarcerou o marido (e não foi para "brincarem") e como não lhe faltava coragem e já que tinha o poder, apoderou-se do trono e fez-se coroar rainha até ao fim dos seus dias.
Há uma terceira versão da história de Semíramis que se inscreve na tradição dos escritos de Valério Máximo e é recuperada por Bocácio. Diz esta versão, partindo do princípio que Semíramis já é alguém influente, talvez tomando-a como rainha, que estando Semíramis na companhia das suas aias e damas e sendo hábito as mulheres pentearem-se a qualquer hora do dia e sem razão aparente, recebeu uma notícia. O recado dizia que os cidadãos da Babilónia estavam prontos para entregar a cidade ao seu tio, o príncipe dos Medos. Semíramis encolerizou-se, atirou o pente para longe, vestiu a armadura, deixou as mulheres de lado e reuniu os guerreiros e prometendo nunca mais arranjar o cabelo até que a cidade se rendesse às suas ordens, foi para o meio da liça combater a rebelião.
Os artistas gostam de retratar alguns aspectos em detrimento de outros na história de Semíramis. Guido Reni pintou Semíramis a coroar-se, talvez inspirado por uma versão própria, algures entre a primeira e a segunda versão de Diodoro. Vemos como coloca a coroa na sua cabeça com uma mão, enquanto com a outra afasta a mão do marido e rei Nino, quando este, ainda incrédulo e sem saber se fez a coisa certa, tenta ripostar.
Guido Reni
Semíramis recebendo a coroa
Século XVIII
Università degli Studi, Ferrara
Outros pintores preferiram retratar o momento em que Semíramis estava a ser penteada e soube da revolta do povo da Babilónia. Um dos que preferiu esta hipótese foi Guercino que pintou três versões deste momento e uma delas esta em que Semíramis está com a mão apoiada na cabeça, ainda não bem ciente do que lhe tinha acontecido, contrasta com a outra por causa disso mesmo; Semíramis na segunda versão já está de pé e com uma das mãos a interromper o mensageiro. Não está revoltada em nenhum dos casos, mas no segundo parece mais decidida e no primeiro mais passiva.
Guercino
Semiramis Receiving Word of the Revolt of Babylon
1624
Museum of Fine Arts, Boston
Guercino
Semiramis Called to Arms
1645
Colecção Privada
Pois sabe-se que este quadro foi, muito provavelmente enviado a Carlos II de Inglaterra em 1660, juntamente com outras pinturas. Ora Carlos II casou com D. Catarina de Bragança em 1662 em Inglaterra e o casamento não foi muito feliz pois pairou sempre entre eles a sombra da amante, a condessa de Castlemaine, Barbara Villiers, a quem o rei ofereceu o quadro. Deduz-se que o rei lhe ofereceu o quadro pois ele encontrava-se na colecção dos duques de Grafton nos finais do século XVII. O primeiro duque de Grafton foi o filho da condessa. Semíramis representa a mulher que luta, que deixa de lado a vaidade para se entregar a uma causa. Conta-se que a razão pela qual o rei ofereceu o quadro à amante e não à esposa como seria natural, uma vez que Semíramis também foi esposa de um rei, foi um comentário de D. Catarina. Esta já sabia da relação do marido com Barbara Villiers e um dia, estando no quarto a ser penteada e arranjada pelas suas aias e demorando-se um pouco, a condessa irrompeu pela porta e disse: "Como pode Vossa Majestade ter paciência para levar tanto tempo a vestir-se?". Ao que a rainha respondeu: "Tenho tantos motivos para fazer uso da minha paciência que posso bem suportar mais este".
Pois sabe-se que este quadro foi, muito provavelmente enviado a Carlos II de Inglaterra em 1660, juntamente com outras pinturas. Ora Carlos II casou com D. Catarina de Bragança em 1662 em Inglaterra e o casamento não foi muito feliz pois pairou sempre entre eles a sombra da amante, a condessa de Castlemaine, Barbara Villiers, a quem o rei ofereceu o quadro. Deduz-se que o rei lhe ofereceu o quadro pois ele encontrava-se na colecção dos duques de Grafton nos finais do século XVII. O primeiro duque de Grafton foi o filho da condessa. Semíramis representa a mulher que luta, que deixa de lado a vaidade para se entregar a uma causa. Conta-se que a razão pela qual o rei ofereceu o quadro à amante e não à esposa como seria natural, uma vez que Semíramis também foi esposa de um rei, foi um comentário de D. Catarina. Esta já sabia da relação do marido com Barbara Villiers e um dia, estando no quarto a ser penteada e arranjada pelas suas aias e demorando-se um pouco, a condessa irrompeu pela porta e disse: "Como pode Vossa Majestade ter paciência para levar tanto tempo a vestir-se?". Ao que a rainha respondeu: "Tenho tantos motivos para fazer uso da minha paciência que posso bem suportar mais este".
*não é nada diferente, era só para ver se estavam atentos
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