detesto o meu corpo. desde os 15 anos, pelo menos, que detesto o meu corpo e desde aí que venho a tentar transformá-lo em algo de que me possa orgulhar. penso sempre que vai melhorar, mas não. cada dia descubro mais uma coisa em que o detesto. cada dia essa coisa fica em evidência quando passo por miúdas mais novas que eu, miúdas que têm as curvas no sítio certo. às vezes quando tomo banho, subo para a beira da banheira para ver o meu reflexo no espelho e com a raiva de ver aquilo que ele me devolve, agarro a carne até ela ficar marcada. talvez seja um sacrilégio (é certamente, e muita gente me irá julgar pela minha futilidade. ou nem tanta gente já que ninguém lê o blog e essa é uma das razões para poder fazer esta catarse) escrever e dizer isto acerca do próprio corpo quando ao mesmo nada falta. nunca sofri nenhuma amputação, não tenho cicatrizes, não tenho deformações. a minha insatisfação com o meu corpo passa pela incapacidade dele - devido à forma e compleição - de me permitir a afirmação quer como mulher quer como pessoa capaz. sinto-me que me julgam por ele: ele infantiliza-me e por consequência, quem me olha de alto a baixo, acha-me menos capaz de pensar, de ter opiniões e desejos, saneia-me a iniciativa, julga-se no direito. Um dia perguntei ao psiquiatra se alguma das pacientes dele, após recuperarem peso, tinha manifestado o seu desagrado com o corpo. ele disse-me que não. mas eu sinto-o todos os dias.
5 Comments:
Yoga, Pilates & PT(gym) -> It works on shapping the body. :D
aposto que está melhor :)
abraço :)
António :)
Olá Whithoutshape:
Daqui quem lhe fala é a Shapeless. Bem vindo aos AA: Amorfos Anónimos. De facto "The mind is more important", mas mesmo isso já não é o que era! A produção requer tristeza e afastamento da vida quotidiana; ou seja, uma patologia vivida no meio do monte. E eu agora já não tenho peso para patologias...
Olá António (tinha escrito Natónio):
Tem dias... O peso está bem. Mas o resto... enfim, teríamos de conversar. Um abraço
Vou tentar escrever coisas boas (com "sustânça")
Suponho que não há nada a fazer. Eu às vezes também tenho momentos desses. Mas não há nada de errado com o meu corpo (pelo contrário!), deve ser só a cabeça, mesmo.
(E nem vale a pena ir ao médico, já sei o que me vai dizer. Precisava era de recomeçar a tomar aquele medicamento...) Estou cheio de sono, Ju. Acho que me vou deitar
(hoje tive uma má notícia: descobri que quando mudei de casa perdi alguns livros, devem ter caído de um dos caixotes, durante o transporte. Descobri o título de 3 desses livros e posso tentar repô-los mais tarde, mas o meu problema são aqueles cuja perda desconheço porque não me recordo deles. Terão sido poucos, serão muitos? Esta incerteza mata-me, e no entanto os livros eram inúteis: ou porque os li há muito tempo e já não me lembro deles, ou porque nem sequer os li. Hoje acabei de ler uma novela curta de Henry James, O Desenho no Tapete. Por coincidência, conta uma história semelhante, de alguém que fica obcecado com um pedaço de informação que desconhece e que, agora, nunca poderá vir a saber. A única consolação que tem é que a sua inquietação contagiou outro infeliz, que agora se encontra no mesmo estado).
bju
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