antes e depois ou como vocês já devem estar fartos de Vermeer e de fotografias de moda. Às vezes fica difícil postar estes "antes e depois" porque a correlação entre as imagens parece estar já esgotada. É claro que não está, mas a busca torna-se mais difícil por a correspondência ser menos óbvia. E como não queremos fazer uns posts "Taschen", mais vale ter um pouco mais de paciência nas buscas e entretanto postar o que é mais evidente. De qualquer forma, um Vermeer e um Steven Klein nunca são de desenhar; nem um nem outro "estão verdes, não prestam". O quadro de Vermeer é muito semelhante a outro quadro do mesmo autor ("Lady Standing at the Virginal"), embora o último seja banhado pela luz de Vermeer. Não sei se já repararam, mas nas pinturas de Vermeer as acções decorrem quase sempre na mesma sala, ou em salas muito parecidas, com uma característica: as personagens estão sempre voltadas para uma janela e a janela é igual (ou muito semelhante) em todas as pinturas. Deixo aqui alguns exemplos que facilmente podem pesquisar e nos quais incluo a referida "Lady Standing at the Virginal": "A Lady and Two Gentlemen"; "A Lady at the Virginals with a Gentleman"; "A Lady Drinking and a Gentleman"; "Girl Interrupted at Her Music"; "Girl Reading a Letter at an Open Window"; "Lady Writing a Letter with Her Maid"; "Officer with a Laughing Girl"; "The Milkmaid"; "Woman Holding a Balance"; "Woman in Blue Reading a Letter"; "Woman with a Lute near a Window"; "Woman with a Pearl Necklace" e "Young Woman with a Water Jug". Vale a pena ver estas imagens: entre elas existe o mesmo canto da sala, a mesma perspectiva e a mesma ideia de que as cores do quadro só têm sentido devido à presença da luz natural, como se o quadro fosse um vitral. No quadro "Lady Standing at the Virginal" a rapariga está de costas para a janela, mas a janela está nos limites do quadro e todo ele é iluminado pela luz que dela advém. Já em relação a este "Lady Seated at a Virginal", vemos que a janela não aparece e talvez por isso o quadro está mergulhado nas trevas. Quer dizer, comparativamente aos outros, a acção decorre na penumbra. Comparativamente com a fotografia, também. A pintura está nas sombras e embora nos seja possível ver todos os detalhes da mesma, o quadro de fundo que cobre a parede ("The Procuress" de Dirck van Baburen. Vão lá ver se não é o mesmo!), anula a indicação de qualquer presença de luz directa e torna negra uma cena que não o é. Note-se também que enquanto os instrumentos musicais estão pintados com todo o pormenor, Vermeer parece ter atalhado no que diz respeito à resolução da cortina. Não tem definição nem pormenor e parece apenas cobrir qualquer coisa que pode não ser uma janela, mas apenas a parede. Se cobre uma janela, qual a razão para a luz do exterior não incidir no interior? E se cobre uma janela, que não é, como vimos, um apanágio nas obras de Vermeer, porque está a cortina tão mal pintada?
O cenário escolhido por Steven Klein é muito mais iluminado e com uma decoração diferente. A própria posição do piano, voltado para o outro lado, poderia ser um motivo para relacionarmos esta pintura com a "Lady Standing at the Virginal". Só que nesta fotografia a Linda Evangelista não está em pé, está sentada tal como nesta pintura de Vermeer. E não sabemos quanto à posição das pernas, mas a expressão facial de alheamento é a mesma. O quadro que cobre a parede de fundo da fotografia apresenta na retratada quase uma rival de Linda Evangelista, não pela beleza (isso é discutível), mas porque está em plano mais elevado, de pé e no plano mais profundo da composição. Sabem que nem sempre o que está em primeiro plano (e isto aplica-se à pintura como a outras áreas), é o mais importante:"
JohannesVermeer
Lady Seated at a Virginal
1673
National Gallery, Londres
Steven Klein
Vogue
Setembro de 1991
2 Comments:
oh sôtôra, ninguém com juízo e bom gosto se cansa de vermeer... tal como não se cansa das suas descobertas de binómios de arte e moda ou arte e arte... idem idem em relação aos seus textos
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não será antes steven meisel?
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por favor, diga-me que está errada e que tenho razão. tive um dia muito comprido e difícil... tenha piedade de mim
não sei se é o caso, mas eu cá gosto de quadros assim, com pedaços "mal" pintados e com pedaços pintados com diferentes "técnicas"
acho que é uma questão de... "liberdades poéticas"
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