quinta-feira, outubro 02, 2008

- o carteiro -

design a. C. (antes do clip) ou carta à Guta
Cara Guta:
quando perguntas a um aluno de design qual a sua peça favorita, peça que representa mesmo o design ele diz: "espremedor de citrinos do Stark", que como nós bem sabemos é tudo (enfeita aparadores de casas de gente de bem só porque é extremamente oneroso) menos design. os professores corrigem a ideia e baixam a expectativas obrigando os seus alunos a pensarem no design como facilitador da vida e a desligarem o complicador, atacando logo com o clip. "Olha essa, não tinha pensado nessa. O clip... sim senhor, quem diria... mas encaixa, está certo, faz sentido". E depois, daí para a frente é só referências a descer. Se a história do design te foi bem leccionada, saberás que o primeiro designer da história foi o Cro-Magnon de quem tu e eu descendemos embora nem a ti nem a mim seja particularmente agradável pensar que vimos de um homem cheio de pelos. Mas é verdade. Os nossos antepassados pré-históricos não tinham pratos, nem facas, nem machados, nem tesouras, nem espelhos, nem jóias, nem agulhas, nem canas de pesca e nem por isso morreram de fome frente a uma preguiça. Nunca lhes ouvi dizer "ah, estão verdes, não prestam" como a raposa na fábula. Podes até ver isso aqui ao lado, em Mérida, no museu arqueológico, se não quiseres ser vista num museu de arqueologia em Portugal. Como não tinham facas nem facalhões, espelhos nem travessões, machados e tudo o que fazia falta para caçar um bom petisco, adaptaram o que existia na natureza (as pedras, os minerais, os fios das plantas que entrançados davam umas boas cordas), estudaram, através de tentativa erro, a hierarquia das pedras, as suas potencialidades, aproveitaram os ossos dos animais que caçavam bem como os dentes e acabaram por criar tudo o que necessitavam. Depois, depois chamaram-lhe progresso. Mas se o Cro-Magnon não te enche as medidas, tenho mais dois exemplos para ti: os Shakers e os irmãos Thonet.
Os Shakers ("shake it, got to shake it, shake it like a Poloroid Picture"), como saberás até melhor que eu, foram uma comunidade que se apartou do protestantismo tradicional para se afirmar como fundamentalista quanto à palavra de Deus (interpretada ao milímetro), ali por alturas de 1740-1750 (é fazer as contas). Como viviam numa comunidade fechada e eram ainda mais fundamentalistas que os Quacres, produziam, como os Amish tudo aquilo de que necessitavam, saindo dos seus limites apenas em caso de extraordinária demanda. Ficaram conhecidos pelos seus móveis, os móveis que usavam nos seus aposentos, feitos por eles e que respondiam às suas necessidades, sem grandes efeitos estéticos, mas com grandes resultados estéticos graças à sua simplicidade. Os materiais utilizados, o envolvimento da comunidade, o estudo com vista a aproveitar ao máximo o espaço bem como os meios humanos e materiais, a noção de simetria, escala e proporção fez com que os móveis dos Shakers tivessem hoje a actualidade do tempo em que foram concebidos e que, como tu bem sabes, influenciou muitos designers por esse mundo fora.
Os irmãos Thonet, inventaram a cadeira, isto é, reinventaram a cadeira para o design. Havia quase tantas cadeiras como chapéus (era uma piada, Guta), mas cadeiras desenhadas com preocupações com o bem estar e desejos do consumidor, com estudos sobre custos de produção, montagem, transporte e embalagem, cuidado com o ambiente (no fundo e naquela altura, poupar no material era poupar o ambiente, mas isso ninguém sabia), só as dos irmãos Thonet. As cadeiras não têm nada de especial, assim à primeira vista, mas foram as pioneiras do "desmontável" e do "faça você mesmo", para além de se poderem resumir a dois arcos (um deles é o assento) quatro pernas e as costas que são dois paus curvados.

Mas claro que referir os Shakers ou a Thonet não teria tanto impacto quanto falar do clip, embora fizesse uma vistaça! Por isso, revê lá em casa os apontamentos.

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

ela só a repetiu a publicidade da fluxoframa.

Agora vamos lá :)essa do espremedor não funcionar não é verdade !
o espremedor do stark funciona e bem ... esse exemplo de não funcionar é tb um cliché mas
compreendo !

sempre ouvi dizer que os homens se querem peludos !

as cadeiras thonet são lindas
mas a rapariga não se lembrou nunca as "experimentou"

2/10/08 1:03 da manhã  
Blogger Rato said...

o espremedor do stark cumpre só a sua função simbólica, pois a funcionalidade fica comprometida quando os caroços caem no copo... design não é só forma...

brilhante beluga

2/10/08 7:19 da manhã  
Blogger BadToTheBone said...

Maria,
O espremedor não funciona. Tanto não funciona, que o próprio Sr. Starck o admite. Se um dia comprar um, e ler o que está escrito na embalagem, verá uma citação do autor dizendo qualquer coisa como: não é um bom espremedor de citrinos...
Beluga, bravo!

2/10/08 7:09 da tarde  
Blogger formiga bargante said...

Brilhante, como é habitual.

Fernando Gonçalves

3/10/08 9:16 da tarde  
Blogger Belogue said...

cara maria:
não conheço a publicidade da fluxograma, quanto as homens querem-se peludos é como as mulheres querem-se pequeninas como a sardinha. qualquer coisa como Tony Ramos é inaceitável. quanto à sua opiniaosobre o espremedor, os outros comentários já a elucidaram, penso eu.

caro ratochino:
obrigada. depois falamos

caro bad to the bone:
idem, idem.

cara formiga bargante:
obrigada.

6/10/08 3:31 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Cara Beluga,
Continuo na minha, o espremedor só faz o que lhe compete, espreme bem qualquer citrino! é o meu espremedor, faço demonstrações grátis!

6/10/08 3:14 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Cara Beluga,
Continuo na minha, o espremedor só faz o que lhe compete, espreme bem qualquer citrino! é o meu espremedor, faço demonstrações grátis!

6/10/08 3:14 da tarde  

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