- não vai mais vinho para essa mesa -

- eu não quero contentar-me, é só isso. Se soubesse dos exemplos que conheço de gente que vai ao engano. Eu compreendo que uma relação é sempre um risco, que nunca ninguém sabe o que espera do outro lado e que se ninguém arriscar, então bem podemos abrr mais fábricas de baralhos de cartas. Mas não quero ter uma má relação. Não posso. Não mereço. Não quero e acabou.
- eu compreendo. Aquilo que quer é difícil, é caro. É como querer ter um Mercedes. Aquilo que você quer de uma relação é um Mercedes, mas não tem dinheiro para um Mercedes. Então tem, a meu ver, duas hipóteses: ou se mete num Peugeot. Tem algum Peugeot?
- carro?
- sim.
- não.
- ok, então não estou a ofendê-la.
- não, não está.
- ou se mete no Peugeot e vive frustrada porque não é peugeot que quer, quer o Mercedes e não o tem. Ou então anda a pé. Feliz e contente, mas anda a pé. Assume que quer o Mercedes, que não o tem e que vai fazer tudo para o ter. mas que por opção anda a pé. E tem de se sentir bem com essa opção.
- humm...
- …
- …
- …
- …
- …
- já decidi.
- tem a certeza? Não quer pensar mais?
- calma, eu sei o que quero. Não é uma coisa que já não sentisse há muito tempo. Não é como se isto fosse uma novidade.
- ….
- vou andar a pé.
- tem a certeza?
- sim.
- claro que a sua decisão não é imutável. Às vezes há muitos peugeots que se transformam em Mercedes.
- E muitos Mercedes que vai-se a ver, nunca o foram.
- sim…
- Temo já ter sido o Peugeot de alguém.
- Pode ter acontecido…
- Não queria nada sentir isso…
- Mas alguém pode já ter sido o seu Peugeot.
- Pois…
- …
- Vou andar a pé. É uma escolha. Não será pior do que aquilo que já é.
- Sim, e nada invalida a procura de outros… modelos.
- não. Um Mercedes é um Mercedes e eu não posso contentar-me com menos. Olhe bem para a vida da maior parte das pessoas. 80% daquilo que fazemos é obrigatório, ou uma porcaria, ou uma formalidade ou o acaso e não fruto de uma decisão. A maior parte das pessoas sofre desgostos amorosos com a cadência das estações do ano. Iniciam relações pela Internet. Com abreviaturas e tudo.
- com abreviaturas… essa é boa!
- sim, é verdade. Não me posso contentar. Já tenho 80% de contentamento. Temos todos. Eu sou gira, gosto do meu corpo, sou inteligente e culta. Sou um home-run. Em linguagem de baseball.
- não conheço muito.

- eu também não, mas achava que ficaria bem aqui.