segunda-feira, outubro 06, 2008

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou como já postei tantas vezes este quadro que nem sei o que dizer ou como é um dos meus preferidos de Mantegna em comparação com um dos meus preferidos no cinema. neste fim-de-semana que foi dedicado ao cinema, descobri que o Ettore de Mamma Roma de Pasolini que na realidade morre crucificado, é filmado de um ponto de vista muito semelhante ao que Mantegna pintou o seu Cristo Morto, uma inovação da época. Já não é a primeira vez que Pasolini mostra a relação que os seus filmes têm com a arte, principalmente com a pintura italiana do Renascimento como foi possível observar em outros posts dedicados à Descida da Cruz. Tanto no caso de Pasolini como de Mantegna, o que é admirável é o ponto de vista (em Mantegna acentuado pelo facto de nunca ter sido pintado nada assim e muito menos o corpo de Cristo, tão sagrado e com formas de representação própria). O quadro tem algo de admirável também e comum nas pinturas de Mantegna: emoldura-se como um quadro, como se fosse uma janela e essa moldura é dada naturalmente graças à forma como as personagens são cortadas ou até como se acotovelam, muito juntas para poderem posar para o artista (um efeito, não um defeito, claro). O corpo está exagerado, tal como a mão de David, talvez devido ao ponto de vista. Está tão exagerado que parece inchado como se Cristo tivesse permanecido muito tempo dentro de água, o que de facto não aconteceu, para quem é crente. O rosto está sulcado por rugas, assim como está sulcado por rugas o lençol que o cobre, as mulheres que choram e até a definição dos seus músculos e ossos abdominais. Essas figuras que ora se amontoam ora permitem a sua exclusão em parte para conformarem o quadro, aparecem do lado esquerdo da do corpo de Cristo como velhas carpideiras ou até como o coro na tragédia grega. Sem elas a cena seria dramática, mas mais uma cena de morgue do que de velação.

Andrea Mantegna
The Lamentation over the Dead Christ
c. 1490
Pinacoteca di Brera, Milão


Pasolini
Mamma Roma (morte de Ettore)
1962

3 Comments:

Blogger João Barbosa said...

notavel

6/10/08 12:30 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

gosto muito deste quadro, ainda bem que o postas bastante

7/10/08 3:56 da tarde  
Blogger Belogue said...

caro joão barbosa:
então também vai gostar do post da madonna (madonna cantora e não madonna mãe de cristo)

cara ana:
tem a sua piada, como o mantegna que até foi um pioneiro em muitas coisas, mas é só isso. curiosamente esta imagem é muito representativa de um post de hoje sobre o falo na arte.

9/10/08 12:20 da manhã  

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