- não vai mais vinho para essa mesa -
Post atrasado porque eu movimento-me a pedal e aproveito as descidas, já sabem como é:
Abro o número 1000 do Jornal das Letras: página 3, tudo muito bem. Cumprimento o Sr. Presidente da Comissão Europeia Dr. Durão Barroso, mas salto o comentário dele. Cumprimento o Sr. Presidente da República e fico muito feliz por saber que afinal o homem lê jornais. Uma pequena inconfidência familiar na última frase mostram o nosso Presidente como um homem, que se não é culto, pelo menos vai ter muito que reciclar (noblesse negligé!). Mas depois, nessa página 3 apenas encontro os comentários de Rui Villar (Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian), Simonetta Luz Afonso (Presidente do Instituto Camões), Lauro Moreira (Embaixador do Brasil junto da CPLP), Manuel Veiga (Ministro da Cultura de Cabo-Verde), Domingos Simões Pereira (Secretário Executivo da CPLP). E nenhum membro do governo Português. Mas como há que dar o benefício da dúvida, prossigo até à página 6. Muita gente a felicitar o Jornal das Letras, pela estratégia, pela luta no panorama nacional, pela preserverança, pelo contributo no ensino do Português além fronteiras, pela cobertura transversal das artes e das letras em Portugal. Lá estavam (e vou dizê-los todos para que não pensem que vos ando a endrominar): Fernando Henrique Cardoso (Presidente da República do Brasil de 1995 a 2002), José Saramago (Prémio Nobel da Literatura e Prémio Camões), Jorge Sampaio (Presidente da República de Portugal de 1996 a 2006), António Guterres (Primeiro-Ministro de Portugal de 1995 a 2002, Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados), Mário Soares (Presidente da República de Portugal de 1985 a 1995, Presidente da Fundação Mário Soares), Pepetela (escritor angolano, Prémio Camões), Mia Couto (escritor Moçambicano), Itamar Franco (Presidente da República do Brasil de 1992 a 1995), Freitas do Amaral (ex-Presidente da Assembleia Geral da ONU, vice Primeiro-Ministro), Lygia Fagundes Telles (escritora brasileira, Prémio Camoões), José Sarney (Presidente da República do Brasil de 1985 a 1990, Presidente do Senado, escritor), Manuel Alegre (poeta, Prémio Pessoa e vice-presidente da Assembleia da República), Jorge Couto (directora da Biblioteca Nacional e antigo presidente do Instituto Camões), Marcos Vinicius Vilaça (anterior Presidente da Academia Brasileira de Letras, Ministro do Tribunal de Contas), Nélida Piñon (primeira mulher a presidir à Academia Brasileira de Letras, Prémio Juan Rulfo), Eduardo Portella (membro da ABL, ex-ministro da Educação, Presidente da Biblioteca Nacional do Brasil e do Conselho Geral da Unesco), Francisco Lucas Pires (foi Presidente do CDS, ministro da Cultura e vice-presidente do Parlamento Europeu), Helena Vaz da Silva (foi Presidente do Centro Nacional de Cultura e deputada ao Parlamento Europeu), José Azeredo Perdigão (primeiro presidente da Fundação Calouste Gulbenkian) e, last but not least, Agustina Bessa-Luís (escritora, Prémio Camões).
Não querendo cansar os meus leitores com estas minudências onomásticas, acho, parece-me óbvio a ausência de membros do governo português com cargos de responsabilidade “temática”. Nada de Primeiro-Ministro José Sócrates, nem uma palavra de Maria de Lurdes Rodrigues, Ministra da Educação e nem uma linha do Ministro da Cultura Pinto Ribeiro. Mais há frente, na página 190, surge Manuel Maria Carrilho, mas é só e esse não exerce funções governamentais neste momento. Costuma dizer-se que “no news are good news”, mas eu acho que neste caso “no news are no nothing”
2 Comments:
Ah! Desculpe uma vez mais (acho que hoje estou para implicar e a Beluga calhou-me na rifa), ainda lê o jornal de muitas letras, poucas artes e nenhumas ideias? ufa!
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ver se implico menos consigo nas postas seguintes, ou a Beluga ainda me põe a andar, não do belogue, mas da internet no seu conjunto
Pode implicar á vontade (quer dizer, dentro da decência, da moral e dos bons costumes que eu sou uma moça de família, andei em colégio de freiras e rezo um rosário antes de me deitar). Só achei importante dizer que nem o Ministro da Cultura nem o Primeiro-Ministro se pronunciaram. Talvez a cultura não seja uma prioridade, mas mostrar um caso de sucesso dentro da sobreviência das publicações culturais, mostrar reconhecimento por isso, até nem seria mau. Concordo consigo quando diz que tem poucas ideias (sim, tem muitas letras, mas são para ser selecionadas. quanto às ideias... há textos totalmente intragáveis. mas sabe como dizia um artista cujo nome não me recordo agora? "os maus artistas elogiam-se sempre uns aos outros")
Mas gosto do Jornal das Letras, o que é que se pode fazer?
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