- back to black -
Faz-me lembrar as relíquias e A Relíquia do Eça que me fez rir bastante (rir nunca é bastante). Outro livro muito divertido foi "Uma conspiração de estúpidos" de John Kennedy Toole, mas isto não tem nada a ver.
Li há uns tempos que na Idade Média as relíquias eram um negócio e por isso havia relíquias de tudo: santo lenho, o santo cordão umbilical (há pois é!), o santo prepúcio (ah pois é! ao quadrado), o santo feno, o santo sudário, as ânforas da boda de Canã, os santos espinhos da coroa, a santa esponja, a santa lança. Eu acho que só faltam as santas cuequinhas (o paninho púdico com que cobriram o santo, o santo... vocês sabem), o santo chicote (uhhh, que S/M!). As pessoas tentavam com tanta intensidade não ir para o Inferno que se muniam de todas as relíquias. Corriam até anedotas, lançadas principalmente pelos protestantes que abominavam relíquias, que satirizavam indecentemente as relíquias, quem caía no engodo de comprá-las e os panegíricos destas. Fernand de Mély dizia, com graça, que juntos, os espinhos da coroa vendidos como relíquias atingiam os 700. O francês João Calvino dizia, com ironia, que havia por essa cristandade fora 14 pregos do santo lenho e que do santo lenho se deu ao desbarato tantos pedaços que juntos faziam uma arca de Noé. David Hume também conta uma história engraçada sobre o santo sangue de Cristo, uma relíquia cujas gotas se encontram espalhadas por França. Dizia-se que no condado de Gloucester havia um frasco com o sangue de Cristo, mas apenas aqueles que tinham praticado boas acções podiam ser os venturosos e gozar das graças concedidas pela relíquia. Toda a gente acreditava na magia da relíquia, mas a verdade é que esta premissa era manipulada. O frasco tinha dois tipos de vidro: um mais espesso e opaco de um lado e um mais fino e transparente do outro lado. Todas as semanas o frasco era abastecido com sangue de pato (o Santo Pato que a Disney não conhece, mas que fazia uma bela personagem para a BD do Vaticano). Quando o visitante abastado - e por isso bárbaro e avarento - se dirigia até à relíquia, os monges viravam o frasco de forma a que ele visse a parte espessa. O visitante, que não queria arder no fogo do Inferno, desdobrava-se em missas, e contribuições e preces e procissões e mecenato disto e daquilo, indulgências para os que tinha no Limbo e tudo aquilo que a Igreja conseguia sacar até a paciência do visitante se esgotar. Quando este estava a desistir, os monges, lá atrás, rodavam com mestria o frasco e mostravam-lhe o sangue do pato. O pato era ele.
5 Comments:
penso que a Igreja Católica e muitos crentes católicos ainda não aprenderam...
um padre contou-me que teve conhecimento do Santo Ossinho do Pé de Jesus enquanto Menino
Para mim esta é das melhores :)
http://books.google.pt/books?q=joe+nickell&btnG=Pesquisar+livros
Caro João Barbosa:
Segundo diz a Ana, não aprenderam. Mas sabe que trabalhei num sítio que tinha uma relíquia. Das verdadeiras! Dentro de um cofre estava guardada uma mecha de cabelo loiro, um pedaço do hábito e da corda que amarra o hábito (não me lembro do nome), e no busto relicário havia pedacinhos de osso. Era o que o pessoal que ali entrava mais gostava de ver. O mórbido atrai as gentes. Ter uma relíquia é como comprar uma casa com vista para o IP5.
Cara Ana:
para mim também. Ele não conhece ninguém que tenha os Santos Dentinhos de Leite?
Caro Apontador:
Vou pesquisar. Já aqui tenho o Héliogabaldo para ler e depois discutirmos. Se o apontador(a) fôr quem eu penso.
Oie,
Serei breve.
a)Umberto Eco falando do mesmo assunto:
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3466769-EI12929,00-Reliquias+para+o+Ano+Novo.html
Melhor ainda: observe o quadro e o "peruzinho" de Jesus perto daquele facão de abrir roçado.
b)Filme: assista o Santo Bebê de Macon, de Peter Greenway...(acho que é assim que se escreve).
Até a próxima...
Enviar um comentário
<< Home