- ars longa, vita brevis -
hipócrates
antes e depois ou "como é a diagonal, estúpido. Este quadro de Delacroix, executado para o Salon de 1827, mas exibido apenas no ano seguinte e que não granjeou opiniões positivas dos críticos. Diziam tratar-se de uma imitação sem espírito e técnica de Rubens. Entre as opiniões negativas dos críticos destacava-se a posição de Theophile Thoré que achou o quadro muito "refrescante" como se fosse uma aguarela inglesa. O tema da Morte de Sardanapalus é muitas vezes associada a uma peça de Lord Byron, "Sardanapalus", embora não exista nada na mesma que fale da morte das concubinas do rei. A história de Byron (não há disto na net, só nos livros) é baseada na história do autor grego Diodorus que retratou a vida do rei assírio no século I d.C. O autor fala de um rei que defendeu a sua cidade dos inimigos durante três anos, até uma profecia relativa ao rio Eufrates ser cumprida. Segundo a profecia as águas do rio iriam subir de tal forma que derrubariam o muro da cidade e o rei teria de admitir a derrota. Na realidade e história de Sardanapalus é bem menos heróica. Dizia-se que era um hedonista e irresponsável e a frase que o definia seria: "já comi, já bebi e já me diverti; nada me apraz mais do que uma palha" (o que quer dizer qualquer coisa como é tudo muito engraçado, mas não me diz nada). Diodorus também descreve o rei, fora do campo de batalha como um homem vaidoso, rodeado de luxo e mulheres e ele próprio um ser efeminado que se pintava e vestia como uma mulher e usava cosméticos na pela para que esta parecesse mais branca. É este tipo de homem, que nada agrada à burguesia do romantismo, que agrada aos poetas românticos ingleses e franceses, bem como aos pintores. Nada na escrita de Diodorus nos diz que Sardanapalus mandou assassinar as suas concubinas, nem isso acontece no livro de Byron, mas é assim que Delacroix retrata o rei. Baudelaire disse que Delacroix sofria de "molochismo artístico"; ou seja, gostava de pintar a dor e o derrame de sangue. (Moloch designa um sacrifício hebreu, mas em linguagem corrente, em inglês, refere-se à pessoa ou coisa que exige sacrifícios) Mas essa tendência pode ser apenas uma tendência dentro do próprio romantismo e não uma tendência do autor. Seja como for, na visão de Delacroix Sardanapalus manda o eunucos do palácio executar as suas amantes, dos seus pajens e até dos seus animais preferidos (vemos na pinturas cavalos, mas fala-se também de cães). O que torna esta obra algo importante é o facto de, depois do barroco e do maneirismo, depois do retorno ao pensamento racional com o realismo, o romantismo aparecer como um revivalismo do barroco através do uso de diagonais tão dinâmicas.
Muitos não identificam a fotografia de Jeff Wall com o quadro de Delacroix, mas há até semelhanças de contexto. jeff Wall captou este "Quarto destruído" em 1978, quando a sua esposa Jeannette o trocou por outro homem. O quarto destruído mostra um vasto conjunto de roupa de mulher, espalhado por todo o lado. A forma como as peças se encontram no quarto, ou melhor, a presença de peças de roupa femininas num quarto destruído leva-nos a pensar que a violência foi contra o género em si, contra a mulher e não até contra outra pessoa que não daquele sexo. Poderia ser um quarto assaltado, mas não é isso que vemos de imediato. E não foi isso que a crítica de arte feminina viu de imediato, não obstante a roupa estar em perfeitas condições (Jeff Wall pediu as roupas emprestadas à mulher para tirar a fotografia, enquanto as coisas entre eles estavam mais ou menos bem - em briga de marido e mulher não metas a colher! - e o quarto ser declaradamente um estúdio (repare-se na porta e na janela). A influência de Delacroix nota-se então no tema (uma vez que Sardanapalus mandou matar as suas mulheres depois de ter sido derrotado) e na diagonal que é semelhante à do quadro de Delacroix.
Eugène Delacroix
The Death of Sardanapalus
1827
Musée du Louvre, Paris
4 Comments:
tremendo
diagonal ou o raio que os parta
se fosse comigo tinham que arrumar a sala toda antes de ir para a caminha!
caro joão barbosa:
para ser sincera,se não tivesse investigado, não diria que foi baseado na morte de sardanapalus. e toda a noite sonhei com esta palavra. quando acordava dizia "sardanapalus". que parasita mental!
Caro AM:
não perceoo título do quadro de delacroix: a morte de sardanapalus. o tipo está ali quieto, a ver as coisas acontecerem. se ele se suicidou como dizem, o delacroix fica a dever-nos um quadro.
- vá meninos, toca a ir para a cama.
- oh mãe, já?
- sim, arrumem isto tudo e lavem os dentes.
- mas falta-nos matar uma das amantes do rei!
- vá, despachem-se com isso e cuidado com as manchas de sangue no tapete que são uma chatice para tirar. e cuidado com a diagonal. seme estragam isso ficam sem ver televisão durante uma semana.
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