sexta-feira, janeiro 30, 2009

- o carteiro -

um post sobre arte abstracta, porque ninguém percebe e fica sempre bem a um blog ter coisas que ninguém percebe:


Jonathan Borofsky
Chattering man
1983

Diz-se que a arte abstracta surgiu como forma de reprimir a linguagem e a figuração que permitia a verbalização do que era visto. A arte abstracta, reduzida a elementos básicos, limitava assim o discurso humano perante a obra. No entanto, outras formas de arte como alguns signos visuais (hieróglifos, os pictogramas e os símbolos), comunicam e provocam a comunicação. Enquanto a arte modernista não necessitava de palavras para ser formulada, a arte abstracta pós-modernista necessitava porque não estava acessível a todos. Obviamente são duas visões diferentes: a que diz que é um saneamento da linguagem e a que diz que a linguagem lhe é necessária.

Embora hoje os movimentos pós-modernos e a arte abstracta em concreta (que antítese: “arte abstracta em concreto”!) já não estejam limitados à esfera da experimentação, já não sejam encaradas como experiências inter artísticas (não pertencendo nem ao domínio da arte nem ao domínio do teatro como para muitos é o caso da Performance e da Multimédia, ainda suscita a curiosidade e a necessidade das palavras. É que a arte abstracta marcou a ruptura com o discurso artístico e ao mesmo tempo deve ter sido aquela sobre que mais se falou.

Uma peça paradigma desta bifurcação é a peça de Jonathan Borofsky “Chattering Man”, que mais não mostra que um autómato em forma de figura humana estilizada que fala sem parar frente a uma tela abstracta. Todos os chattering men do artista são de grandes dimensões e possuem junto da boca um altifalante e roldanas monitorizadas e fazem abrir e fechar o maxilar. À medida que o maxilar inferior se move, ouve-se ao fundo um “blá-blá-blá-blá-blá-blá”. Isto para mim é importante ou pelo menos identificativo de um grupo de pessoas que procuram, quando vão a museus ou galerias, quando frequentam exposições, colocar em palavras o que vêem. É como se acreditassem transubstanciação do traço em palavra, mas não fossem defensores da consubstanciação dos mesmos. Esta obra é ao mesmo tempo crítica social e aviso pois mostra aos defensores da arte falada (e o que é que eu estou aqui a fazer?) que a arte abstracta pede silêncio para não se explicar. Nem tudo tem uma explicação lógica e não sendo a arte um domínio espiritual, divino ou metafísico, também não é dado que necessite de tanto ruído.

A arte abstracta coloca-se numa posição de ataque para se defender; ou seja, para não sei inviabilizada pela não produção de discurso, anula o discurso logo à partida, criando entre si e quem vê uma redoma que pode ser quebrada – e já foi – por uma atitude de aceitação da mesma, sem descrições desviantes. O quadrado branco sobre fundo branco de Malevitch é apenas isso e não uma enfatização pictórica de um momento social ou até económico. As duas descrições são válidas, mas para elaborarmos a segunda teríamos de saber mais sobre Malevitch, sobre a história do seu país, sobre o Marxismo, sobre Filosofia e Química, sobre as teorias de Einstein, sobre Matemática e Literatura. Ut pictura theoria.

4 Comments:

Blogger João Barbosa said...

Ufa!
.
Acho que os problemas so país são todos um pouco abstractos... embora feitos com figurinhas simpáticas, os tugas.
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Ou será estrunfes?

30/1/09 10:48 da tarde  
Blogger AM said...

não conhecia, mas gostei muito
vou ter que investigar
mt obg beluga

30/1/09 11:51 da tarde  
Blogger AM said...

não sabia que era o do museu do venturi...
shame on me

1/2/09 9:31 da tarde  
Blogger Belogue said...

Caro João Barbosa
era bom era!

Caro AM.
Agora que já foi "inbestigar", shame on you man!

3/2/09 12:46 da manhã  

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