- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou "como eu não sei se vão pereceber este antes e depois… Pois é o seguinte, após este texto terão, não duas imagens, mas um vídeo e um texto. O vídeo (que só interessa para este post a partir dos 2 minutos e 56 segundos mostra como Indiana Jones no filme “Indiana Jones e a Última Cruzada escolheu o Santo Graal, de um conjunto de cálices muito diferentes, para o encher na fonte de vida eterna e curar o seu pai. Para isso ele teve como critério o facto de Cristo ter sido filho de um carpinteiro e por isso a taça tinha de reflectir esse facto, ser humilde e simples, mas também o facto não menos importante de o candidato que o antecedeu ter escolhido uma taça muito trabalhada e ter morrido. No romance de Umberto Eco, que ilibo na minha cabeça de qualquer intenção de cópia da ideia de Spielberg, Baudolino em conversa com o seu pai que está a morrer descobre que afinal a taça por onde Cristo bebeu o vinho da Última Ceia deveria ser feita de madeira, pobre, sem pedras nem ouro pois ele era um homem pobre filho de um carpinteiro. Estão a perceber a ideia?”:

Steven Spielberg
Indiana Jones e a Última Cruzada
1989

(a partir dos 2 minutos e 56 segundos)

[diálogo entre Baudolino e o seu pai biológico que está a morrer]
“Na manhã seguinte Baudolino contou-lhe que daria ao imperador o Gradal, a taça em que bebera Nosso Senhor.
- Ah, sim? E como é?
- Toda de ouro, cravejada de lápis-lazúli.
- Vês como és burro? Nosso senhor era filho de um carpinteiro e andava com os mortos de fome piores que ele; durante toda a vida usou a mesma roupa, dizia-o o padre na igreja, que não tinha remendos para não fazer má figura antes de fazer os trinta e três anos, e tu vens-me dizer que andava na farra com um cálice de ouro e lápis azul. Tem-nas boas, tu. Nada mau se tivesse uma gamela como esta, que lha tinha escavado o pai de uma raiz, como fiz eu, coisa que dura uma vida e que não se parte nem a martelo (…)”

(Eco, Umberto, 2000, “Baudolino”, Milão, Difel, p. 248