quinta-feira, julho 24, 2008

-ars longa, vita brevis-
hipócrates
antes e depois, ou "como não se percebe muito bem, mas esta pintura de Vermeer é uma das mais apreciadas do seu autor. Atingiu até um valor recorde para a época quando em 1696 foi vendido em Amesterdão. No entanto não é das melhores obras de Vermeer: mal executado, sem mistério, sem histórias por detrás da história a não ser um retrato medíocre da época e de um tipo de pintura que está dentro das “cenas de cozinha”. Embora pareça uma piada, a verdade é que era comum pintarem-se cenas de cozinha – por cenas de cozinha lei-se cenas em que empregadas e empregdos preparam tudo o que é indispensável à outra parte da casa que está subjacente a esta divisão, mas que é de facto, um mundo à parte e onde senhores e empregados convivem cada qual no papel reservado ao seu lugar hierárquico. Os pioneiros neste tipo de pintura foram Beuckelaer e Pieter Aertsen. Nota-se no entanto que esta pintura de Vermeer é até bastnte diferente das cenas de cozinha destes dois autores, apesar de não os separar muito tempo. “A leiteira” de Vermeer retrata um local calmo, rústico (com os cestos de vime, os cântaros, os pães a escalfeta no chão, a braseira pendurada na parede e o rodapé com pinturas de Delft. Há também uma natureza morta em pano de fundo que muito convém à cena e a simplicidade doméstica da mesma e a luz que vem da esquerda ilumina uma cozinha branca e bonita que nada tem em comum com as cozinhas já citadas. A técnica utilizada para pintar o pão, recorrendo quase em exclusivo a uma espécie de pré-pontilhismo, indica o uso de um óculo ou algum instrumento que permitisse ver mais ao perto.), ao contrário da azáfama da maior parte das cozinhas onde se movem várias pessoas ao mesmo tempo, pessoas essas que parecem executar várias tarefas. O facto de se concentrar apenas numa personagem permite-lhe pintar a mesma de uma forma mais robusta, dar-lhe identidade e contexto, projectando apenas da leiteira a imagem que pretende projectar e que não iria conseguir caso a cena ficasse atafulhada de excedentes. A paleta de cores não foge do tradicional no pintor: azul, amarelo e branco, mas ao contrário do quadro da “Rapariga do Brinco de Pérola”, as mesmas cores não são aqui estridentes nem provocadoras, entrando antes no mesmo esquema do objectivo da pintura: como se pretende alguma calma, as cores baixam a saturação e adquirem uma tonalidade mais suave. A concentração da empregada é imperturbável de tal forma que ela não está apenas concentrada na sua tarefa; está petrificada, está cristalizada, assim como está cristalizado o fio de leite que escorre do jarro.

Mais uma vez a cópia sai a perder. Moore está apagada isto, na minha opinião, devido a algo que desconheço se foi intencional ou não, mas que não resulta na fotografia de Michael Tompson: a luz, a noção de como a luz e a vibração da cor era importante. Thompson descura a importância da luz no original e não a transmite para a sua fotografia. Descuido ou não, a verdade é que na fotografia há um retrocesso relativamente às cenas de cozinha: a cena está na obscuridade, é quase uma pintura se sombras e não com sombras. Moore parece também mais apressada: a fotografia não a mostra com o jarro de leite de frente e mesmo ela não está totalemente dedicada à actividade. Parece ir para outro cenário a qualquer momento, num Jogos Sem Fronteiras da Pintura Ocidental:”

Johannes Vermeer
The Milkmaid
c. 1658
Rijksmuseum, Amsterdão


Michael Thompson
Julianne Moore interpreta Vermeer
2001
Interview

2 Comments:

Blogger João Barbosa said...

bem observisto... confesso que não tenho apreciado as fotos do senhor com esta senhora

24/7/08 10:30 da manhã  
Blogger Belogue said...

ele é um óptimo fotógrafo, mas não conseguiu ficar muito aproximado do original. e à excepção da primeira fotografia em que a Julianne Moore tem um ar mesmo cruel, as outras fotografias são uma cópia sem espírito: nem transmitem o mesmo que o original, nem são críticas em relação ao quadro correspondente.

25/7/08 12:35 da manhã  

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