segunda-feira, novembro 19, 2007

- não vai mais vinho para essa mesa -
A pulseira e … mais qualquer coisa que não se relaciona em nada com a pulseira.
Tinha no pulso esquerdo uma daquelas fitas do Sr. Do Bonfim ou de um Sr. Qualquer de nome semelhante, dignitário de muita esperança quando, sexta-feira passada a pulseira rebentou. Ninguém acredita nas pulseiras, mas quando um amigo ou familiar vem com uma, não hesitamos em embarcar na tradição e pedir os três desejos da praxe ao ritmo dos nós que são dados na fita. A minha era vermelha. Rebentou na sexta e embora não me lembre bem dos desejos pedidos (foi há muito tempo, talvez há 3, 4 anos), sei que não se realizaram. É claro que se me derem outra voltarei a pedir três desejos (“paz no mundo” está fora de questão, contratem o génio da lâmpada) e talvez até sejam os mesmos. Não posso é esperar que três nós, um beijo no bolo de aniversário, trincar as velas de anos e uma estrela que passa (que até pode ser poeira cósmica…) me dêem o que quero. E o que eu quero é simples de dizer, difícil de alcançar.
E aquela cidade em especial lembra-me o quão difícil é de alcançar o que se pediu na pulseira. Porque as pessoas são frias e falam connosco como se fôssemos de outro planeta quando na realidade separam-nos os quilómetros e a benesse de ter tudo à mão. Ignoram o "resto do país". Estávamos numa sapataria, a minha companhia procurava desesperadamente umas botas, a mim enfadava-me aquele entra e sai de loja, o consumismo desenfreado, natalício e fora de horas, o frio também não estava a ajudar, o lábio rachado muito menos, a pulseira rebentada era um peenúncio que não me impedia no entanto de cair numa certa melancolia entre discussões sobre a pele, a cor e o preço. Não, eu estou atenta às solicitações, mas longe. Respondo com convicção e verdade, mas estou longe. E isso é mais cansativo. Pois andávamos nós por lá quando num momento de descanso, enquanto a companhia procurava informações sobre mais um par, e no rádio ouve-se a notícia de um acidente rodoviário por aquelas bandas. Várias exclamações, "c'ó horror", "isto é terrível, pecébe?" dedicadas à notícia que nem sequer merecia honras de abertura. Mas quando o horror se estende a outras áreas do país, o burburinho de fundo cobre o horror que é o resto do país. Nem as lojas de roupa interior nem as de produtos de SPA para casa escapam. "Olhe, experimente esta fragância de figo, vai adorar. Coloque isto na água do ferro e engome assim.", "pois, mas é para oferecer e não queria oferecer nada que obrigasse a pessoa a engomar, percebe... é como oferecer um passe-vite", "você tem piada, mas cheire", "shit" (penso eu), "é fantástico, não é?", "não gostei". "ah você não sabe o que é bom. faz-me lembrar a casa da minha avó... tinhamos uma figueira 'inórme'... é tal e qual", "não sei, não sei qual é o cheiro da figueira.", "não sabe, ai você não sabe o que perde. era uma casa antiga, de família...", "pois, mas eu nunca comi um figo fresco sequer.", "ai que engraçada que você é" (por esta altura já achava que o senhor me tomava por uma aborígene e tinha a certeza que mordomia não era senhoria.