- ars longa, vita brevis -
hipócrates
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antes e depois ou "como Monet ou Manet é tudo igual", ou como "eles são é uns vigaristas, esses artistas", ou como "uns sabidolas", ou como "uns sem vergonha", ou "como este post é muito Taschen (vá corram, está tudo nos livrinhos: volume Manet e volume Monet). Já sabíamos que aqui o Dejeuner de Manet era, como se costuma dizer "pau para toda a obra": ele é Picasso, ele é Marcantonio Raimondi, ele é Bow Wow Wow, ele é... Monet. É natural: foi um quadro polémico na época e embora faça já correr tinta, é agora um quadro icónico (como se não o fossem todos!). Mas este é especial porque ficou cristalizado como numa fotografia (a fotografia que nessa altura dava os primeiros passos) e porque coloca o observador no lugar de observado. E porque mostra uma mulher que não era uma figura mitológica, nua. E porque ela está junto de dois homens vestidos. A partir daqui os conceitos de nu e de despido tiveram de ser revistos. A mulher não estava nua: nua estaria se estivesse sozinha ou com outras pessoas nuas. Ela estava mesmo despida "a desavergonhada"! Pois, após observação cuidada podemos ver no quadro de Monet um extracto do quadro de Manet. Os dois andavam há muito confundidos; ou melhor, a crítica era muito desleixada no que concernia a Monet pois confundiam-no muitas vezes com Manet. De facto quando Monet entrou em contacto com os quadros de Manet, os seus quadros alegraram-se e a paleta de cores tornou-se mais ampla, tal como era a paleta de Manet. O estilo também sofreu alterações e embora todos os impressionistas fossem pintores da vida moderna, nem todos tinham a mesma visão da realidade. Não que Monet fosse sombrio, mas a temática tornou-se mais leve e tratada de forma mais prazenteira. Monet era um pintor mais académico e isso nota-se quando, influenciado pelo Almoço na Relva de Manet, tenta fazer a sua versão de um almoço na relva. Começa pela ambição nas medidas: se o quadro de Manet era um quadro de atelier, o seu teria de ser maior e para isso nada melhor que se pantagruélico. Se Manet pintou uma mulher nua, pois Monet iria pintar todas as suas mulheres vestidas. E os homens também. E mais, como pintor da vida moderna, iria pintá-los de acordo com o último grito da moda nas casas parisienses. O efeito que a tela teve nos críticos e nos colegas de profissão foi exactamente o oposto: os críticos e académicos atacaram veemente as escolhas de Manet, foram brandos com Monet, mas enquanto os impressionistas ficaram maravilhados com a audácia de Manet, relativamente a Monet ficaram desiludidos porque o quadro era uma cópia mal pensada da disposição das personagens na relva, que Manet já tinha justificado.
O facto de relacionarmos a obra de Manet com um pormenor da obra de Monet não teria efeitos práticos se os livros não nos tivessem avisado de tal coincidência e relação, mas também não seria conhecida se a tela em si não tivesse sido fragmentada. Ao que parece, segundo a Taschen, Monet pagou a renda da sua habitação com este quadro, mas quando um dia tentou reavê-lo, notou que a obra gigantesca estava bastante danificada e apenas dois pedaços sobraram da mesma.
Eu cá acho que esta relação não é totalmente forçada pois há semelhanças: dois homens e duas mulheres, fruta, pão e vinho no chão, e o homem de fato escuro sentado no chão no quadro de Manet assume uma pose que oscila entre a da senhora nua do quadro de Manet e o cavalheiro à sua direita.
Edouard Manet
Le Dejeuner sur L'Herbe
1863
Musee d'Orsay, Paris
Claude Monet
Luncheon on the Grass (pormenor)
1865
The Pushkin Museum of Fine Arts, Moscovo
2 Comments:
hummm?! não sei se concorde, mas confesso-me impotente para discordar. provavelmente tem razão
não sou eu quem tem razão, é a taschen. Monet pintou mesmo no rescaldo da polémica de dejeuner do manet. só que pintou de uma forma académica, muito plana, sem nenhum mistério. depois disso voltou aos nenúfares.
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