- o carteiro -
porque eu/nós merecemos
na segunda feira fui ver a ante estreia d'Os Maias. já estava marcado e lá fui eu, "sem poder com uma gata pelo rabo". salvo seja! (tendo em conta as circunstâncias esta expressão não foi muito feliz, reconheço). A propósito d'Os Maias, deixo-vos aqui um apontamento pertinente. Não tenho "Os Maias". É uma daquelas falhas monumentais na nossa biblioteca, mas só passível de ser corrigida quando nada mais urgente surgir. É que quando dizemos "falha monumental", até parece que vai cair o carmo e a trindade. Fui por isso à biblioteca buscar um exemplar para ler umas coisinhas que me interessavam... às vezes uma pessoa tem destas coisas. Só quando cheguei a casa é que vi a boa ***** que tinha trazido. Era uma edição da Book It. A Book It está para a edição de livros como a Ryanair para os transportes aéreos ou a Primark para os trapos: é barato e dá para o gasto. Só que mesmo sendo a coisa barata, há um mínimo de fidelidade, de coerência e de (e isto aqui é que é importante) cultura geral. Quem fez a capa d'Os Maias editada pela Book It colocou duas personagens vestidas com trajes do início do século XIX (ela de vestido com corte estilo império, mangas bufantes, tecido esvoaçante, ele como um dandi, com as golas sobre o rosto e calças justas na perna. Neste tempo, vigorava o estilo império, ligado ao Neoclassicismo. As roupas parecem de grande ingenuidade como se todos estivessem a entrar ou a sair do Éden onde se deve viver com pouca roupa. isto deve-se ao facto de a europa ter atravessado aí uma vaga de calor ). Ora o romance de Eça passa-se na segunda metade do século XIX, a partir de 1875, se não me engano. Parece insignificante, mas nessa altura a moda era outra, muito diferente. Os vestidos, que antes eram muito armados por causa das crinolinas, tornaram-se menos volumosos graças à substituição destas pelas anquinhas. Ficamos com a sensação que quem fez a capa leu o sub-título "Episódios da Vida Romântica" e vai daí, sem mais nada, toca a colocar um um par romântico à saída de um tempo romântico.
Como diria o outro: mas será que eu assei a pomba do Espírito Santo?
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