quarta-feira, setembro 03, 2008

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou "como tenho a certeza que este é o quadro mais revisitado que existe. vai uma aposta? Quando Manet pintou este quadro queria, acima de tudo, homenagear o seu amigo Courbet e a pintura "O atelier do artista" em que uma mulher nua aparecia em primeiro plano a observar a tela que o artista tinha pintado, juntamente com mais de ... muita gente (principalmente homens), na sala. Com isto Manet pretendia fazer com isto era colocar em causa a moralidade vigente de uma suposta burguesia moderna com muitos telhados de vidro. Quando o quadro foi apresentado primeiro numa exposição normal onde foi muito mal acolhido. Por isso, Manet e outros artistas que viram os seus quadros receber uma crítica tão negativa, decidiram organizar o verdadeiro Salon des Refusés. Apesar do quadro ter sido inspirado numa gravura de Marcantonio Raimondi (século XV e XVI) e em Giorgione, a crítica foi implacável já que se tratava de uma mulher despida junto a dois homens vestidos, argumento que nunca foi impeditivo da exibição do Concerto Campestre de Giorgione pintado nos mesmos termos. E os modelos nem eram prostitutas ou senhores da sociedade (ou vice-versa). A modelo era a Victorine Meurend, a modelo preferida de Manet e os senhores eram Ferdinand Leenhoff, cunhado de Manet e o próprio irmão do pintor, Eugéne Manet.


Renee Cox é tão controversa quanto esta obra de Manet o foi no seu tempo. Já a devem ter visto por aí. Em parte, o trabalho dela não faz muito o meu género pois faz a desconstrução de estereótipos e a denúncia do racismo e do sexismo na nossa sociedade, o que para mim, quando serve de justificação para fazer alguma coisa, sabe-me a ressabiamento (tipo mulher-que-vai-aos-concertos-Maria-Bethânia-com-amigo-gay-e-canta-todas-as-músicas-principalmente-aquelas-que-falam-de-separação-e-de-"não preciso de ti, sou mais mulher"). Por outro lado, Cox permanece fiel aos primórdios, ao que foi a sua bandeira nos anos 80 quando a sua obra começou a ser conhecida. No entanto ela distingue-se de muitos artitas afro-americanos (ela nasceu na Jamaica), pois não foi a influência urbana que a orientou artisticamente. Ela obteve um grau de profundidade nos seus estudos que não era comum para a época, mas aplicou esses estudos no que concebeu. E como na sua preparação académica teve sempre em linha de conta preocupações sociais, acabou por passar isso para as obras que concebia, na maioria, séries fotográficas. Quando dedicou uma delas aos mestres italianos, fotografou-se nua como Maria a segurar Jesus na recriação da Pietá de Miguel Ângelo e usou de novo o seu corpo nu e a sua imagem para posar para a Última Ceia (uma revisitação da Última Ceia de Leonardo), ao lado de apóstolos negros, o que chocou até Rudolph Guiliani. Parece-me que também não é necessário muito para se chocar um republicano. (e não me venham com a conversa de que o homem sofreu transformações com as influências neocons):"

Edouard Manet
Le Dejeuner sur L'Herbe
1863
Musee d'Orsay, Paris


Renee Cox
Cousins at Pussy Pond
2001
Brooklyn Museum

3 Comments:

Blogger João Barbosa said...

neste fiquei com dúvidas. desculpe se errei, mas

3/9/08 3:24 da tarde  
Blogger AM said...

há um "pugrama" da BBC, the secret life of a masterpiece, salvo erro, que conta tudinho

3/9/08 9:38 da tarde  
Blogger Belogue said...

Caro João Barbosa:
não percebo se ficou com dúvidas naquilo que escrevi, uma vez que acho que as imagens são bem elucidativas. Posso dizer-lhe que se pesquisar Marcantonio Raimondi (por imagens) vai encontrar uma que se tornou a base da construção do Dejeuner sur l'herbe do Manet. Esta imagem vem mais na continuação da imagem do Marcantonio Raimondi do da do Dejeuner, mas as revisitações são todas muito parecidas.

Caro AM:
eu sei, eu sei! E adoro (muito acentuado, este "adoro") porque são como eu, procuram no programa contar o "piolho da pulga." Adoro (ok, estou a repetir-me)

4/9/08 3:59 da manhã  

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