Se realmente estivéssemos sempre sozinhos, não haveria nunca aquela maravilhosa sensação ao fim do dia, quando finalmente chegamos a casa e nos estiramos em cima da cama com um bom livro para ler. (Nem sempre conseguimos isolar-nos devidamente em casa, ou no nosso quarto - às vezes temos mesmo de ir para um café, uma biblioteca pública, ou um jardim para que nos deixem em paz!)
Também não vou argumentar, Dona Beluga. Mas acontece que, por coincidência, ando a ler (há quase um mês – ultimamente, com o trabalho, leio muito devagar) um livro onde se diz que:
… “exterior” e “interior” não estão separados. O mundo não está separado de vós e de mim; nós somos o mundo e o mundo é nós. Não se trata de uma teoria; se observarmos bem, veremos que é um facto real. Estamos condicionados pela sociedade em que vivemos – uma sociedade comunista, socialista, capitalista ou qualquer outra sociedade. Cada um de nós é aquilo que se chama um “indivíduo”, nascido num determinado país e criado de acordo com uma certa tradição, crendo ou não crendo em deus. Cada um é moldado pela sociedade, pelas circunstâncias. As suas crenças, a sua conduta, a sua maneira de pensar (…) Mas pomos o mundo à parte, como uma coisa diferente de nós, porque o mundo é pesado de mais, com todas as suas pressões, tensões e conflitos (…) E retiramo-nos para dentro de nós mesmos, para as nossas crenças e esperanças, para os nosso medos e conceitos especulativos.
J. Krishnamurti, O Despertar da Sensibilidade, Lisboa: Ed. Estampa, 1992, pp.24-25
Se não o conhecesse diria que está a ler um livro de auto-ajuda... Mas até é capaz de estar a ler um livro de auto-ajuda, graças à sua capacidade para ler de tudo, algo que eu invejo... Sim, um livro faz muita companhia, mas às vezes sinto-me como a senhora do Ferrero Rocher quando ela própria diz: "bom, o que eu queria era algo...". Um livro faz companhia, distrai, mas a solidão não nos permite estar bem nem com um livro, nem com dois. O Saramago, de quem eu já gostei mais, dizia que a solidão não é estarmos sozinhos; é não conseguirmos fazer companhia a alguma coisa ou a alguém que vive dentro de nós. Mais um bocadinho e isto parece Paulo Coelho (lagarto, lagarto, lagarto!) O meu psiquiatra diz-me uma coisa semelhante: que o sentirmo-nos acompanhados vem de dentro para fora e não de fora para dentro. Não é ninguém, não é o "exterior" que vai "fazer companhia". Mas a verdade é que estamos muito centrados em nós para vermos como almas penadas, as cenas em que somos actores. Pensamos: eu e os outros e nunca "nós". Não sei se me fiz entender... Está na hora de ir ler.
4 Comments:
isso é tudo mentira!
Não, não é, mas também não vou argumentar.
Em Agosto vou tirar isto da minha cabeça e do meu coração. Nem que seja à dentada, mas vou.
Se realmente estivéssemos sempre sozinhos, não haveria nunca aquela maravilhosa sensação ao fim do dia, quando finalmente chegamos a casa e nos estiramos em cima da cama com um bom livro para ler. (Nem sempre conseguimos isolar-nos devidamente em casa, ou no nosso quarto - às vezes temos mesmo de ir para um café, uma biblioteca pública, ou um jardim para que nos deixem em paz!)
Também não vou argumentar, Dona Beluga. Mas acontece que, por coincidência, ando a ler (há quase um mês – ultimamente, com o trabalho, leio muito devagar) um livro onde se diz que:
… “exterior” e “interior” não estão separados. O mundo não está separado de vós e de mim; nós somos o mundo e o mundo é nós. Não se trata de uma teoria; se observarmos bem, veremos que é um facto real.
Estamos condicionados pela sociedade em que vivemos – uma sociedade comunista, socialista, capitalista ou qualquer outra sociedade. Cada um de nós é aquilo que se chama um “indivíduo”, nascido num determinado país e criado de acordo com uma certa tradição, crendo ou não crendo em deus. Cada um é moldado pela sociedade, pelas circunstâncias. As suas crenças, a sua conduta, a sua maneira de pensar (…) Mas pomos o mundo à parte, como uma coisa diferente de nós, porque o mundo é pesado de mais, com todas as suas pressões, tensões e conflitos (…) E retiramo-nos para dentro de nós mesmos, para as nossas crenças e esperanças, para os nosso medos e conceitos especulativos.
J. Krishnamurti, O Despertar da Sensibilidade, Lisboa: Ed. Estampa, 1992, pp.24-25
Olá Professor
Se não o conhecesse diria que está a ler um livro de auto-ajuda... Mas até é capaz de estar a ler um livro de auto-ajuda, graças à sua capacidade para ler de tudo, algo que eu invejo...
Sim, um livro faz muita companhia, mas às vezes sinto-me como a senhora do Ferrero Rocher quando ela própria diz: "bom, o que eu queria era algo...". Um livro faz companhia, distrai, mas a solidão não nos permite estar bem nem com um livro, nem com dois. O Saramago, de quem eu já gostei mais, dizia que a solidão não é estarmos sozinhos; é não conseguirmos fazer companhia a alguma coisa ou a alguém que vive dentro de nós. Mais um bocadinho e isto parece Paulo Coelho (lagarto, lagarto, lagarto!)
O meu psiquiatra diz-me uma coisa semelhante: que o sentirmo-nos acompanhados vem de dentro para fora e não de fora para dentro. Não é ninguém, não é o "exterior" que vai "fazer companhia". Mas a verdade é que estamos muito centrados em nós para vermos como almas penadas, as cenas em que somos actores. Pensamos: eu e os outros e nunca "nós".
Não sei se me fiz entender... Está na hora de ir ler.
Um abraço da Beluga.
Ofereceram-me "O Segredo". Senti-me ofendida!
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