quinta-feira, setembro 11, 2008

- o carteiro -

quadros dentro de quadros
ora bem... estes não eram os exemplos que pretendia dar, mas como ainda tenho de esperança de conseguir as imagens que desejo e como estou a precisar urgentemente de uma overdose de Fnac para as ter, ficamos hoje por aqui, com estas que também já não é mau. Sabemos, e já não é a primeira vez que postamos, que os quadros muitas vezes ficam dentro dos quadros: Van Gogh fez isso, Manet também e Hogarth idem. Isto sem contar com as pinturas relativas aos gabinetes de curiosidades que dariam muito que falar, mas por ser mais fácil e achar que no Belogue vocês merecem mais do que o "mais fácil" resolvi procurar outros exemplos. O primeiro é Vermeer. Já sabíamos que o homem tinha aquela mania por pintar quadros dentro dos seus quadros. Só não sabíamos quais eram os quadros, se eram recriações suas de obras mais ou menos conhecidas ou se eram criações de origem de Vermeer. Soube agora, porque consegui apanhar uma mini-dose de Fnac, que pelo menos no quadro que apresentamos aqui em baixo, "Lady Seated at a Virginal" que de resto é muito parecido com o "Lady Standing at the Virginal" (não confundir, são obras diferentes), o quadro que aparece na parede do fundo é nem mais nem menos que "The Procuress" de van Baburen. Não sei a razão da escolha deste quadro para um tema tão pouco provocatório, mas a verdade, é que se olharem com atenção, atrás do grande quadro temos van Baburen. É também um facto que nesta fase, de qualidade inferior das suas obras, nota-se com mais precisão o quadro que está pendurado numa das paredes da sala, tal como acontece com "Alegoria da Fé".

Johannes Vermeer
Lady Seated at a Virginal
c. 1673
National Gallery, Londres



Dirck van Baburen
The Procuress
1622
Museum of Fine Arts, Boston

Ingres não era um exemplo de bom gosto e colocar as suas pinturas aqui é coisa que me custa mais que muitos sapos. Admito que tenha sido importante como ponto de transição para o Maneirismo, mas custa-me postar figuras tão sem expressão, com volumes trocados e neste estilo de pintura que mais parece vinda de livros para colorir do que de um pintor de renome. Seja como for, Ingres, que não tinha nada com isso, pintou a escandalosa Fornarina, amante fogosa de Rafael e em parte, responsável pela sua doce morte (ver post sobre "Escola de Atenas" de há uma semana), no colo do próprio pintor. Quando Ingres pinta "Raphael and the Fornarina" fá-lo alguns séculos após o romance dos dois e por isso Ingres nunca teria tido a oportunidade de conhecê-los. Seja como for, neste quadro de Ingres temos dois quadros de Rafael lá dentro: um deles é "Madonna della Seggiola" e outro, o que está na tela para que Ingres aponta é "La Fornarina" ainda em estudo preparatório. Temos então três Fornarinas: a real, a Virgem e a Concubina.

Ingres
Raphael and the Fornarina
1814
Fogg Art Museum


Rafael Sanzio
Portrait of a Young Woman (La Fornarina)
1518-19
Galleria Nazionale d'Arte Antica, Roma

E vamos agora a Rubens e a um quadro pintado "a meias" com Jan Brueghel (algo que eu não pensava que existisse). Seja como for, estes dois pintaram algo que se chama Alegoria da Festa. Nele vemos uma grande sala que esmaga e abafa com a quantidade de obras que ali podemos encontrar, as duas figuras "humanas" que ali estão. Digo humanas entre aspas porque elas não são bem humanas, são mitológicas e apesar de não ter encontrado nada sobre este quadro, quase diria que a criança é o Cupido e o adulto é Vénus. (é sabido que sítio onde um vai, o outro já lá está). Mas se olharmos com atenção para a zona do canto inferior direito, entre a cortina vermelha e o chão, encontramos um quadro que tem a vantagem, ao contrário dos exemplos anteriores, de ser um quadro do próprio autor. Vermeer, colocava nos seus quadros, quadros de outros autores, Ingres pintou um tema e dedicou-se a decorá-lo com quadros do visado e Rubens pinta e pinta os seus quadros dentro dos seus quadros. Se notarmos (e caso tenham dúvidas é só pesquisar na internet), o quadro de que falei e que se encontra no canto inferior direito desta Alegoria é "The Virgin and Child in a Garland of Flower":

Peter Paul Rubens e Jan Brueghel the Elder
Allegory of Sight
c. 1618
Museo del Prado, Madrid



Pieter Pauwel Rubens
The Virgin and Child in a Garland of Flower
1621
Musée du Louvre, Paris