Semprá'prender
[1] O Van Gogh de Yasuda
Em 30 de Março de 1987 a leiloeira Christie's levou a leilão um quadro atribuído a Van Gogh relativo à série dos girassóis (desta feita, 14 girassóis numa jarra), quadro esse que atingiu um valor recorde, tendo sendo adquirido pela empresa Yasuda, especialista em seguros. Desde o momento do seu leilão, a autoria da obra foi colocada em causa. Os peritos dizem que este Van Gogh é quase de certeza falso por várias razões: nunca foi mencionado pelo pintor nas cartas escritas ao seu irmão Theo (escreviam-se várias vezes por semana e Van Gogh contava a Theo todos os seus avanços, as obras produzidas, etc), é o único desta série que não está assinado e coloca também questões técnicas que não domino. As comparações entre o Van Gogh de Yasuda e os Van Goghs da National Gallery em Londres e do Van Gogh Museum em Amesterdão (já que estas obras se referem igualmente a 14 girassóis) podem ser vistas pelas cores. As três pinturas são muito semelhantes. A da National Gallery foi adquirida pela instituição inglesa directamente à família Van Gogh e a que se encontra no Museu Van Gogh em Amesterdão está na posse da família Van Gogh já que o Museu, cedido pelo estado holandês, é gerido por esta.
Para resolver este imbróglio seria necessário juntar as três obras de arte no mesmo espaço e tempo. O Museu Van Gogh no entanto não parecia disposto, até ao ano 1999, a dar resposta à questão. Nesse ano foi concluída a ala Kurokawa (Kurokawa Wing), nova ala do Museu Van Gogh em Amesterdão, e que teve apoio financeiro da... Yasuda Fire & Marine Insurance Company Ltd (ver aqui). Após isso, em 2002, os três quadros foram expostos em conjunto no Museu Van Gogh e a autenticidade dos girassóis de Yasuda assegurada por experts do próprio museu holandês.
[2] O caso Modigliani (et al.)
Durante anos, Dimitri Roybolovlev, presidente do AS Mónaco comprou arte a um dealer chamado Yves Bouvier, responsável pela Black Box (se deu um documentário… é basicamente um espaço em Genebra onde as obras de arte "repousam". São obras pertencentes a privados que as querem longe da vista do público, ou obras ilegalmente transacionadas - como frescos roubados de Pompeia ou despojos da guerra na Síria, Líbia e Iémen - ou ainda obras usadas para lavagem de dinheiro. Enfim, tudo boas e decentes pessoas). Bouvier está pois numa posição privilegiada: enquanto responsável pelo Geneve Freeport (a tal Black Box), sabe o que possui cada uma das pessoas que ali deixa as suas obras de arte e enquanto dealer e conselheiro propõe a Roybolovlev obras de arte que conhece bem e mesmo algumas que não se encontram à venda. O que ele lucra com isto? Uma parte da venda. Mas como Roybolovlev é um homem que quer pertencer ao clube de grandes colecionadores, não tendo no entanto o conhecimento para transacionar obras de arte, confia que os valores apresentados por Bouvier são justos. Paga por isso avultadas quantias por obras que não justificam esses valores, uma vez que neles está incluída a escandalosa comissão de Bouvier. Exemplo: Bouvier comprou um Klimt por 127 milhões de dólares e vendeu-o a Roybolovlev por 186 milhões de dólares. O mesmo se passou com um Leonardo da Vinci e com um Modigliani que Bouvier comprou ao colecionador Steve Cohen. Um dia, num jantar, Roybolovlev sentou-se ao lado do conselheiro/dealer do colecionador Steve Cohen. Palavra puxa palavra e Roybolovlev fala sobre as suas última aquisições. Ao falar do Modigliani, Sandy Heller (o dealer de Steve Cohen) diz que a sua última venda também tinha sido um Modigliani. Tratava-se do mesmo Modigliani e o empresário russo ficou assim a saber por quanto o quadro havia sido comprado por Bouvier e por quanto este lhe havia roubado na comissão.
