- ars longa, vita brevis -
Hipócrates
antes e depois ou "olá gente. estou um bocadinho jururu... vamos lá ver como é que isto corre. hoje trago-vos um antes e depois que compara uma fotografia do Eadweard Muybridge com uma pintura do Francis Bacon. pá, confesso que o Bacon não me "sóia" (soa) muito. não sei, não me cai bem... as pinturas dele deixam-me desconfortável. se calhar é esse o objectivo. Bem, começo pelo princípio: a fotografia dos tipos sociais e corporais. Com o avanço da ciência no final do século XIX (quando falei do Van Gogh até dei exemplos), com as descobertas na fotografia, mas também devido ao Grand Tour, às expedições e às Exposições Universais, começou a ser possível ver fotografia de tipos. por um lado o tipo desconhecido, o exótico (como as tribos negras em África), que é sempre visto como algo curioso, porém menor, por parte do homem branco. por outro lado, os tipos de corpos que dão origem a uma pseudo-ciência. esta "ciência" classificava as pessoas consoante as medidas do seu rosto e corpo. acreditava-se que os assassinos e os doentes mentais tinham determinadas características físicas comuns (teratologia). se realmente fosse assim não havia criminosos. isso serviu para justificar muita coisa e não sei se isto não estará na base do eugenismo e daquilo que foi feito na segunda guerra mundial... bom, mas o que queria dizer é que sim, que de facto se acreditava que a fotografia associada às doenças mentais podia ajudar a classificar os tipos. Um dos defensores dessa ideia (e praticante) foi o nosso Eadweard Muybridge. Antes de tudo convém dizer que ele criou o zoopraxiscópio, que está na base do princípio cinematográfico. este aparelho permitia-lhe criar imagens fotográficas do movimento humano ou animal, para melhor este ser estudado. De facto tanto fotografou cavalos a correr, como doentes num asilo e claro, esta criança com paralisia a andar com as mãos e os pés. É o gosto pelo exótico, pelo estranho, pelo mórbido. É pelo menos mórbido fotografar isto tendo em mente fazer uma classificação das pessoas. Mas há gente que tem gosto pelo mórbido, pelo que de pior há na Natureza e no ser humano, seja isso físico ou não. Acho que o Francis Bacon era uma pessoa assim. Não propriamente um gosto pelo mórbido, mas o gosto pela besta humana, o que torna algumas das suas pinturas mórbidas. ele próprio disse que o ser humano é carne apenas: é perecível, é utilizável... acho que ele disse isto por causa da barbárie da segunda guerra mundial. o quadro de Bacon é também um pouco com o seu pensamento acerca do ser humano: não há esperança. aquela figura entre o humano e o animal encontra-se num quarto escuro, atrás de uma escada e de uma corda que dali pende. lembro que estes eram, entre outros, símbolos da Paixão de Cristo e do seu sofrimento. isto leva-me a pensar que Bacon pudesse estar a dizer que não havia esperança para aquela criança: se não fosse a morte, haveria uma existência pouco auspiciosa como possibilidades para viver aquela vida. mas também acho que a com a criança Bacon não quer falar da doença, mas sim da existência humana, saudável ou não. no fundo ele diz que não há esperança.
Eadweard Muybridge
Infantile paralysis (child walking on hands and feet)
1887
Eadweard Muybridge
Infantile paralysis (child walking on hands and feet) - pormenor
1887
Francis Bacon
Paralytic Child Walking on All Fours (from Muybridge)
1961
Gemeentemuseum Den Haag, The Hague
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home