sexta-feira, setembro 12, 2008

- o carteiro -

solipsismo El Grequiano (se eu disser que ele não existe, ele não existe)
Posso provar que nunca existiu. Não pode ter existido um homem que pinta três versões do mesmo tema e fica com a pior. É a mesma coisa que fazer melhoria de nota, estar sempre a piorar a classificação em cada tentativa e no fim escolher reprovar. Pergunto-me se faria o mesmo juízo em relação ao Caravaggio. Não, não faria porque o Caravaggio nunca teria tal atitude. Mas mesmo que tivesse, a progressiva abstracção da pintura resultaria em algo melhor do que aquilo que estamos prestes a ver. Pergunto-me se foi importante para a história da pintura. sem dúvida, para quem acredita que ele foi necessário para a história da pintura. Maneirismo antecipado? e quem o quer?
O caso é o seguinte: El Greco fez vários estudos concluídos sob a denominação "The Purification of the Temple" e fala de como Jesus expulsou os vendilhões do templo naquele que foi um dos raros momentos de ira da Salvador e que ficará para sempre gravado na minha memória como ferro quente nos quadris de uma vaca. A primeira versão, também chamada de versão de Veneza, por ter sido, possivelmente, ali pintada. E isso é notório no tom de Ticiano, Veronese e Tintoretto que a cena tem. Até se podia dizer que o cenário é o mesmo de alguns quadros destes pintores. Mas como eu disse, o que eu não vejo não existe, a prova de que El Greco não existe é que anatomicamente algumas figuras estão tão mal desenhadas que ninguém pode ser assim tão medíocre. Logo, não existe.

El Greco
The Purification of the Temple
c. 1570
National Gallery of Art, Washington

Na segunda versão, dita versão de Roma e como no quadro "Christ Healing the Blind" toda a inspiração vem de Tintoretto. O grupo central onde se encontra Cristo sofre modificações: a figura da mulher com a criança na mão surge agora mais apressada enquanto na primeira versão posava para a tela; são acrescentados os quatro retratos do canto inferior direito que representam, da esquerda para a direita Ticiano, Miguel Ângelo, Giulio Clovio e provavelmente, o próprio El Greco. Miguel Ângelo e Ticiano pois toda a estrutura arquitectónica bem como a posição de algumas personagens é retirada de obras destes dois artistas e Giulio Clovio pois este foi o amigo que introduziu El Greco na casa Farnese. O jovem mais à direita que aponta para si próprio pode ser El Greco devido a semelhanças que apresenta com um outro quadro. Mas há quem diga que é Rafael, o que eu acho provável porque assim como assim El Greco continuava a introduzir nos seus quadros figuras que em nada se relacionavam com o tema tratado.

El Greco
The Purification of the Temple
1571-76
Institute of Arts, Minneapolis

A terceira e última versão chama-se também versão de Toledo (já em casa, portanto). A cena fica reduzida ao grupo principal (abandonou mulheres com criancinhas pela mão e amigos no canto inferior direito, abandonou a senhora, coitadinha que estava ali do lado esquerdo com a mão na gaiola dos pássaros)... Este grupo segue quase na totalidade o modelo de Miguel Ângelo que estava implícito na versão original, cerca de 30 anos antes. Assim que elimina o resto da composição e se concentra do grupo principal, mas mantém a dimensão ou proximidade das personagens com o primeiro plano, elas ganham vida, óbvio! Mas isso é um artifício. Como um mau aluno, prefere eliminar os problemas com a perspectiva no pavimento e personagens com uma anatomia estranha, do que trabalhá-las. tss, tss... Face ao primeiro quadro, mudou a posição de algumas personagens, bem como as suas expressões e cor das vestes. Não é tudo obra do génio criador de El Greco. De facto, não é nada devido a esse inexistente génio (posso dizer isto? posso, o blog é meu e eu respondo pelos meus actos), mas às decisões da Contra Reforma. Assim a mulher tipicamente veneziana que estava reclinada no lado esquerdo, dá lugar a um homem que se dobra e que apresenta muitas semelhanças como uma figura de "Miraculous Draught of Fishes" de Rafael. Acima de Cristo, à esquerda e à direita vemos dois relevos na pedra que representam respectivamente a "Expulsão do Paraíso" (a versão Antigo Testamento de a "Expulsão do Templo") e o "Sacrifício de Isaac" (que não faço ideia o que faz aqui).
El Greco
The Purification of the Temple
c. 1600
National Gallery, Londres

Esta é a segunda versão, mas com tudo aquilo que foi apagado para a terceira versão. A negro ficou aquilo que se manteve. Continuo a achar que El Greco não existe. É que se existe, se existiu, como é que alguém explica que um pintor tenha progressivamente piorado e tenha transformado uma pincelada que não era sua, está certo, mas ter estragado algo com potencial, para transformar a sua versão do tema num quadro que mais parece um pincel de lamber velas na sacristia.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

por acaso... acho o contrário. a terceira é a melhor. mais depurada, mais limpa e mais estilizada. mas são gostos

12/9/08 4:20 da tarde  
Blogger Belogue said...

ana, não gosto do el greco e... não gosto do el greco. dá-me vontade de vomitar. claro que está mais depurado, mas nem por isso está mais bonito porque ele cisma em fazer das figuras, chamas de velas. mesmo quando o tema não é sacro, sabe a sacro. mete medo. e dó.

13/9/08 1:11 da manhã  

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