segunda-feira, julho 21, 2008

-ars longa, vita brevis -
hipócrates


Antes e depois ou “wow Julianne!”, ou “como ninguém pára esta mulher. Antes de ter feito a sessão fotográfica para a Harpers and Bazaar em que encarnou algumas personagens das pinturas modernas, e antes da sessão para Annie Leibovitz em que posou como Sininho, todas documentadas aqui no Belogue, Julianne havia posado em 2001 para Micahel Thompson. Nessa sessão para a revista Interview ela não fez o papel de personagem da Disney, nem de ícone da pintura para vários autores, mas vestiu a pele de algumas das mulheres mais emblemáticas nas pinturas de um só mestre: Vermeer. E deixem-me dizer-vos, ela fá-lo melhor que o original, que me perdoe o Vermeer. Vemo-la aqui como Santa Praxedes (lê-se “Prachedes”), uma virgem romana e mártir cujo dia se comemora, curiosamente, hoje. Só que enquanto na pintura de Vermeer a moça é toda ela virtude e temor a Deus, Julianne Moore é atrevimento e até maldade. Primeiro apresenta-se de vermelho, que não é exactamente a cor do vestido no original. E uma ruiva de vermelho é como atirar mais gasolina para a fogueira. Mesmo estando o preço do petróleo a aumentar! O inócuo laço na cabeça da santa adquire no cabelo de Moore o estatuto de adereço de Lolita. E referi a maldade na fotografia de Moore, foi porque reparei nas suas mãos a apertar o pequeno crucifixo em comparação com as mãos da virgem no original. No quadro de Vermeer a jovem aperta qualquer coisa, parece um fruto ou uma esponja de onde cai um líquido. Penso que será a invocação de um elemento identitário da sua morte e do seu martírio. Mas como desconheço e há pouca informação acerca desta santa, não me alongarei. No entanto, se virmos com atenção a fotografia de Julianne Moore reparamos que ela não espreme nada, a não ser o crucifixo em si. Há uma expressão de crueldade, um riso sádico no rosto de Moore e para falar a verdade, é isso que torna a fotografia tão boa e talvez a melhor de todo o conjunto. O original é atribuído a Vermeer no conjunto de fotografias tiradas e de facto este quadro faz parte da sua obra embora seja tido como um trabalho do início da sua vida profissional. Pensa-se até que o original mesmo seja de uma cópia de um artista “menor” (menos conhecido!), mas que recebeu o tratamento “vermeeriano”. Como se desconhece a data do quadro de Felice Ficherelli, igualzinho ao quadro de Vermeer ou vice-versa, desconhece-se qual o quadro que nasceu primeiro: o Vermeer ou o Ficherelli. Ainda hoje se pensa que possa ser um falso Vermeer, por causa da sua datação tão precoce (a combinação de uma técnica não apurada com uma assinatura mesmo que incompleta, legitima a obra) que foi causa da atribuição de muitos quadros a Vermeer na tentativa de alongar o espólio referente ao seu percurso inicial e também devido à forma como a pintura foi recuperada. Em 1943 a obra foi descoberta num pequeno leilão em Nova Iorque e pertencia a um casal belga que jurava a pés juntos ser um original de Vermeer apesar dos especialistas jurarem a pés juntos que não:”

Vermeer
Saint Praxidis
1655 (?)
Colecção Privada


Michael Thompson
Julianne Moore intrepreta Vermeer
2001
Interview