Trivium e Quadrivium
O Trivium ou “encontro dos três caminhos” compreendia a gramática, a Dialéctica e a Retórica. Hugo de Saint-Victor descreveu-as assim: “a Gramática é o conhecimento de como falar sem cometer erro, a Dialéctica é a discussão perspicaz e solidamente argumentada por meio da qual o verdadeiro se separa do falso; e a Retórica é a disciplina da persuasão para toda e qualquer coisa apropriada e conveniente”. Eram as disciplinas essenciais para quem pretendesse o sacerdócio ou qualquer lugar na hierarquia eclesiástica: nestas três disciplinas estava contido todo o conhecimento necessário para a administração da Igreja, mas também para a administração secular pois permitiam o domínio da língua, o conhecimento da sua estrutura, a argumentação e utilização do discurso poético como forma de persuasão, no caso administrativo. No entanto, com o ensino da gramática, da Retórica e da Dialéctica a oscilar entre as fontes religiosas e os textos clássicos, era difícil encontrar o equilíbrio e quase sempre os ideais presentes nos textos bíblicos prevaleciam. Uma das razões foi a força da Dialéctica e facto de se fundamentar nos escritos Aristotélicos que questionavam os propósitos bíblicos. Os estudos mais avançados estavam reservados para o Quadrivium: Aritmética, Geometria, Astronomia e Música). A arquitectura medieval, por exemplo necessitava do conhecimento profundo de todas estas matérias do Quadrivium até porque para Boécio, elas eram todas derivações da matemática. Um arquitecto medieval não era só aquele que desenhava as plantas, mas todas as modificações, os planos de construção, o fornecimento de materiais e desenhava todos os pormenores decorativos. Com isto chegamos às artes liberais que propunham fazer do homem da Idade Média, um homem com um sentido prático aliado ao sentido teológico, metafísico e espiritual.
Sandro Botticelli
A Young Man Being Introduced to the Seven Liberal Arts
c. 1484
Musée du Louvre, Paris
Marten de Vos
Allegory of the Seven Liberal Arts
1590
Colecção Privada
Laurent de la Hire
Allegorical Figure of Grammar
1650
National Gallery, Londres
Jan Steen
Rhetoricians at a Window
1662-66
Philadelphia Museum of Art, Filadélfia
Laurent de la Hire brinda-nos com mais do mesmo. Na verdade estas alegorias realizadas por la Hire fazem parte de um conjunto que compreende as Artes Liberais, mas felizmente só consegui encontrar duas obras da autoria dele porque não gosto do estilo. A alegoria é da Astronomia representada por uma mulher/anjo em êxtase (note-se lá atrás um pedaço de asa de anjo. Que toda a gente distingue e muito bem da asa de frango por esta estar geralmente depenada. Era uma piada). Na mão com os dedinhos esticados à parola, a Astronomia tem o compasso, mas do seu lado esquerdo podemos ver a panóplia de instrumentos relacionados com a representação da Astronomia: a esfera armilar, livros, e segundo me parece, um sextante. Para completar só faltaria o globo terrestre, mas isso seria pedir demasiado.
Laurent de la Hire
Astronomy
1649
Musée des Beaux-Arts, Orléans
5 Comments:
Uau....
Sensacional!
Abraço
Magnífico! Tudo o que eu estava precisando de um modo muito preciso. Obrigada!
o que não entendi direito é se todas eram ensinadas ao mesmo tempo ou,primeiro a Gramática,Oratória e Retórica e depois de alguns anos todas as outras.Tem alguma coisa que não ficou claro para mim.Isso começou na Grécia e quando foi introduzida as outras matérias?
Magnífico texto e belas ilustrações. Adorei!
Muito bom, fantástico.
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