quarta-feira, abril 10, 2013

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou como uma pintura de Manet me fez voltar a Proust. é verdade, voltei a ler a Recherche (dizer Recherche é mesmo estar a pedir para ser taxada de pedante). estou a ler devagar, a apontar tudo o que me interessa e acima de tudo a fazer esquemas para ver se não me escapam os cenários e as personagens, bem como as relações entre elas. o Proust veio a propósito de um trabalho onde relaciono algumas pinturas com o círculo de amigos e conhecidos do escritor que serviram de base à criação de personagens. lembro-me de ter postado aqui uma coisinha sobre a presença de Charles Ephrussi no Dejeuner sur l'herbe do Manet. Este Ephrussi era um judeu rico e terá servido de inspiração a Proust para a construção de Swann, um amante de arte, um coleccionador, com boas relações na sociedade da época, mas que vive oprimido com um casamento com uma mundana - ainda que bela - que o priva de frequentar os salões dos seus amigos aristocratas que já não o convidam. Ora Ephrussi figura em alguns quadros dos Impressionistas como o Dejeuner do Manet ou o Dejeuner do Renoir. E há mesmo aquela história dos espargos. o que me anda a massacrar, é que não me lembro onde li que o senhor de cartola no quadro de Manet era Ephrussi. se alguém souber, por favor diga-me. outro dos modelos para Swann foi Charles Haas, um dandy judeu que estava presente nas mais altas esferas sociais. Tal como Swann que segundo Proust era um dos poucos judeus a frequentar o Jockey Club, também Haas era um dos poucos judeus a frequentar o Le Cercle de la Rue Royale do Tissot.

E aqui dou a volta à pescada e prendo-lhe o rabo na boca:

é que assim como Proust cria Swann, e Manet pinta Ephrussi, também Tissot pinta Haas. E assim como Manet pinta o Dejeuner, Tissot não lhe quis ficar atrás e pintou isto (um bocado a fugir para o azeiteiro, mas olhem, a quadro dado não se olha a velatura:




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Manet
Dejeuner sur l'herbe
1863
Musée d'Orsay, Paris

















Tissot
La Partie Carrée
1870
Coleção Privada

5 Comments:

Blogger Unknown said...

muito azeiteiro mesmo, o tissot (smile)

10/4/13 7:48 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Proust et ses peintres, p. 93

http://books.google.pt/books?id=GBeske8d0OIC&pg=PA93&lpg=PA93&dq=ephrussi+renoir+le+dejeuner+des+canotiers&source=bl&ots=ZObG9Y8wSj&sig=9dEN6a3S-Ar84veO5W8yxdnGYE4&hl=pt-PT&sa=X&ei=3NRmUYbzHYWBhQf1-IDgAg&ved=0CDkQ6AEwAjgK#v=onepage&q=ephrussi%20renoir%20le%20dejeuner%20des%20canotiers&f=false

11/4/13 4:24 da tarde  
Blogger Belogue said...

caro antónio:
só agora é que vi que uma das meninas do tissot tem um cão, um pug no meio das pernas. sabe que acho que há ali alguns impressionistas a quem fugiu a pincelada para a parolice. o renoir é um deles, na minha opinião.

caro anónimo:
sabe que esta semana encomendei esse livro pela amazon? é que nem de propósito! sim, sei que o ephrussi participou no dejeuner des canotiers do renoir, mas achava que ele tinha participado no dejeuner sur l'herbe. cheguei a escrever sobre isso, mas agora não encontro a referência. talvez na altura tenha confundido os dois quadros cujos títulos começam da mesma maneira. de qualquer forma, obrigada

12/4/13 1:04 da manhã  
Blogger alma said...

Beluga,
Obrigada pelo post, sou uma admiradora do Proust.
Vou ler o link que o simpático anónimo deixou.

Sobre Renoir e não só.Na arte como na vida por vezes somos julgados injustamente pelos amigos ou clientes que angariamos.
O impressionismo, impressiona qualquer um (smile)

12/4/13 2:51 da tarde  
Blogger Belogue said...

cara alma:
o livro é "proust et ses peintres".
sim alma, tem razão. é fácil agora neste tempo julgar os autores. dizer que renoir era um azeiteiro. mas há qualquer coisa em alguns quadros dele que é desagradável, que está na senda do menino com a lágrima no olho.

bem, vou dormir

13/4/13 12:24 da manhã  

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