segunda-feira, abril 11, 2011

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou "o feitiço virou-se contra o feiticeiro" ou como "não sei se acham, mas eu cá achei a segunda imagem parecida com a primeira" ou como "estou com muito sono por isso não sei como vai sair este post". O primeiro, Otto Dix (detesto as pinturas dele e do George Grosz) foi um dos representantes da Nova Objectividade, um movimento artístico que surgiu na Alemanha por volta dos anos 20. E o que propunha a Nova Objectividade?, perguntam vocês. Perguntam bem porque se não fosse a vossa pergunta não teria ido procurar a resposta. Apesar de eu (já) não acreditar no progressivo desenvolvimento da arte com vista a um aperfeiçoamento - isso seria utópico uma vez que o progresso não é infinito e nem tudo é favoravelmente progressivo, às vezes os tempos nem regressivos são. são apenas aquilo que são -, tenho que admitir que o nome "Nova Objectividade" só poderia existir se sucedesse à antiga objectividade. Portanto... algures na linha do tempo da história dos movimentos artísticos (também não concordo totalmente com isto) existiu uma objectividade. Este movimento propunha por isso uma focalização, talvez mesmo um regresso ao realismo após um período que não foi realista. E que período foi esse? O Expressionismo. Era de facto uma época propícia a uma reflexão desapaixonada visto que a Europa tinha saído de um guerra, estava a recuperar, e em breve iria envolver-se em outra. Havia demasiadas coisas "reais" para serem interpretadas segundo os sentimentos do artista. Os artistas passaram a ser mais pragmáticos, mais objectivos - desculpem o termo. Focaram-se na máquina (como haviam feito os Futuristas), na tecnologia, nos acontecimentos sócio-culturais da época e no optimismo de que o pós-guerra era portador. Em termos de produção artística este movimento originou duas tendências. Uma delas era representada pelos pintores acima referidos: Otto Dix e Grosz e outra por nomes como Schrimpf. Esta última preferia os temas naturalistas que eram de certa forma uma maneira de expressar o positivismo da época (embora também o Impressionismo tivesse usado a natureza e estivesse acima de tudo a denunciar com ela a paz podre vivida naquele tempo). Dix pintava os temas relacionados com a sociedade alemã, uma sociedade forjada nos cafés e nas tertúlias, aberta a homens e mulheres, mais permissiva e até um pouco neurótica, histriónica.

Da mesma forma August Sander fotografava os excluídos alemães. Tanto do lado de Dix como de Sander, ainda que de formas diferentes, a tentativa é de retratar pessoas que fossem o reflexo da sociedade alemã. O que aconteceu com Sander foi que a ele, talvez pela colagem à realidade de que a fotografia é portadora, os seus retratos foram fortemente criticados pelo regime nazi. O Homem Novo era um homem alto, bonito, loiro, olhos claros, músculos definidos, limpo, apresentável e inacessível. Os retratos de Sander são tudo menos isso: fotografa velhos, crianças, personagens de circo, trabalhadores da construção... Mas a coisa correu mal. Para além do seu livro - onde fazia a compilação do retrato de alguns dos seus conterrâneos, Sander também o filho morrer graças a outros ideais. O filho de Sander, Erich era apoiante do partido comunista. Apesar de não se identificar com esses valores, Sander deixou que o filho e o partido usassem a sua máquina para imprimir propaganda anti-nazi. No entanto os folhetos foram descobertos e o filho de Sander foi preso. Pouco antes de expirar o prazo de prisão Erich morreu. A fotografia de uma mulher a fumar (algo que o partido nazi abominava) parece-se muito com a pintura de Dix.

Otto Dix
Portrait of the journalist Sylvia von Harden
1926
Centre Georges Pompidou, Paris

August Sander
Secretary at West German Radio in Cologne
1931
Metropolitan Museum, Nova Iorque

5 Comments:

Blogger João Barbosa said...

notável! bom texto

13/4/11 7:51 da tarde  
Blogger alma said...

Não conhecia o Sander, adoro retratos
(a ignorancia é o meu mundo LOL)

15/4/11 12:18 da tarde  
Blogger AM said...

eu adoro a objectividade
a nova e a velha
é comós reguengos e os montemor (e essas terras todos do nosso Portugal com terras "antes & depois"...)
e também gostei da posta

16/4/11 6:04 da tarde  
Blogger Belogue said...

Caro João:
pô, num fáiz assim queu fico sem jeito!

Cara Alma:
Eu tb não conhecia o Sander, mas ele apareceu e olhe... fisguei para o Belogue.

Caro AM:
eu cá não gosto muito... é muita... objectividade. É demasiada realidade para um movimento artístico só. Na arte porque na vida ainda estou na fase que gosto das verdades.

26/4/11 10:03 da tarde  
Blogger Belogue said...

fuck, não consigo fazer um comentário de jeito

26/4/11 10:04 da tarde  

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