terça-feira, março 08, 2011

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

No dia e hora em que escrevo este post, a alergia ataca-me fortemente. tenho o pingo ao nariz e sinto-me febril. assim, se o post não for grande coisa, desde já desculpem-me.

agora que estou a estudar a arte medieval percebo que cada vez gosto mais desse período e que nem a obrigação de ler a Bíblia tornam a tarefa penosa porque, vendo bem, não é uma obrigação. descobrimos ao longo destes tempos de Belogue coisas importantes pois foi no início da arte paleocristã, no início do milénio passado que a religião cristã começou a ser construída. existem, por exemplo, nomes gregos para as posições em que a Virgem Maria é retratada em Maestas (em majestade). são emitidas pela bíblia, directrizes quanto aos alimentos a consumir e os que devem ser eliminados da dieta do ser humano. entre o que era preconizado os teólogos destacavam a necessidade de os homens comerem menos alimentos que pudessem constituir uma tentação da carne. uma das formas preferidas para retratar estas tentações era o talho que, durante o século XVI, não era apenas uma natureza morta, mas também a forma de alertar para a crescente materialização que este século viu surgir. o quadro de Carracci é quase uma encenação: primeiro porque se chama a loja do talhante (e não talho e como tal, tem uma montra. mais do que um talho, é uma loja) e depois porque as personagens estão viradas para fora, para o público como se estivessem no teatro. do lado direito um dos ajudantes do talho segura uma carcaça de vaca, outro, ajoelhado no chão, encontra-se prestes a matar uma ovelha e o terceiro prepara uma balança, ajustando os pesos. o talhante retira um gancho com carne e no fundo, atrás do talhante, espreita uma mulher que olha para a carne enquanto todas as personagens posam em primeiro plano.

este quadro e este antes e depois são apenas um dos muitos antes e depois que o tema do boi esquartejado suscitou. já em 2006 tínhamos postado aqui este tema que não era só uma forma de natureza morta (como no caso de Rembrandt), nem apenas uma forma crua de expressionismo (caso de Chaim Soutine) ou de mostrar a visceralidade da performance (Hermann Nitsch). era também, ou pelo menos serviu de inspiração para Dai Rees conceber as peças que estão ali em baixo e que, juntamente com outras fizeram parte da exposição Aware: Art Fashion Identity na Royal Academy of Arts. esta exposição tinha como objectivo mostrar como os artistas e os designers entendiam a roupa, não como cobertura do corpo, mas como forma de comunicar a nossa identidade. aliás Hussein Chalayan e Yinka Shonibare conceberam modelos propositadamente para esta exposição.
Annibale Carracci
Butcher's Shop
1580
Christ Church Picture Gallery, Oxford

Dai Rees
Carapace Triptych The Butchers Window

2 Comments:

Blogger João Barbosa said...

desconhecia este quadro. consigo, sempre a aprender :-)

8/3/11 5:15 da manhã  
Blogger Belogue said...

Obrigada. Não é um quadro, é uma... jigajoga. É uma instalação/escultura feita com tecidos por um designer de vestuário.

12/3/11 12:01 da manhã  

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