quinta-feira, agosto 21, 2008

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

Antes e depois ou como vocês podem dizer “ah e tal, não tem muita piada” ou “ah e tal, antes é que era, havia mais posts e coisas melhores” e como eu depois vou ter de responder “ah e tal, antes era tudo novo e eu tinha tempo. Às vezes não está como vocês gostam, mas eu gosto e faço como posso. Mesmo que não gostem deste “antes e depois” por ser “comercial”, eu cá acho que tem piada. Nem toda a gente conhecerá as duas personagens. O antes é o anão que Velazquez pintou, Sebastian de Morra, anão da corte espanhola porque a corte espanhola, como todas as outras cortes, achava bem ter tudo o que considerasse diferente e exótico. O anão era como um aninal exótico, ou uma aberração humana que estava aprisonada e que servia os propósitos dos enfadados que esperavam ver algo de maravilhoso num ser humano com menos ums centímetros. Os próprios nomes dos anões, grandiosos, eram uma forma de brincadeira para com os seus titulares. Para os anões da Idade Média, quando estes se começaram a aproximar das cortes e a ser aceites nelas, era um refúgio pois o destino revelava-se-lhes muito difícil. Não eram aceites socialmente, sofriam muitas vezes distúrbios mentais porque eram mal tratados desde nascença, eram vistos como abrerrações, tinham obstáculos naturais intransponíveis…Nas palavras de quem sabe, a corte espanhola tratava e amava os seus anões como amava e tratava os seus cães. Isto não é muito lisonjeiro e até tenho um bocado de vergonha em o escrever, mas foi a descrição de Carl Justi em realção ao que os anões representavam para a corte espanhola. O retrato desta anão mostra um ser cansado, o que é importante pois geralmente os anões nas cortes tinham um papel prático e os seus sentimentos ou estado físico não eram tidos em conta. Velazquez pintou-o como um palhaço: nem sequer o pintou de pé sobre um fundo neutro, que facilmente disfarçaria a sua diminuta altura: pintou-o sentado, com as pernas abertas e viradas para quem o vê, mas mãos como cotos, impecavelmente vestido, mas sem a pose que o vestuário exige; enfim, um ser cansado. Ao pintá-lo assim, o artista evidencia a forma como o anão era visto por todos na corte, mas também por nós. Há em tudo isto uma espécie de curiosidade mórbida na observação de um ser dieferente. Por outro lado, Sebastian Morra também não está a sorrir ou a fazer uma das suas momices para divertir a audiência. O quadro é dele, é ele o quadro e por isso ele tanto pode ser apalhaçado por se mostrar assim, como pode ser a voz da consciência e a vergonha de quem o vê.  
A segunda imagem refere-se a um actor que se chama Luis Guzman. Ele protagonizou, entre outros, o papel de Jjacopo,  fiel acompanhante de Edmond Dantes, ou melhor, o Conde de Monte Cristo no filme com o mesmo nome (2002). Apesar de não ser anão tem, no filme, exactamente a mesma cara de Sebastian de Morra. E se a corte espanhola soubesse disto? Seriam os dois duas aberrações?

Velazquez 
The Dwarf Sebastian de Morra
c. 1645
 Museo del Prado, Madrid

Luis Guzman
The Count of Monte Cristo
2002

2 Comments:

Blogger João Barbosa said...

eu cá gostei do post

21/8/08 12:31 da tarde  
Blogger Belogue said...

eu cá já gostava. pensava é que o pessoal lá não ía gostar.

25/8/08 3:34 da manhã  

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