- ars longa, vita brevis -
hipócrates
hipócrates
antes e depois ou como já postei tantas vezes este quadro que nem sei o que dizer ou como é um dos meus preferidos de Mantegna em comparação com um dos meus preferidos no cinema. neste fim-de-semana que foi dedicado ao cinema, descobri que o Ettore de Mamma Roma de Pasolini que na realidade morre crucificado, é filmado de um ponto de vista muito semelhante ao que Mantegna pintou o seu Cristo Morto, uma inovação da época. Já não é a primeira vez que Pasolini mostra a relação que os seus filmes têm com a arte, principalmente com a pintura italiana do Renascimento como foi possível observar em outros posts dedicados à Descida da Cruz. Tanto no caso de Pasolini como de Mantegna, o que é admirável é o ponto de vista (em Mantegna acentuado pelo facto de nunca ter sido pintado nada assim e muito menos o corpo de Cristo, tão sagrado e com formas de representação própria). O quadro tem algo de admirável também e comum nas pinturas de Mantegna: emoldura-se como um quadro, como se fosse uma janela e essa moldura é dada naturalmente graças à forma como as personagens são cortadas ou até como se acotovelam, muito juntas para poderem posar para o artista (um efeito, não um defeito, claro). O corpo está exagerado, tal como a mão de David, talvez devido ao ponto de vista. Está tão exagerado que parece inchado como se Cristo tivesse permanecido muito tempo dentro de água, o que de facto não aconteceu, para quem é crente. O rosto está sulcado por rugas, assim como está sulcado por rugas o lençol que o cobre, as mulheres que choram e até a definição dos seus músculos e ossos abdominais. Essas figuras que ora se amontoam ora permitem a sua exclusão em parte para conformarem o quadro, aparecem do lado esquerdo da do corpo de Cristo como velhas carpideiras ou até como o coro na tragédia grega. Sem elas a cena seria dramática, mas mais uma cena de morgue do que de velação.
Andrea Mantegna
The Lamentation over the Dead Christ
c. 1490
Pinacoteca di Brera, Milão
Pasolini
1962
3 Comments:
notavel
gosto muito deste quadro, ainda bem que o postas bastante
caro joão barbosa:
então também vai gostar do post da madonna (madonna cantora e não madonna mãe de cristo)
cara ana:
tem a sua piada, como o mantegna que até foi um pioneiro em muitas coisas, mas é só isso. curiosamente esta imagem é muito representativa de um post de hoje sobre o falo na arte.
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