quarta-feira, abril 20, 2016

- o carteiro -

por falar em besta humana, ei-lo que surge, o post sobre bestas, desta feita, animais. na verdade, se estão recordados, estou a escrever sobre bestiários. este conjunto de posts não vai abarcar todos os animais. para isso podem ir ver aqui. só acho que a minha descrição acerca de cada animal é mais completa, embora não tenha a parte das fontes, dos antecedentes, é claro. vamos então a mais um conjunto de animais: elefante, hiena, veado, macaco e cabra.

o elefante tem uma particularidade em comum com algumas pessoas: não tem desejo em copular. no entanto quando cheias, as fêmeas de elefante andam assim por dois anos e só têm uma cria por gravidez. aliás, só têm uma gravidez. E quando o elefante macho queria ter um bébé com o elefante fêmea, dirigiam-se para Leste, para o Paraíso. Já sabem, o Paraíso ficava a Leste... Aí, a fêmea de elefante dirigia-se a uma árvore chamada mandrágora, arrancava um ramo e dava-o ao seu macho (onde é que já ouvi isto?). Os dois mastigavam do ramo e ela concebia de imediato, após cópula costas com costas. Lembro-me de um filme, O Labirinto do Fauno em que havia qualquer coisa com uma mandrágora debaixo de uma cama. Acreditava-se que a mandrágora tinha propriedades afrodisíacas e que por isso era utilizada para conceber.  Também se acreditava que os elefantes viviam 300 anos...
Obviamente que esta história da mandrágora tem muito em comum com a história de Adão e Eva: tal como Adão e Eva, também o casal de elefantes prova da árvore do conhecimento - aqui o conhecimento é a descoberta de algo que estava vedado. Quando chega a hora do parto, a mãe elefante dirige-se até um lago e entra nele até a água lhe dar pelo dorso. Enquanto isso o pai elefante vigia e guarda a mãe da cobiça e maldade do dragão, de quem o elefante é inimigo. O mesmo acontece caso uma serpente passe por lá (o elefante macho mata-a) ou até com touros. A sua fraqueza são mesmo os ratos, de quem tem medo. Os elefantes nunca se abandonam ou traem: a união é para a vida.
O que mais se destaca neste animal - e que certamente deu pano para mangas na altura - é a sua tromba. O nariz do elefante é chamado probóscide (ou proboscis que quer dizer "para os arbustos" pois de facto é com este apêndice que o elefante leva folhas à boca). Os elefantes protegem-se entre si com os dentes de marfim, têm grande memória e inteligência e são gentis. Dois exemplos típicos da Idade Média: se um elefante vir um homem perdido no deserto, leva-o de volta ao seu caminho, e se se vir envolvido numa batalha - o que não é nada do seu feitio - recolhe os feridos para área segura.
Acreditava-se igualmente que os elefantes não possuíam articulações e como tal, se caíssem já não podiam levantar-se. Era por isso que dormiam de pé, encostados a uma árvore. Se desta forma o caçador não podia capturar o animal, fazia-o de outra: cortava parte do tronco da árvore e esperava que o elefante fosse dormir para, quando se encostasse, o tronco partisse, o elefante caísse e assim, sem possibilidade de se levantar, o caçador o apanhasse. O elefante, obviamente, pedia ajuda. Em seu auxílio viria outro elefante (grande e poderoso, mas que não conseguia levantá-lo), doze elefantes, também sem sucesso e por fim, um pequeno elefante que lá conseguia levantar o companheiro. Em muitas representações medievais do elefante, este surge com um conjunto de homens no seu dorso, algo que não é de estranhar pois os soldados persas e indianos faziam uso da altura dos elefantes para neles construírem pequenas torres e daí atacarem os inimigos.



















Século XI
Espanha


A maior parte das representações medievais (em bestiários) da hiena, mostram-na a comer alguém: é o corpo de um homem morto, junto de um sepulcro, lugar que as hienas habitavam para assim lhes ser possível comer pessoas mortas...Também se acreditava que a hiena era um animal quase hermafrodita: não que tivesse os dois sexos, mas conseguia a um momento ser um, e no momento seguinte ser outro. Por causa disso, eram considerados animais sujos. Tinham também outras particularidades que causavam algum asco: uma coluna (em espinha) única, rígida, razão pela qual não conseguiam rodar em torno de si próprias e por outro lado, o facto de não terem olhos, mas pedras no lugar destes, pedras essas também chamadas de hienas. Acredita-se que quem mantivesse as pedras que estão no lugar dos olhos das hienas, debaixo da língua, ganharia a possibilidade de prever o futuro. A verdade é que se a hiena rodasse três vezes em torno de um animal, ele deixaria de se poder mover, o que levava a pensar que a hiena pudesse ter dons mágicos.
Aproximavam-se de currais de ovelhas e cabras, bem como das casas dos pastores e por ali ficavam, quietas, a escutar as vozes, de forma a conseguirem imitá-las. Isso permitia-lhes assustar o pastor fazendo com que ele saísse de perto das ovelhas, ou até fazer uma delas pensar que perdeu a cria, por exemplo. Também tinham a capacidade de chorar e de rir. Se por acaso um cão de caça cruzasse a sombra da hiena ao tentar caçá-la, o resultado era ficar sem latido.
Quanto a acasalar... calculo que um animal tão mal cotado com a hiena devesse ter histórias escabrosas, neste âmbito, mas não encontrei nada sobre isso. Sei é que se uma hiena acasalasse com uma leoa, o resultado era uma leucrota; ou seja, um animal que era a mistura de vários (e não apenas aqueles que lhe dão origem) e que, pasme-se tinha uma boca de orelha a orelha. Não tinha dentes individuais, mas antes uma mandíbula (duas, na realidade).
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Misericórdia de assento
Século XV
Catedral de Carlisle, Inglaterra 
 


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
leucrota
 
 
Já não tive tempo para escrever mais. fica para a próxima. beijinhos às famílias