- ars longa, vita brevis -

hipócrates

antes e depois ou “ah-ah, encontrei-te seu malandro” ou como “bem podem dizer que este trabalho de Credi tem semelhanças com a Venere Pudica, mas eu acho que é com a Vénus do “Nascimento de Vénus” de Botticelli. A Vénus de Credi foi encontrada na villa de Cafaggiolo, uma residência dos Médici, só em 1869 e tem todo o aspecto de trabalho inacabado, até porque a pele da Vénus é tão transparente que só pode indicar que o artista não teve tempo de retocar e portanto, não passou da “primeira de mão” (estava a tentar evitar esta expressão, mas não consegui). O quadro de Credi ganha no entanto vantagem quanto ao título, uma vez que o nascimento da deusa não é o momento retratado por Botticelli. Hesíodo descreveu o nascimento de Vénus como o momento em que a deusa emerge da espuma das águas, depois de Cronos cortar o pénis de seu pai Úrano e atirá-lo ao oceano. Botticeli pinta o momento em que a deusa chega a terra. A deusa do amor, uma das primeiras figuras não bíblicas na arte italiana tem tratamentos diferentes por parte de Credi e Botticelli. Apesar de contemporâneos, Botticelli tem uma linha mais livre e harmoniosa o que faz com que a figura ganhe animação própria. Lourenzo Credi por seu lado prefere a linha calculada e estática. Veja-se o exemplo do braço dobrado: na interpretação de Botticelli o cotovelo é agudo, o braço e o antebraço longos e elegantes e a mão repousa sobre o peito, cobrindo-o mas com os dedos espaçados entre si. Toda a gente sabe que é assim que uma mulher “tapa” o peito com o mínimo de delicadeza. No caso da Vénus de Credi a mão está completamente fechada e mesmo assim, não tapa o mamilo!:"

Sandro Botticelli
The Birth of Venus (pormenor)
c. 1485
Galleria degli Uffizi, Florença


Lorenzo di Credi
Venus
1493-94
Galleria degli Uffizi, Florença