quarta-feira, agosto 05, 2009

- o carteiro -


If The Devil Wears Prada, Bento wears IGMR:
Existe uma razão para a paleta escolhida, que já era diferente no ritual romano relativamente ao ritual bizantino e continua a ser em comparação com as cores escolhidas para o ritual da Igreja Ortodoxa Russa. O ritual eucarístico do Anglicanismo, semelhante no esquema de cores romano, influenciou o Luteranismo e os metodistas. Já a Igreja Copta tem um esquema de cores mais simples. São cinco as cores usadas nos Ofícios romanos: branco, vermelho, violeta, verde e rosa. No post incluí o dourado, mas excluí o preto por não recordar ver o preto a ser usado na eucaristia. Estas cores são aplicadas no vestuário eucarístico para enfatizar as características particulares do mistério que está a ser celebrado. O mistério, para quem não "fez a escolinha toda" é uma das áreas em que se divide a acção da Igreja (Mistério da Educação, Ecuménico, da Esperança, da Fortaleza e da Eucaristia).
O dourado é usado durante todo o ano litúrgico. Digamos que é um básico, substituído nas ocasiões especiais pela cor indicada pelo IGMR. Neste quadro de Eustache Le Sueur, o celebrante usa uma casula, sobre a estola (aquela espécie de lenço) e sobre a alva (a veste branca de baixo) dourada. Se olharmos para a direita do sacerdote vemos o baldaquino coberto por um pano verde. Não há qualquer cor autorizada ou determinada para o baldaquino; ou seja, não há nada previsto neste sentido, no entanto há algo que não está correcto nesta interpretação do episódio, uma vez que o verde não é a cor do Advento. A bola de fogo por cima da cabeça do padre indica-nos que estamos no tempo do Advento, pois este episódio é situado aí na Legenda Dourada. O que está escrito é que enquanto São Martinho de Tours rezava missa uma bola de fogo surgiu sobre a sua cabeça como manifestação do divino. Esta era também uma representação do episódio pelo qual o santo ficou conhecido, a Lenda de São Martinho, pois após ter cedido a capa ao pobre que lhe pediu agasalho, o Sol começou a brilhar. Um pouco mais atrás de São Martinho de Tours está um subdiácono de veste violeta, essa sim, a cor litúrgica para o Advento pois significa expectativa. O gesto que o subdiácono faz serve para esconder ou tapar dos olhares do fiéis a patena onde está a hóstia sagrada, segundo o determinado para a missa Tridentina.

Eustache Le Sueur
The Mass of Saint Martin of Tours
1654
Museu do Louvre, Paris
O rosa (coisa "mai" linda!) é usado apenas no ritual romano e só no terceiro Domingo do Advento e no Domingo Gaudete ("Gaudete" vem da leitura que se faz nesse Domingo: "Alegrai-vos pois o Senhor está próximo"); também conhecido por Domingo Mediano por marcar a metade da Quaresma. Tanto numa ocasião como na outra é vista como uma cor de celebração e de espera pois antecede grandes momentos. No primeiro caso antecede o Nascimento de Cristo e no segundo caso antecede o fim de um período de luto e reflexão. É caso para dizer que a Igreja tem o armário cheio e não usa nada. Acho que você, Bento está a precisar de um Tim Gunn.


Apesar do verde ser a cor da esperança e do início de uma nova vida a verdade é que é usada na maior parte das vezes no tempo comum litúrgico.
Romanino
The Mass of Saint Apollonius
1520-1525
Santa Maria Calchera, Brescia

O violeta, que no ritual ambrosiano é quase preto indica penitência, espera e luto. É portanto um básico com várias finalidades dependendo do acessório. É o que se chama um LBT (little Black Dress).


O vermelho (sei que as pessoas de bem dizem "encarnado", mas eu digo "vermelho") é a cor que representa o sangue da vida de Cristo e também da presença do Espírito Santo que torna possível o testemunho da Fé. É a cor usada no Domingo de Ramos, no dia de Pentecostes (dia da descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos. Acho que foi a segunda vez que os Apóstolos se reuniram após a morte de Jesus.) e na Sexta-feira Santa. Também é a cor usada para celebrar os dias dedicados aos santos apóstolos, aos santos mártires e aos evangelistas. Nesta pintura de Guido Reni vemos São Filipe de Néri ajoelhado e usando uma casula vermelha num sinal visível da presença do Espírito Santo. No braço que se encontra mais perto de nós vemos um pedaço de tecido pendurado do braço do santo, algo que era costume usar na época. A origem deste pano é muito curiosa, pois remonta à Roma Antiga e os princípios de etiqueta praticados nesse tempo. Talvez por serem serventes de Deus os padres usavam, desde a antiguidade, este pano que para os romanos era um guardanapo com o qual andavam sempre. Para os cristãos o pano transformou-se numa espécie de braçadeira identificativa ou símbolo do trabalho executado.

Guido Reni
St Filippo Neri in Ecstasy
1614
Chiesa di Santa Maria in Vallicella, Roma

O branco era a cor da luz e da vida e por isso convinha bem a épocas como a Páscoa e o Natal, embora em minha opinião seja um erro a Igreja Católica ver com muito mais alegria a morte e ressurreição de Cristo do que o seu nascimento. Para os cristãos a Páscoa deve ser a festividade religiosa mais importante do ano litúrgico, mas honestamente, parece-me a mais mórbida. É igualmente a cor usada nas comemorações ligadas a episódios da vida de Cristo, Virgem, anjos e santos (ou seja, toda a gente, excepto Antigo Testamento).


Pierre Subleyras
Mass of St Basil
1743
The Hermitage, S. Petersburgo