segunda-feira, agosto 18, 2008

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou “como a gente tem capacidade para esgotar o tema…, ou como não tínhamos mais nada para pintar. Caso não tenham reparado, estes três quadros referem-se à mesma paisagem: uma rua, a rua dos correios em Cagnes-Sur-Mer (que não é a mesma coisa que Cannes) e que foi pouso de muitos pintores Impressionistas e Pós Impressionistas (em Cagnes-sur-Mer podemos encontrar o museu Renoir). Os três pintores viram a mesma coisa de formas muito diferentes: Renoir através do seu traço delicodoce (veja-se até a própria paleta de cores) pintou uma paisagem quente a familiar, harmoniosa. E tão quente que parece ter sido o próprio calor a esbater as cores e as linhas, as definições. Renoir nunca primou pelo bom gosto nas suas pinturas; há mesmo quadros de criancinhas com a lágrima no olho, mas é talvez o artista impressionista de maior inspiração técnica para os Pós-Impressionistas, para os expressionistas e até para os fauvistas, uma vez que a mancha de cor de Renoir dar mais facilmente lugar ao pontilhado de Seurat e à pincelada curta de Van Gogh, do que as linhas marcadas de Manet, por exemplo. Entre os Fauves que se debruçaram sobre a paisagem de cagnes-sur-mer, Derain destaca-se pois foi aquele que fundou, juntamente com Matisse, o movimento fauve. Derain pintou este quadro já sob essa designação, a designação de feras. Talvez tenha sido o ímpeto de fazer jus ao nome e o facto de ter vivido perto do seu amigo Picasso em Montmartre que levou Derain a pintar uma paisagem de Cagnes tão “cubista”. Foi nessa altura e sob a influência de Cézanne que a paleta de cores ficou mais restrita. Derain pinta Cagnes-sur-Mer como um local onde não gostaríamos de ficar muito tempo com medo de nos magoarmos. Quando o temo chega ao Expressionismo Soutine tomou a dianteira. De todos os expressionistas, Soutine foi o único que seguiu a via tortuosa de Rouault. Vemos em alguns dos seus quadros como a pincelada fica empastada, quase com se a tinta tivesse passado do tubo para a tela sem passar pela terebintina. No entanto, durante o período em Cagnes veio a bonança. Soutine estava a passar um mau bocado em Paris e a sua pobreza era proverbial. Teve mesmo de abandonar a pintura durante um tempo para se tornar porteiro numa estação de caminhos-de-ferro. Mas quando foi pintar para Cagnes, isso mudou: as cores das suas telas são mais vivas durante este período do que naquele que passou em Paris e se a isto juntarmos a influência do amigo Modigliani temos uma tela com uma composição bastante orgânica, muito livre e feminina, mas ao mesmo tempo fantasmagórica. Acho que era o fantasma do advento nazi que quando se concretizou obrigou um doente Soutine a abandonar Paris. Morreu durante uma operação:”

Auguste Renoir
Maison de la Poste à Cagnes
1906-1907
The National Gallery of Art, Washington


André Derain
La Maison de la poste à Cagnes
1910
Colecção Particular


Soutine
La Rue à cagnes
1918
Colecção Privada