[3] A Oriente nada de novo
Esta história é contada no meio (não é "in media res", mas antes no "meio artístico"). Terá algum fundo de verdade, mas não tenho como prová-la, uma vez que a minha investigação não me permitiu estabelecer (e provar) ligações entre as partes. Não sei se há muito ou pouco tempo um banco japonês se ofereceu para restaurar uma pintura do artista norueguês Edvard Munch. Ao que parece, o interesse dos japoneses por Munch levou-os a participar nas obras de ampliação do Museu Munch em Oslo, museu esse que carecia há muito tempo de intervenção. Não obstante o pedido dos noruegueses, os seus governantes não estavam pelos ajustes e não pretendiam gastar dinheiro com o edifício. Foi aí que entrou uma empresa japonesa (Idemitsu Petroleum Norge) como mecenas do museu, o que fez com que este emprestasse a Tóquio cerca de 60 pinturas de Munch para uma exposição no Tokio Metropolitan Art Museum. Mas não era esta a história que queria contar. Bom, é sabido que os bancos possuem colecções de arte. No Japão, o tal banco ofereceu-se para patrocinar o restauro de uma pintura de Munch. Ao fazê-lo adquiriu isenções e benefícios fiscais, mas ganhou algo mais importante. A pintura restaurada valorizou no mercado de arte. E por arrasto, as outras obras do mesmo pintor viram o seu valor aumentar. Acontece que este banco tinha de facto na sua colecção um grande número de trabalhos do artista em causa e por isso a sua acção não foi propriamente filantrópica. O banco procurou valorizar os seus bens através de uma acção que lhe garantia não só a admiração pública, mas também vantagens fiscais. Desconheço se vendeu as obras - agora por um preço mais elevado - mas a jogada foi boa.
Durante anos, Dimitri Roybolovlev, presidente do AS Mónaco comprou arte a um dealer chamado Yves Bouvier, responsável pela Black Box (se deu um documentário… é basicamente um espaço em Genebra onde as obras de arte "repousam". São obras pertencentes a privados que as querem longe da vista do público, ou obras ilegalmente transacionadas - como frescos roubados de Pompeia ou despojos da guerra na Síria, Líbia e Iémen - ou ainda obras usadas para lavagem de dinheiro. Enfim, tudo boas e decentes pessoas). Bouvier está pois numa posição privilegiada: enquanto responsável pelo Geneve Freeport (a tal Black Box), sabe o que possui cada uma das pessoas que ali deixa as suas obras de arte e enquanto dealer e conselheiro propõe a Roybolovlev obras de arte que conhece bem e mesmo algumas que não se encontram à venda. O que ele lucra com isto? Uma parte da venda. Mas como Roybolovlev é um homem que quer pertencer ao clube de grandes colecionadores, não tendo no entanto o conhecimento para transacionar obras de arte, confia que os valores apresentados por Bouvier são justos. Paga por isso avultadas quantias por obras que não justificam esses valores, uma vez que neles está incluída a escandalosa comissão de Bouvier. Exemplo: Bouvier comprou um Klimt por 127 milhões de dólares e vendeu-o a Roybolovlev por 186 milhões de dólares. O mesmo se passou com um Leonardo da Vinci e com um Modigliani que Bouvier comprou ao colecionador Steve Cohen. Um dia, num jantar, Roybolovlev sentou-se ao lado do conselheiro/dealer do colecionador Steve Cohen. Palavra puxa palavra e Roybolovlev fala sobre as suas última aquisições. Ao falar do Modigliani, Sandy Heller (o dealer de Steve Cohen) diz que a sua última venda também tinha sido um Modigliani. Tratava-se do mesmo Modigliani e o empresário russo ficou assim a saber por quanto o quadro havia sido comprado por Bouvier e por quanto este lhe havia roubado na comissão.
[3] A Oriente nada de novo
Esta história é contada no meio (não é "in media res", mas antes no "meio artístico"). Terá algum fundo de verdade, mas não tenho como prová-la, uma vez que a minha investigação não me permitiu estabelecer (e provar) ligações entre as partes. Não sei se há muito ou pouco tempo um banco japonês se ofereceu para restaurar uma pintura do artista norueguês Edvard Munch. Ao que parece, o interesse dos japoneses por Munch levou-os a participar nas obras de ampliação do Museu Munch em Oslo, museu esse que carecia há muito tempo de intervenção. Não obstante o pedido dos noruegueses, os seus governantes não estavam pelos ajustes e não pretendiam gastar dinheiro com o edifício. Foi aí que entrou uma empresa japonesa (Idemitsu Petroleum Norge) como mecenas do museu, o que fez com que este emprestasse a Tóquio cerca de 60 pinturas de Munch para uma exposição no Tokio Metropolitan Art Museum. Mas não era esta a história que queria contar. Bom, é sabido que os bancos possuem colecções de arte. No Japão, o tal banco ofereceu-se para patrocinar o restauro de uma pintura de Munch. Ao fazê-lo adquiriu isenções e benefícios fiscais, mas ganhou algo mais importante. A pintura restaurada valorizou no mercado de arte. E por arrasto, as outras obras do mesmo pintor viram o seu valor aumentar. Acontece que este banco tinha de facto na sua colecção um grande número de trabalhos do artista em causa e por isso a sua acção não foi propriamente filantrópica. O banco procurou valorizar os seus bens através de uma acção que lhe garantia não só a admiração pública, mas também vantagens fiscais. Desconheço se vendeu as obras - agora por um preço mais elevado - mas a jogada foi boa.
1 Comments:
Eh... Gente a fazer dinheiro com a arte. E esta, hein?
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